Implosões

 

O plebiscito europeu de 9 de junho último, trouxe mais avisos de que algo muito sério está acontecendo com as democracias globalmente estabelecidas.
As intermitentes crises por entre os políticos de todos os quadrantes, contaminam a confiança dos cidadãos e cidadãs em sistemas que produzem cada vez mais políticos mentirosos, ambiciosos, individualistas e gananciosos. 
Com o desenvolvimento, nos últimos vinte anos, das comunicações globais entre todos os cidadãos, o mundo transformou-se numa aldeia, mas os líderes políticos menosprezaram essa fantástica arma democrática. A intercomunicação ativa e instantânea, provocou abertura e intercâmbio de toda a espécie de ideias, confrontos opiniosos e, principalmente, um caudal de informação de tudo para todos. As enciclopédias e os dicionários saltaram para as ruas, tomados pelos povos, ávidos e abertos a toda essa nova era de saber repentino. 
Foi tão aliciante, que logo algumas mentes se prontificaram a usar essa tecnologia a seu favor. Usando o cansaço das massas perante os desaires e escândalos dos sistemas liberais e democráticos, prometendo redenção, com novas forças políticas a reinventarem a velha roda… 
E na mentira bela e bem vestida, com a prosaica conversa cheia de vocábulos rebuscados nos erros alheios, usam o discurso ardiloso e a retórica oca, mas que sabem ser a mais prometedora. Sim, prometem tudo e mais alguma coisa, para apanhar os incautos, os mais desprevenidos, mas também os revoltados contra a sistémica corrupção das virtudes republicanas.
A tolerância democrática, tem permitido que os abusos alastrem o campo dos argumentos dessas extremas. 
Alguém que tenha obstáculos económicos para comprar uns óculos, ou um veterano de guerra com dificuldades de audição, porque os tímpanos foram arruinados na guerra colonial, não há forma desburocratizada de obter com ajuda ou comparticipação das entidades governamentais. Mas alguém que queira mudar de sexo, tem direito imediato a consultas psiquiátricas em Lisboa, com viagem e estadia paga, antes e depois da operação. A própria intervenção cirúrgica é feita através do SNS, portanto à custa do erário público e o custo total desta mudança de sexo, está entre os 80 e os 120 mil euros. Mas, segundo os entendidos, são mudanças apenas estéticas e não tem qualquer função procriadora.
Que alguém se sinta bem num qualquer estado de género e mal por ter nascido do avesso, estará no seu legítimo direito. O problema são todos os outros que se sentem discriminados por não serem ajudados. 
Os idosos, que depois de uma vida de trabalho, vivendo apenas de escassa pensão, têm problemas para uma saúde bocal, dentaduras de jeito ou ainda aparelhos auditivos com mais qualidade. Trata-se de uma melhoria da qualidade de vida justa e legítima.
O desprezo dado aos ex-combatentes das colónias ou ainda a todo o veterano de guerra. As míseras participações do ministério da defesa a todos aqueles que deram o melhor de si para a madrasta nação. E no entanto, todos os capitães d’abril, que igualmente prestaram serviço nas colónias, foram promovidos ao generalato.
Mas o pranto democrático vai ser interrompido nas próximas semanas, durante o desenrolar do EUROPEU24. Aqui, todos os países e diáspora da lusofonia, vão estar concentrados no milagre do futebol, com alguns comentadores a pensar que já ganhamos antes mesmo da bola rolar.
No país da complacência frustrada, da condescendência apregoada e da indulgência monástica, é agora o tempo da política se aliar ao futebol. Tal como César – Pão e Circo, para entreter o povo por algum tempo. Depois…, depois logo se vê!!!  

jose.soares@peixedomeuquintal.com