Eleições para a Assembleia da República - Aparências, realidades e riscos de umas eleições essenciais

 

 

Finalmente, lá tiveram lugar domingo as eleições para deputados à Assembleia da República. Eleições muito renhidas, de onde surgiram aparências, realidades e riscos, mormente num ato eleitoral que era absolutamente essencial para a enorme maioria dos portugueses.
Foram interessantes as palavras de Ramalho Eanes, ao redor da razão, ou da sua ausência, na escolha por parte do povo: mesmo quando não tem razão, acaba por ter razão. Ou seja: os alemães, que não terão tido razão na escolha do partido nazi, acabaram por ter razão, embora a um preço dolorosíssimo.
Em boa verdade, a AD – o PSD, claro está – só aparentemente foi um vencedor, porque o que realmente conseguiu foi uma vitória pírrica. De resto, um resultado que pode nem conter um sabor a vitória. Haverá de convir-se que, depois de quanto a grande comunicação social fez em favor da AD, o resultado conseguido foi realmente pírrico. E ainda se desconhece se, de facto, a vitória o é mesmo...
Indubitavelmente, estas eleições viveram, sobremaneira, num ambiente de aparências, como se pôde ver em face dos resultados surgidos, olhados à luz dos comentários do dia-a-dia, mormente no âmbito da intervenção da CNN Portugal, o pior dos canais televisivos neste domínio. Depois daquela sequência de resultados sobre a tendência do voto, o Chega deitou completamente por terra tudo o que se foi por ali divulgando aos portugueses. De resto, este mau comentário tem também vindo a estar presente nos casos dos conflitos na Ucrânia e em Gaza, sempre com a Rússia e Putin a serem vendidos como uns malandrões, e com Netanyah, Israel e os Estados Unidps a passarem quase apoiados nos crimes que vão praticando diariamente no caminho para a solução final dos palestinos.
De modo concomitante, foi sem espanto que nos surgiu aquela notícia dada como provindo da Presidência da República, a cuja luz o Presidente iria fazer tudo para que o Chega não tivesse uma posição na governação do País. Isto, caro leitor, é o supremo no domínio da aparência democrática, e tudo mesmo na cara da Constituição da República. É um interessantíssimo exemplo de como funcionam as democracias ocidentais: um verdadeiro faz de conta... Um faz de conta quase nunca denunciado por uma comunicação social claramente cúmplice deste tipo de realidades. Um dado é certo: um verdadeiro pé na argola... Já sem margem para dúvidas, é hoje possível perceber que Marcelo Rebelo de Sousa está a ser o nosso pior Presidente da III República.
Duas grandes realidades desta noite eleitoral foram a queda estrondosa do PS de António Costa, de parceria com a subida vertiginosa do Chega. Dois acontecimentos que se encontram ligados, suportados numa campanha da grande comunicação social, que tem vindo a fazer do mais ínfimo beliscão do PS um caso de Estado. E também dos mil e um setores hoje claramente manobrados por um conjunto de forças que luta por atingir o poder, controlá-lo, mas sempre com aparência democrática.
Por fim, os riscos que nos surgiram destas eleições. Por um lado, o já evidente caminho para a extinção do PCP, acontecimento que nada tem que ver com a sua tomada de posição em face dos acontecimentos na Ucrânia. E já agora: perante o fim do PCP, terá o PS a coragem de fazer o que fez o PSD com o CDS? Depois, o crescimento exponencial do Chega, que ainda tem algum espaço para continuar a capitalizar na oposição. E, por fim, os riscos para o futuro do PS, que o mesmo é dizer, do Estado Social. São aqui precisas firmeza ideológica, tática política marcada por um objetivo estratégico galvanizador e estruturação de um plano de ação política nacional que vá ao encontro das necessidades essenciais do País e da grande maioria dos portugueses. E já agora: e se o PS vier a ter dois dos deputados que faltam, com os outros dois a caírem no Chega? Certo foi aquele desejo forte do PS de dar já como vitoriosa a AD...