Tomás Pereira: negociador de tratados entre a China e a Rússia

 

 

Tomás Pereira nasceu em 1645 em São Martinho do Vale, perto de Famalicão, e passou mais de metade da vida na China, tendo morrido em Pequim em 1708. A sua fama como matemático, astrónomo e músico quando vivia em Macau chegou aos ouvidos do imperador Kangxi, que o convidou a visitar a Corte em Pequim. O jesuíta português teve assim acesso à Cidade Proibida e ao próprio Kangxi, o mais longevo dos imperadores chineses e um dos mais brilhantes. Pereira ganhou a confiança do imperador, e este entregou-lhe várias missões, como participar nas negociações com os russos sobre delimitação de fronteiras na Manchúria, a região de origem da própria dinastia Qing. O tratado de Nerchink de 1689 foi negociado em latim - com um jesuíta polaco a ajudar os diplomatas do czar enquanto do lado chinês havia, além de Pereira, um jesuíta francês -  e depois vertido oficialmente não só em latim como em russo e em manchu. Os serviços do português ao longo de décadas impressionaram de tal modo o imperador que este dedicou-lhe um elogio fúnebre: “nada fizeste senão ser diligente e esforçaste-te ao máximo no cumprimento das tuas tarefas. Por natureza íntegro, sem adornos e sem falhas, tu devotaste-te do princípio ao fim e da manhã à tarde. Como a tua lealdade e simplicidade de coração eram de dia para dia mais reconhecidas, Nós vínhamos já há longo tempo a expressar a nossa estima por ti”.

 

* Jornalista do DN. É doutorado em História e autor do livro ‘Encontros e Encontrões de Portugal no mundo’.