
O Professor Luís M. Arruda é a lucidez de uma consciência crítica. Exigente, inconformado, frontal, observador atento de realidades visíveis e invisíveis, animado pela curiosidade científica e pelo interesse cultural, a sua formação científica fá-lo autor do rigor e da minúcia. É um estudioso que trabalha a partir das fontes.
Nasceu nesta cidade da Horta em 1944. Doutor em Ciências pela Universidade de Lisboa, foi Professor na Faculdade de Ciências daquela Universidade. Como docente, regeu numerosas disciplinas e orientou estágios, monografias e teses de doutoramento. Como investigador, tem sido responsável por vários projectos de investigação, especialmente na área da Ictiologia, e participado, activamente, em diversos congressos nacionais e internacionais. Os resultados das suas investigações encontram-se em várias dezenas de publicações em revistas científicas, nacionais e estrangeiras, e numa dezena de livros. Investigador convidado no Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portuguesa da Universidade Católica Portuguesa, foi coordenador-geral da Enciclopédia Açoriana e editor do Boletim do Núcleo Cultural da Horta.
Cidadão interessado em contribuir para a valorização científica, histórica e patrimonial da ilha do Faial, autor documentado, informado e bem apetrechado em termos teóricos, com capacidade de informar, esclarecer, decifrar e avaliar, Luís M. Arruda dá um tratamento criterioso e meticuloso a tudo o que escreve, reunindo milhares de referências bibliográficas.
É autor de vastíssima e monumental obra científica, mas aqui limito-me a apontar alguns dos seus mais recentes estudos:
Correspondência Científica de Francisco de Arruda Furtado. Introdução, levantamento e estudo de Luís M. Arruda. Prefácio de J. G. Reis Leite. Instituto Cultural de Ponta Delgada. Ponta Delgada: 787 pp., 2002.
Toponímia da Freguesia da Matriz da Horta (Biografias dos homenageados). Horta, Junta de Freguesia da Matriz da Horta. Horta: 116 pp., 2007.
Obra Científica de Francisco de Arruda Furtado. Introdução, levantamento e estudo de Luís M. Arruda. Prefácio de Onésimo Teotónio Almeida. Instituto Cultural de Ponta Delgada, Instituto Açoriano de Cultura. Ponta Delgada, Angra do Heroísmo: 780 pp., 2008.
Evolucionismo. Antecedentes e consequências. Atlântida, 55: 12-23. Angra do Heroísmo, 2010. Atas do Colóquio Evolucionismo, Darwin e os Açores, Praia da Vitória, 31 de outubro de 2009.
Jardins na Ilha do Faial (Açores). Horta, Câmara Municipal da Horta. Horta: 121 pp., 2009.
Manuel Joaquim Dias e as Ciências da Terra e da Vida, Atlântida, 58:127-144. Angra do Heroísmo, 2013.
Descobrimento Científico dos Açores. Do povoamento ao início da erupção dos Capelinhos. Angra do Heroísmo, Instituto Açoriano de Cultura: 422 pp., 2014.
Francisco de Paula-e-Oliveira, militar e antropólogo. Abordagem à sua Obra científica. Atlântida, 60: 261-280. Angra do Heroísmo, 2015.
Evolucionismo nos Açores e Outros Estudos. Angra do Heroísmo, Instituto Açoriano de Cultura: 483 pp., 2015.
Descobrimento Científico dos Açores. Da erupção dos Capelinhos à instalação do Instituto Universitário dos Açores. Ponta Delgada, Sociedade Afonso Chaves – Observatório Vulcanológico e Geotérmico dos Açores: 662 pp., 2018.
Guerra do Ultramar. Caminhando Pela Memória e pela História. Horta, Junta de Freguesia da Matriz – Horta: 144 pp., 2019.
PRELIMINAR. Como a Ilha do Faial foi vista por alguns viajantes estrangeiros em meados do século XIX. – Um bosquejo. In: My Sweet Fayal. Diário de Viagem de J. Pierpont Morgan nos Açores (Faial, novembro 1852 – abril 1853). Autora: Elisa Gomes da Torre. Ponta Delgada, Letras lavadas Edições, 2021).
Prefácio a Fauna Terrestre dos Açores, Guia de Campo. Autores: António M. Frias Martins, Paulo A.V. Borges e Virgílio Vieira. Ponta Delgada, Letras Lavadas Edições, 2021.
Descobrimento Científico dos Açores. De 1976 a 1985. Ponta Delgada, Sociedade Afonso Chaves: 880 pp., 2022.
Esta mais recente obra, que assinala 50 anos de escrita científica publicada (1972-2022), incide sobre a história do conhecimento das ciências da Terra e da Vida nos Açores. Tal como os dois volumes anteriores sobre esta temática, também este foi organizado em 4 capítulos: o primeiro é dedicado à década inicial da Universidade dos Açores. Criada, em 1976, como Instituto Universitário dos Açores, em 1980, deu origem à Universidade dos Açores. Todavia, neste capítulo, a produção científica destas instituições, interessando às Ciências da Terra e da Vida, reduzida em tempo de Instituto, não foi tratada de modo separado. No segundo capítulo foram incluídas questões interessando à geologia das ilhas e ao leito da bacia do Atlântico Norte. No terceiro capítulo foram tratadas as contribuições para o entendimento dos tempos atmosféricos condicionantes do ambiente em que viveram as plantas e os animais das ilhas. O quarto capítulo foi dedicado ao ambiente marinho e às plantas e animais vivendo em redor das ilhas ou ocorrendo próximo delas.
Falta-me engenho e arte para poder aprofundar estas e outras questões de índole científica, mas parece-me óbvio que não será possível falar-se sobre a construção do conhecimento científico dos Açores sem recorrer à referida trilogia e às restantes obras de Luís M. Arruda – cientista nosso a quem deveríamos dar todos mais atenção. Mas, já se sabe: santos de casa…
