Passo importante para ajudar quem via mal - o uso popular dos óculos, esse não mais cessou

 

COMO EM MUITO DO QUE ASSUMIMOS COMO NORMAL no dia-a-dia, também os óculos tiveram influência do legado do Império Romano, que se estendeu do que hoje é Portugal até à actual Turquia, tocando praticamente em todos os pontos da Europa e do norte de África. Ora, foram os romanos os primeiros a estudar um método para mitigar problemas de visão. Para tal, pensaram em pequenas esferas de vidro que, encostadas aos olhos, permitiam uma maior nitidez visual. Reza a lenda que Séneca, um dos mais prestigiados escritores e pensadores da época, as utilizou para ler todos os livros então existentes. 
AS ESFERAS POUCO TINHAM DE PRÁTICO e quase nada ofereciam em termos de qualidade oftalmológica, por isso poucos as utilizavam. Foi preciso esperar até ao século I para que surgissem lentes, então sim, com capacidades correctivas. Poucas. A ideia passou por pedras divididas em pequenas tiras que, alocadas a vidro, permitiam corrigir graus de deficiência da visão. Tal invenção foi importante para que, dai em diante, monges espalhados por mosteiros Europa fora, pudessem dedicar-se a horas e horas de leitura sem que sofressem as consequências do cansaço ocular.
TAMBÉM POR ESSA  ALTURA, OS ÁRABES, deram luz às que foram consideradas as primeiras lentes convexas, pensadas por Ibn Sahl, o homem que pela primeira vez deixou em documentos teorias sobre, por exemplo, a lei da refracção, muito útil para que os óculos pudessem ter utilidade mais eficaz.
NO SÉCULO XII surgiu a novidade que haveria de ficar para sempre: as hastes que permitiam sustentar nas orelhas todo o corpo dos óculos. Então concebidas em ferro, foram pensadas na Alemanha e eliminaram o problema que desde sempre óculos e lentes possuíam: o pouco ou nenhum ajuste ao rosto. Como que indirectamente, esse foi passo decisivo para que se desenvolvessem a um ritmo acelerado estratégias e estudos que tornassem os óculos cada vez mais eficazes e precisos na correcção da visão. Mais uma vez os monges, sobretudo em Itália, voltaram a ter influência decisiva no desenvolvimento de materiais, tendo tentado pedras dos mais variados géneros, metais e até pedaços de osso que acrescentassem melhorias ao vidro das lentes e aos aros das hastes.
A CIÊNCIA ACOMPANHOU A EVOLUÇÃO e com a descoberta da miopia, entre os séculos XII e XIV, novos métodos foram desenvolvidos e o uso de óculos tornou-se mais comum entre as classes menos favorecidas. 
AS LENTES, ESSAS, COMEÇARAM A GANHAR FORMATOS VÁRIOS (as arredondadas e as rectangulares popularizaram-se) e funções precisas – no século XVIII Benjamin Franklin criou lentes bifocais e deu passo importante para ajudar quem via mal a pequenas distâncias. O uso popular dos óculos, esse, não mais cessou. Com cores, formatos e graus variados, é verdade, mas com um único objectivo: ajudar quem vê mal a ver tudo.
ÓCULOS DE FICÇÃO CIENTÍFICA – Não tardará muito, dizem os especialistas, até que os óculos deixem de assumir a função singular de auxiliar a visão e passem a ser multifuncionais, quase semelhantes ao que hoje um telemóvel comum consegue oferecer. Por exemplo, a empresa aSight está a desenvolver óculos que conseguem realizar gravações em alta definição daquilo que o portador está a ver em tempo real. E a Aira criou óculos que permitem estar ligados online a uma central que vai ajustando a definição das lentes ao ambiente em que se encontra o utilizador. E, depois, há a Google, que em 2013 concebeu os Google  Glasses, que permitem toda uma inovadora experiência, com a possibilidade de visualizar nas lentes tudo aquilo que a gigante americana oferece. A ideia não teve muita aceitação em termos de vendas, mas a Google voltou à carga e neste ano anunciou que está a melhorar o conceito tendo em vista o regresso do modelo ao mercado.
OS ÓCULOS TÊM VIDA LONGA, feita de evolução que vem do tempo dos romanos. Longa e, até, estranha. Mas popularizaram-se e estão no rosto de muitos.