SRI JADAY PAYENO - plantador de árvores

             

No fundo, no coração molecular da vida, nós e as árvores somos essencialmente idênticos. 
– Carl Sagan

O metal dos carros, à entrada das casas, refulge. Alguns deles parecem novos. Muitos, de luxo, são de carteiras da classe-média alta. Os donos cuidam deles com esmero. As caixas de metal (como lhes chamo) testemunham do estatuto económico dos seus proprietários, da sua visibilidade e certificado de sucesso. Os veículos, em certas mentes, não representam apenas meios de transporte. Dão brilho ao ego, alardeiam estatuto de prosperidade e prestígio.
Em preocupante contraste, nos canteiros ladeando os preciosos veículos, agonizam plantas por falta de água. Flores e árvores de pequeno porte. Esta evidente indiferença pela Natureza,  chocante e cruel, é como ter um sem-abrigo à nossa porta. Passamos por ele sem ver sede e fome nos seus olhos. Está ali, sentado entre os despojos da sua vida. A sua vulnerabilidade e pobreza não nos incomoda. O mesmo acontece com as plantas às quais sonegamos a existência, por incúria, preguiça e chocante apatia.
Ao contrário deste cenário descobrimos,  com agrado e esperança, Sri Jaday Payeno. É conhecido como Mr. Forest Man of the World porque planta árvores há mais de 58 anos. 
Anda descalço, munido de um machete artesanal. Num cesto de vimes, com alças altas, transporta as minúsculas árvores que planta diariamente. Já cobriu, sozinho, uma vasta área: 22 km2 onde vagueiam tigres, elefantes e búfalos. 
Payeno vive em Majuli, Índia, no estado de Assam. Magmar é a vila principal. Sendo a maior ilha fluvial do mundo, está localizada a Norte pelo rio Subansiri e a Sul pelo Brahmaputra. Há 100 anos cobria uma extensa área de 1000 km2. Devido à erosão, tem vindo a decrescer substancialmente. A ilha perdeu 60% do seu território, estando agora reduzida a cerca de 400 km2.
O impacto negativo na sua população tem sido drástico. Tufani An Sati, um residente de longa data, já mudou de casa 8 vezes. Explica à jornalista Sophie Fouron, no programa The Island Diaries, as vicissitudes a que estão sujeitos por viverem num sítio tão vulnerável e susceptível de um dia vir a desaparecer, caso não haja uma eficaz intervenção humana.
Em oposição ao sortilégio do materialismo sem medida ética do primeiro mundo, e de uma nova cultura que se ufana na defesa dos seus privilégios à sombra de direitos desprovidos de obrigações, Payeno curva-se sobre a terra. Tenta, todos os dias, com esforço e abnegação, plantar as raízes e a consciência de um novo mundo. Este está demasiado sufocado pela incongruente acção dos homens e pela sua incomensurável indiferença.
Estou com Payeno.

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