Estamos a ser atirados para uma guerra

 

Num dia destes, como usualmente, voltei a escutar uma intervenção do nosso embaixador Francisco Seixas da Costa, que agora se determinou, através do seu blogue DUAS OU TRÊS COISAS, a esclarecer melhor cinco dos aspetos que tratara naquela intervenção televisiva. Os mais interessados poderão, com vantagem, ler o post do diplomata, intitulado “A guerra e a democracia”. De quanto nos expõe neste seu post, vale a pena refletir nalguns dos seus aspetos, que me parecem ser dos mais importantes.
Assim, o nosso embaixador refere, a dado passo, “que [há] alguns [que] hesitam em dizer alto: a Rússia, até hoje, nunca ameaçou nenhuma fronteira da NATO.” É uma afirmação muito verdadeira e muito oportuna. Aliás, esta guerra, de facto, é entre os Estados Unidos, que criaram as condições para o seu surgimento, e a Federação Russa. Aqueles desejam, há muito, desmantelar a segunda, a fim de poderem explorar as suas vastas e fantásticas riquezas.
Logo de seguida, Seixas da Costa explica que “se a Federação Russa procedesse contra um país da OTAN teria de enfrentar a cláusula de defesa coletiva inscrita no artigo 5° do Tratado de Washington. Ou, para sermos mais claros: teria de haver-se com os EUA”. Muito interessante é o seu designado “mito urbano recorrente”, a cuja luz “se a Ucrânia caísse nas mãos da Rússia, toda a Europa ficaria ameaçada, nenhum país europeu ficaria isento da possibilidade de uma invasão russa”. De um modo simples, que não dispensa a leitura do post já referido: trata-se de uma trapaça constantemente badalada por grande parte dos comentadores de serviço, que lá vão tentando passar esta banha, mas que já quase todos perceberam que é mesmo só isso: banha da cobra. E conclui o nosso embaixador ilustre: “não nos tomem por parvos: não há um mínimo de verdade de que a Rússia seja uma real ameaça militar para o espaço NATO”. A evidência lídima!
Por fim, Francisco Seixas da Costa refere este dado verdadeiramente essencial, mas que merece um comentário: “o governo não pode dar o seu aval a decisões que contribuam para um agravamento de tensões, que possam vir a redundar numa guerra que envolva o país”. Bom, é a pura verdade, mas não deverá ser passível de aplicação no tempo de moral política dos nossos dias. Basta publicitar supostas sondagens, a cuja luz os portugueses apoiam enormemente tudo e umas botas mais, assim Washington o indique publicamente.
Nós tivemos, a este propósito, o que o ministro Nuno Melo nos referiu em Bruxelas – como cidadão apoiava certa medida, mas não falava em nome do Governo...–, logo seguido da prudência do seu colega Paulo Rangel, na Grande Entrevista, seguido de um salto deste à retaguarda mal Washington disse o que agora é lei política.
Um dado é certo, porventura para a compreensão de todos: estamos a ser atirados para um guerra que não nos diz respeito, uma guerra desenvolvida pelos Estados Unidos contra a Federação Russa, e em que o território da Ucrânia vinha sendo o palco das ações clandestinas daquele contra a segunda. E como na democracia dos dias que passam tudo se pode fazer, os portugueses, infelizmente, são o que menos conta. Ainda assim, leia o texto do nosso embaixador.