
É, sem dúvida alguma, das palavras mais lindas que pronunciamos neste mundo. E que suave nos soa ela em português. Harmoniosamente apoiada em quatro leves sílabas, arranca-nos um saboroso sorriso, ao soltámo-la no ar. Sente-se bem à solta pelos ares e lá vai sobrevoando continentes, abraçando culturas, ignorando barreiras, desbravando ilusões, estimulando inúmeras almas ao fazer ferver um sem fim de corações. Um coração, sem ela, sujeita-se a murchar moribundo e pode correr sério risco de vida. Uma vida sem ela... bem, o melhor é nem imaginarmos uma vida sem ela a acenar-nos, sorridente. Esperança é o que nos faz sonhar e querer ir sempre um pouquinho mais além, vivendo em busca de algo melhor.
Ver um homem de 86 anos de idade, já a precisar duma cadeira de rodas e com a sua saúde bastante precária, assumir-se como “peregrino da esperança”, fará certamente franzir muita testa pasmada ao topar tal ousadia. Alguém até lhe dirá, “ó velhote, porque não te acomodas em casa e deixas essa ilusória liderança da esperança para os mais novos...?” O problema é que Francisco, apesar da sua avançada idade, não se considera um velho... em espírito, tá claro. E o que vimos recentemente difundido de Lisboa, na magnifica semana celebrando as Jornadas Mundiais da Juventude, prova isso mesmo. São os mais novos que o tem como um ídolo. Mais de um milhão de jovens, aglomerados nas margens do rio embelezando a nossa formosa capital, não se cansaram de ecoar com vivo entusiasmo, “Francisco é o Papa da Juventude”. Arrepiante, no bom sentido da palavra, é o adjetivo que me salta à mente, sempre que a televisão nos mostrou aquele imenso mar de gente vinda de todos os cantos do globo. Impressionante, poderia ser outro adjetivo adequado no descrever a forma ordeira como um magnânimo evento desta natureza decorreu sem incidentes de maior a registar. Talvez o segredo esteja no simples facto de que ninguém supera Portugal e os portugueses em termos de sã hospitalidade. As pessoas sentem-se em casa e o evento foi um sucesso elogiado por todo o mundo.
Os desafios aumentam neste nosso conturbado globo incapaz de se livrar da estupidez da guerra, da vergonha da fome, do flagelo da miséria e demais porcaria de políticas poluídas por políticos desonestos persistindo em desiludir tantos jovens desesperados por líderes (sem pés de barro) que os inspirem. Por isso, vieram de muito longe juntarem-se aos de mais perto para estarem com o “velhote” que os faz sentir bem. Que eu saiba, ninguém se sente mal na companhia deste Papa, por se tratar dum ser humano que cativa quem o rodeia e não só. À distância, também nos deixamos seduzir pela pessoa humilde e pela mensagem vibrante, tanto no domínio religioso como na dimensão humanista do seu discurso unificador, convidando-nos sempre a revermo-nos ao espelho da nossa frágil condição humana. Nesse aspeto, sublinharia apenas aquele pertinente pensamento que nos faz pensar duas vezes... (porque ninguém é mais do que ninguém) ... “ninguém se julgue no direito de olhar outra pessoa de cima para baixo, a não ser para ajudá-la a levantar-se”.
Há muito feio bota abaixo neste desajustado mundo de múltiplas misérias, infelizmente, por parte de gente armada em mais inteligente, mas incapaz de se desfazer dos seus tolos complexos de sonsa superioridade. Muitos discretos (ou discretas) desta vida, demasiado focados no seu luzidio umbigo intelectual, bem que tentaram minimizar a significância positiva deste pacifico encontro de boas pessoas provenientes de todos os quadrantes terrestres, ao preferirem insistir na tecla negativa do que vai mal na Igreja e que não é segredo nenhum. Mas, ainda bem que os jovens sensatos e sedentos de respostas animadoras às suas mais prementes ansiedades, fartos da malquerença d’ouvir falar para denegrir, preferem focar-se na esperança que lhes oferece quem lhes fala para o fundo do seu coração aberto à simples linguagem do amor como remédio sagrado para aquele mundo que procuram ajudar a construir alicerçado em paz sã.
De nada serve a paz podre do mesmo fracalhote faz de conta e vamos adiante. Quem defende cinicamente que estes coloridos acontecimentos, sempre muito abundantes de paleio floreado, nada mudam, tem o seu incómodo ponto de vista que não deve ser ignorado por completo. Porque o mais difícil e importante é passar-se das palavras à ação capaz de operar depois as mudanças desejadas. Do lado de cá do Atlântico, através dum colorido écran televisivo, tentei ver em muitas dessas palavras sementes serenamente semeadas nas margens dum manso rio desaguando-me na alma sublimes sensibilidades que, confesso, não consigo bem descrever. Sei apenas que me fizeram sorrir e até emocionar, sobretudo encantado com o fantástico acolhimento por todos sentido naquele nosso formoso jardinzinho à beira-mar plantado. Oxalá a maioria dessas sementes possam trazer frutos duma diferença que se pretende para melhor nas vidas concretas desta stressada geração dos nossos filhos e netos a enfrentarem desafios deveras perturbantes.
Por mim, e por muita boa gente da nossa já cansada geração, só nos resta esperar que este espetacular evento, reunindo quase todas as bandeiras do mundo, possa servir de ponte sólida da esperança que se precisa cultivada nos tensos tempos que atravessamos dominados pelo desânimo de vermos os seres humanos incapazes de se entenderem e conviverem sem se agredirem constantemente. É pena, mas trata-se duma triste realidade a que não podemos fugir. Tal como o simpático Papa Francisco também não foge aos sérios problemas que enfrenta a sua nossa Igreja, abordando-os com a profunda humildade de chegar mesmo a pedir repetidamente perdão – um gesto que, para mim, fala bem por si e me dispensa aqui mais palavras. A não ser que me permitam reforçar, uma vez mais, essa que me serviu de tónica a este já longo texto – acentuando – com líderes respeitados como este carismático Sumo Pontífice – “enquanto há vida... há esperança.” Vale a pena cultiva-la.
