Há uma mudança de paradigma na comunidade portuguesa nos EUA. Hoje temos uma comunidade integrada eparticipativa no processo político-social do país, que cresceu e valorizou-se a todos os níveis, graças à sua capacidade de adaptação e essa enorme vontade de se afirmar e proporcionar uma melhor vida aos seus familiares. Há muito deixou de ser conotada como uma comunidade imigrante, até porque temos assistido a uma estagnação do fluxo migratório luso em massa para os EUA!
No passado dia 05 de novembro o povo americano saiu à rua para exercer o seu direito cívico de votar e fazer ouvir a sua voz, naquele que foi o 60º ato eleitoral dos EUA para eleger o 47º presidente dos EUA. O povo, que é soberano em qualquer democracia do mundo, falou bem alto e quis mudança votando no candidato apoiado pelo Partido Republicano, o empresário e magnata de New York, produtor de televisão, natural de New York, 78 anos de idade. Vai liderar o país nos próximos quatro anos.
Contra todas as previsões, Donald Trump protagonizou o maior “come back” da política norte-americana, com uma vitória clara e inequívoca, ganhando no Colégio Eleitoral (312 delegados contra 226 da sua oponente, apoiada pelo Partido Democrata) e obtendo 50% do voto popular (76.818.362 contra 74.308.711 de Kamala Harris, 48.4%).
Sobre isto e as causas da derrota do Partido Democrata e vitória de Trump e do Partido Republicano já nos debruçámos em artigo publicado na edição de 13 de novembro, em que foram apontadas as principais causas para aquilo que veio a acontecer.
Contudo, o que interessa agora realçar é o impacto da vitória de Donald Trump na comunidade portuguesa. Convém referir que os Estados Unidos sempre se debateram com problemas de imigração ilegal ao longo dos anos. Quando se fala em deportação em massa, na próxima administração de Trump, é preciso referir que nos últimos tempos quem lidera nesta matéria é o democrata Barack Obama. Na sua administração foram deportados 3 milhões de indocumentados, logo seguido pelo republicano George W. Bush, com 2 milhões. (Ainda não há números sobre a administração Biden).
É verdade que as deportações de imigrantes nos EUA têm sido um tema controverso ao longo da história refletindo as mudanças de política nesta matéria e nas últimas décadas os presidentes têm implementado estratégias que resultaram na deportação de milhões de imigrantes, gerando intensos debates sociais e políticos.
Muito se tem falado e escrito sobre o que Donald Trump e os republicanos pretendem fazer nesta matéria e que impacto isso terá na comunidade portuguesa. Sabemos que para muitos esta vitória do magnata de New York é um desastre para o país, chegando a atingir um cenário quase apocalíptico. Puro exagero. Claro que é preocupante para alguns portugueses indocumentados nos EUA, afinal uma situação transversal ao que se passa noutros países. Mas a larga maioria imigrou para os EUA de forma legal. Não acreditamos que uma eventual deportação em massa venha a acontecer e em particular chegue a atingir os portugueses, até porque experiências e situações no passado demonstram claramente que tem havido muito alarmismo em redor desta questão. Conhecemos, no meio onde residimos, muitos nossos conterrâneos que enfrentaram esse problema e acabaram por resolver a sua situação, de uma forma ou de outra. É preciso que se diga que a larga maioria dos portugueses que imigraram para os EUA, com toda a documentação requerida, são conotados como gente trabalhadora, honesta, com grande vontade de vencer e proporcionar à família uma vida mais próspera e digna. Estamos em crer que Donald Trump e os republicanos tencionam deportar em massa imigrantes ilegais tendo em vista e em maior escala aqueles com passado criminoso. Não é o caso da maioria dos nossos patrícios, mesmo indocumentados, que são geralmente ordeiros e seguidores das regras que orientam este país. Falamos com alguns deles e não vimos indícios de grande preocupação. A estes recomenda-se, agora e sempre, sigilo e evitar todo o tipo de problema e, claro, resolver a sua situação. Convém esclarecer que uma deportação em massa (fala-se em 11 milhões) teria repercussões negativas na economia do país. Não nos parece que venha a acontecer.
A comunidade portuguesa nos EUA tem sido exemplar e elogiada publicamente a todos os níveis. Temos exemplos de gente e instituições que têm prestado um largo contributo para o desenvolvimento económico, social e político desta grande nação. Os portugueses imigraram para este país em busca de trabalho e não como alguns de agora que vêm para aqui em busca de benefícios e regalias sociais, tudo caído do céu e à custa da classe média, que trabalha e sustenta esses que nada querem.
Falar em deportação em massa a atingir a comunidade portuguesa é puro alarmismo e revelador de um desconhecimento total da real situação da nossa gente, cuja presença nos EUA é mais que centenária e disso há sinais vivos da nossa afirmação, identidade cultural e integração.
Alguma comunicação social em Portugal tem dado voz a algumas opiniões de políticos lusoamericanos que manifestam a sua preocupação de uma possível deportação de portugueses, naquilo que consideramos de exagero e puro alarmismo. Como diz o meu amigo Mendes, from Cacilhas Town: “Take it Easy”. É preciso calma e não cair em pânico perante afirmações irresponsáveis!