A nossa bandeira no Espírito Santo

 

Vinte e cinco de julho de 2022 foi um dia histórico – histórico para o Município de Apiacá e para o Estado do Espírito Santo, mas também para a histórica relação entre o Brasil e os Açores. 
Sempre que nasce uma Casa dos Açores, a nossa identidade cultural chega mais longe e fica mais forte.
O Brasil já contava com seis Casas dos Açores: Rio de Janeiro (1952), São Paulo e Bahia (1980), Santa Catarina (1999), Rio Grande do Sul (2003) e Maranhão (2019).
Agora nasceu a sétima Casas dos Açores no Brasil e a 17ª no mundo: a Casa dos Açores do Estado do Espírito Santo.
Nasceu num Estado que ostenta o nome da mais representativa devoção açoriana.
Nasceu num tempo que comemora os 180 anos do povoamento, também açoriano, do Vale de Itabapoana, que lhe serve de berço.
Nasceu da vontade genuína de um grupo empenhado de açordescendentes e amigos dos Açores, graças ao espírito empreendedor e à capacidade concretizadora do seu principal fundador e primeiro presidente, o Dr. Nino Moreira Seródio. 
Ele apresentou-se como neto de açorianos, da família Vieira Seródio, da vila da Povoação, na ilha de São Miguel.
O seu bisavô, Joaquim Vieira Seródio, foi para o Brasil em 1886. Desembarcou no porto do Rio de Janeiro com três filhos. Um deles, o seu avô Jacinto, tinha então apenas dois anos.
Como tantos açordescendentes no Brasil, Nino conseguiu reconstituir a sua árvore genealógica com pesquisa pessoal no Arquivo Regional de Ponta Delgada, quando pisou terra açoriana 126 anos depois a partida do seu bisavô.
Para honrar as suas raízes, iniciou em 2013 o projeto Memorial do Imigrante, no Vale do Itabapoana, onde reside, resgatando a história de uma colonização com forte influência açoriana.
Todos têm por certo que a grande referência histórica que liga o Vale de Itabapoana ao Arquipélago dos Açores é o Padre António Francisco de Mello, natural do concelho do Nordeste, na ilha de São Miguel, que chegou a Bom Jesus em 1899 e aqui permaneceu, como guia espiritual, por quase 50 anos, desenvolvendo o nosso culto comum ao Divino Espírito Santo.
Honrando a memória do Padre Mello, a nova Casa dos Açores nasceu num terreno próprio de cinco mil metros quadrados, a seis quilómetros da divisa com o Estado do Rio de Janeiro, para abranger, institucionalmente, todo o Estado do Espírito Santo, incluindo, especialmente, o histórico Município de Viana, de profunda relação açoriana.
Não haveria melhor forma de comemorar os 210 anos da chegada dos imigrantes açorianos a Santo Agostinho, hoje Município de Viana.
Foi o município brasileiro de Viana que inaugurou o ciclo da imigração europeia para o Espírito Santo, oficialmente em 1813. Há mais de 200 anos. Vieram imigrantes alemães e italianos.
Para reduzir a escassez de mão-de-obra agrícola e ajudar a povoar as margens da primeira estrada que ligaria Vitória e Minas, foram chamados também os açorianos.
Paulo Fernandes Viana, o pioneiro que deu nome à cidade, trouxe dos Açores 53 famílias que contribuíram para o povoamento deste município.
Os açorianos receberam terrenos, casas, ferramentas, carros de bois ou cavalgaduras, instalaram-se nas proximidades do Rio Jucu e iniciaram o cultivo do trigo e arroz, melhorando também as culturas de milho e mandioca, já conhecidas pelos nativos.
Assim nasceu o Município de Viana, oficialmente criado a 23 de julho de 1862 por desanexação de Vitória, há já mais de 160 anos.
É tudo isso, afinal, que representa e simboliza o monumento açoriano inaugurado em 2022 na praça central de Viana.
Ele resgata do passado e projeta para o futuro a contribuição cultural deixada pelos açorianos e ainda hoje sentida na cidade, desde os casarios antigos até à persistente celebração da Festa do Divino.
A sua inauguração foi um momento histórico, emocionante, que preencheu e aqueceu o coração açoriano dos dois lados do Atlântico.
A Praça Expedicionário Jerónimo Leite ostenta agora esta marca pública e perene que regista e celebra a relação bicentenária entre a cidade de Viana e as nove ilhas dos Açores.
Viana – ontem, como hoje e para sempre – também é açoriana!

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Diretor Regional das Comunidades no Governo da Região Autónoma dos Açores. Baseado num texto do seu livro Transatlântico II – Açorianidade & Interculturalidade (2024)