- NA ROTATIVIDADE DO TEMPO -
A NATUREZA CONTENTA E CONTEMPLA, todos, na sua rotineira mudança, dividindo-se, em estações.
DESDE A PRIMAVERA, ONDE SURGE O INICIO DO BOM TEMPO, as primeiras folhas nas árvores, os primeiros sons de magia e o chilrear dos pássaros, ao ruído sobre as folhas secas que deram lugar a outras que nasceram, passando pelo VERÃO, do sol escaldante, secas prolongadas, tardes duradoiras, seguindo-se o OUTONO mediador entre os extremos do VERÃO e do INVERNO, do mau tempo, dos ventos agrestes, do frio, da chuva, com as folhas das árvores que na Primavera e Verão eram verdejantes, agora espalhadas pelo chão, transformadas em lixo, devido às fortes rajadas de vento que o INVERNO, impiedoso, atira sobre o arvoredo indefeso, elas, que foram, o nosso encanto, e a nossa frescura, durante as quadras mais quentes. Perante este cenário de destruição, custa olhar em redor e não encontrar, a doçura dos olhos bons e os perfis dos amigos sinceros, levados pelas tempestades da vida. Custa, nos dias tristes e curtos do INVERNO, não ver o sol, custa não ver as estrelas, luzindo no céu, como faróis de esperança, de um reino misterioso. As estrelas, são os poetas que fazem descer até nós versos de luz.
O OUTONO DE CÉU MAIS CINZENTO, tempo mais fresco, é a estação que deixa cair as primeiras folhas das árvores, oferecendo-nos um tom de amarelo e castanho, cores fortes, de rara beleza, tão apreciado pelos pintores e poetas.
É no OUTONO que se semeia os nabos, as cenouras, couves, salsa,cebola. É quando se deve sachar os viveiros, abrir covas para árvores novas. Fazer vindimas. Nos Jardins habitualmente transporta-se estacas e prepara-se canteiros.
NÃO GOSTO DOS EXTREMOS. Nem dos exageros do VERÃO, nem dos excessos do INVERNO, estação que lembra o “inverno da vida”, temido pelos entrados na idade. Nos dias tristes, depressivos, os versos perdem-se negros e cinzentos. Todos nós estamos sujeitos aos sofrimentos da vida.
QUANDO DO CALOR DO VERÃO já só restam algumas andorinhas preguiçosas e em seu lugar fica o cheiro a terra molhada pelas primeiras chuvas, diz-se que estamos em pleno OUTONO, a estação que faz a separação entre o “calorento” VERÃO e o “gelado” INVERNO. O OUTONO é a estação que vem substituir o VERÃO, para grande tristeza daqueles fãs da canícula. Por isso, a chegada do OUTONO é sempre bem-vinda. É nas tardes do OUTONO que os olhos se fixam no horizonte “navegando” pela memória, ouvindo vozes longínquas, vindas do chão que nos viu nascer. Nestes momentos a adolescência, assalta-nos em muitos lugares, quando em pensamento procuramos velhos sítios da terra natal, revendo o percurso percorrido e consumido na velha urbe, palmilhando na memória, sítios, edifícios, pessoas, ruas, lugares, situações que pertencem à nossa vida, à nossa obra, ao nosso afecto e bem-querer. As coisas vão-se e nós vemo-las partir e ficamos para as evocar com saudade e emoção. Com o seu afastamento, é também um pouco de nós que se vai. O homem passa, a memória fica….
PELA FORMA DE “CONVIVER” com as outras estações, sempre tive um certo interesse pelo OUTONO. O OUTONO quer dizer árvores sem as primeiras folhas, frio a entrar de mansinho, tempo de compotas, cheiro a lenha amontoada à espera do agreste Inverno. É o regresso às aulas. A despedida das praias, das noites nas esplanadas, das romarias, das vindimas. A lembrança dos saudosos desejos das couves aferventadas, com chouriço apimentado, ossos de porco salgado e toucinho defumado, acompanhados de fatias de pão de milho e um bom copo de vinho de cheiro ao cair da noite (nas antigas, tradicionais e pitorescas aldeias micaelenses). O OUTONO, com o início do frio, que traz no seu cabaz, convida a pratos suculentos e apetitosos. É no OUTONO e nas suas tardes mais frescas e inicio da noite, que apetece, ter entre mãos, uma chávena fumegante e aromática do “Chá da GORREANA”, bebida tão apreciada na Ilha Verde, sendo um bálsamo, tanto para o corpo, como para a alma. No OUTONO, acontece termos um dia igual à noite, assim o diz o equinócio. OUTONO era (é?) tempo de colheitas, de desfolhadas nas eiras. O tirar dos baús, para arejar, os agasalhos com vista ao tempo frio que se aproxima.
GENTE DE OUTRAS ERAS, do tempo que havia “tempo” para parar, observar e dialogar, vendo o que acontecia à sua volta, meditando, criando provérbios, ouvindo, diziam que o OUTONO, era a estação do ano que se enquadrava mais com a forma de estar do “micaelense”, melancólico, taciturno, habitante de uma Ilha de bruma. O OUTONO, com as suas características especiais, cativa o açoriano de São Miguel, atento, apreciador de uma transformação calma que o OUTONO oferece. É apenas, a estação do ano que vem a seguir ao VERÃO e antecede o INVERNO. A beleza das quatro estações do ano é a “diferença que as distingue”, oferecendo, a cada um de nós, a possibilidade de escolher, o encanto de cada uma. Um OUTONO benevolente, meigo. É a estação das coisas boas”!!