
O mundo é também composto por extravagâncias permitidas por excessos económicos pessoais. Terá sido o caso do bilionário paquistanês Shahzada Dawood, de 48 anos e vice-presidente do aglomerado de empresas da Engro Corporation, multinacional virada para os fertilizantes e seu filho de 19 anos Suleman Dawood, estudante. Cada um pagou 250 mil euros para visitarem o cemitério do Titanic a 3,800 metros de profundidade atlântica. Os Dawood descendem de uma das famílias mais ricas paquistanesas. Uma tia do jovem paquistanês Suleman Dawood, disse em entrevista à televisão americana que o sobrinho se mostrou “apavorado” e hesitante antes da viagem. Segundo Azmeh Dawood, o jovem aceitou ir na viagem para agradar ao pai, já que a expedição iria ocorrer no final da semana em que se celebra o Dia dos Pais no Reino Unido, onde a família morava.
Outro dos ocupantes do submersível implodido era o aventureiro britânico Hamish Harding, de 58 anos, dono da Action Aviation, empresa do ramo de aviões privados sediada no Dubai e que já havia completado algumas viagens excêntricas, nomeadamente ao espaço em 2022, a bordo da privada Blue Origin e várias vezes ao Polo Sul. Detinha três recordes no livro Guiness por ser o humano que mais tempo permaneceu nas maiores profundezas submarinas, na Fossa das Marianas, com cerca de 12 mil metros de profundidade.
Estes eram os três clientes que pagaram para esta fatídica viagem – 250 mil euros cada.
O quarto passageiro era o francês Paul-Henry Nargeolet, de 77 anos, ex-mergulhador da Marinha Francesa e atual diretor do departamento de pesquisa subaquática da companhia que detém os direitos sobre todos os objetos retirados do naufragado Titanic. Conhecido sob o apelido de Senhor Titanic, ninguém tinha estado tantas vezes junto dos destroços do Titanic como ele, tendo feito parte da primeira expedição ao Titanic em 1987, dois anos depois da descoberta do navio naufragado. Nesta viagem, seguia como cicerone especialista histórico do local. O quinto era Stockton Rush, de 61 anos, e CEO (diretor executivo) da OceanGate, companhia proprietária do submersível Titan, que efetuava viagens turísticas para visitantes abastados verem de perto o que resta do famoso transatlântico que jaz a 3,800 metros nos abismos do Oceano Atlântico desde 14 de abril de 1912. Stockton Rush tinha já planeado fazer uma expedição ao Mar dos Açores em 2024 e 2025. A sua morte veio atrasar estes planos por algum tempo, porque a empresa continua interessada na exploração dos abismos submarinos açorianos.
Depois de buscas infrutíferas durante quase uma semana, sabe-se agora que o submersível terá implodido no primeiro dia quando começou a mergulhar e falharam as comunicações com a embarcação que o apoiava. Depois de várias viagens às profundidades, o submersível, talvez com o casco enfraquecido pelas várias pressões entretanto sofridas, não resistiu à última. Os serviços secretos da Marinha dos EUA detetaram no próprio dia da imersão do Titan, um barulho no oceano e nas proximidades do Titanic. Destroços do submersível foram encontrados a cerca de 500 metros da proa do Titanic, repousados no leito do oceano.
Foi um final trágico. Para o francês Paul-Henry Nargeolet de 77 anos, foi como se tivesse escolhido o próprio sepulcro. As partículas do seu corpo implodido, jazem junto ao barco que ele tanto amou e estudou durante toda a vida – o Titanic.
Repare-se na semelhança dos nomes: Titanic e Titan (Titânico e Titã). A História continua a ser – também ela própria – de extrema excentricidade, bizarra, extravagante. Coincidências do Universo no seu caos organizado.
