O Oscar que Joaquim dos Santos não ganhou

 

A 96ª cerimónia de entrega dos Oscars 2024 (Academy Awards no original em inglês), o prestigioso prémio da Academy of Motion Picture Arts and Sciences teve lugar no passado domingo, 10 de março, no Dolby Theatre em Hollywood, homenageando os melhores atores, técnicos e filmes de 2023 e apresentada pelo comediante Jimmy Kimmel, que apresentou a cerimónia pela quarta vez, após as edições de 2017, 2018 e 2023.
“Oppenheimer”, o filme sobre o “pai da bomba atómica” que tinha 13 nomeações, foi o grande vencedor em sete categorias: melhor filme, melhor realizador (Christopher Nolan), melhor ator principal (Cillian Murphy) e melhor ator secundário (Robert Downey Jr.). O filme venceu ainda nas categorias de melhor montagem, melhor fotografia e melhor banda sonora.
“Poor Things”, do grego Yorgos Lanthimos, que tinha ganho dois Globos de Ouro e o Globo de Ouro de Veneza, e estava nomeado para 11 Oscars, acabou vencendo por pouco as categorias de melhor maquiagem e penteados, melhor desenho de produção, melhor guarda-roupa e melhor atriz principal, Emma Stone no papel da incrível Bella Baxter, uma jovem vitoriana que se atirou de uma ponte e despedaçou o crânio. Foi então que o dr. Godwin Baxter (Willem Dafoe) recolheu o cadáver nas margens de Tamisa e procedeu a um transplante cerebral, colocando o cérebro de um bebé na caixa craniana de Bella Baxter. O resultado é que Bela anda de forma estranha, fala apenas com monossílabos, tem comportamentos errantes e incómodos. Mas ao longo do filme, Bella vai evoluindo e torna-se noiva de um advogado boémio e libertino (Mark Ruffalo) que a leva numa turbulenta aventura pelo mundo com passagem por Lisboa, onde descobriu o fado cantado por Carminho e empanturrou-se com pastéis de nata.
No que toca aos filmes de animação, havia este ano a particularidade de um dos filmes nomeados, “Spider-Man: Across the Spider-Verse” (Homem-Aranha: Através do Aranhaverso na versão em português) ter sido realizado por um português e assim, ao contrário do que eu pensava, tivemos um português nos Oscars deste ano.
Falei no assunto na crónica anterior, referindo que não havia nenhum português entre os nomeados, mas estava enganado. Mais bem informado, o Diário de Notícias, de Lisboa, deu com Joaquim dos Santos, um dos realizadores de “Spider-Man: Across the Spider-Verse”, que era o grande favorito do prémio de melhor longa metragem de animação.
O filme é uma produção da Columbia Pictures e Sony Pictures Animation em associação com a Marvel Entertainment e distribuído pela Sony Pictures Releasing. Foi dirigido por Joaquim dos Santos, Kemp Powers e Justin K. Thompson, com argumento de Phil Lord, Christopher Miller (que também produziram) e David Callaham.
Por coincidência, Joaquim Santos, o principal realizador do filme do Homem Aranha é Aranha de nome, chama-se Joaquim Aranha dos Santos, nasceu em Sesimbra a 22 de junho de 1977 (47 anos). Saiu de Portugal aos quatro anos, os pais divorciaram-se e ele veio com a mãe para os EUA, cresceu em North Hollywood, mas no verão voltava a Sesimbra para passar os verões com o pai, o que diz tê-lo influenciado fortemente como artista.
A paixão pelos desenhos animados começou em menino porque quando saía da escola passava diariamente pelo estúdio onde eram criados “Os Simpsons”. Começou a sua carreira na Sony Pictures Television a trabalhar em séries como “Roughneck: The Starship Troopers Chronicles” (1999-2000) e “Men in Black: The Series” (1997-2001).
Passando por vários estúdios, o seu trabalho como realizador e produtor tornou-se notado em séries como “Teen Titans”, “Justice League Unlimited”, “Avatar: A Lenda de Aang”, “G.I. Joe: Resolute”, “The Legend of Korra” e “Voltron: Legendary Defender”.
Em 2018, Santos começou a trabalhar em “Spider-Man: Across the Spider-Verse” e Justin K. Thompson e Kemp Powers juntaram-se depois à equipa de realização.
A estreia do filme foi inicialmente marcada para abril de 2022, mas foi adiada devido à pandemia de Covid-19 e acabou por ser em junho de 2023 arrecadando 120,7 milhões de dólares, a segunda maior bilheteira de estreia depois de “The Super Mario”, que arrecadou 164,4 milhões. Mas até agora, “Spider-Man: Across the Spider-Verse” já faturou 700 milhões de dólares, tornou-se um dos maiores sucessos de cinema de animação com super-heróis e acabou sendo nomeado para os Oscars, mas Joaquim dos Santos foi excluído da lista dos premiáveis.
Segundo as regras da Academia, cada estúdio só pode escolher quatro pessoas e como o filme teve três realizadores e dois produtores, o português acabou sendo excluído e o seu nome não consta da lista de nomeados, apesar de ter sido o primeiro realizador associado ao projeto: figuram apenas os realizadores Kemp Powers e Justin K. Thompson e os produtores Phil Lord, Chris Miller e Amy Pascal, que teriam direito à estatueta em caso de vitória.
A decisão é algo estranha, sobretudo se pensarmos que Joaquim Santos foi o primeiro realizador a trabalhar no filme. No final de novembro de 2018, a Sony Pictures Animation incumbiu Joaquim dos Santos de realizar o filme, David Callaham de escrever e Amy Pascal de produzir. Em fevereiro de 2021, Phil Lord e Christopher Miller juntaram-se à equipa como argumentistas e Peter Ramsey como produtor executivo. E em abril de 2021, Kemp Powers e Justin K. Thompson foram anunciados como co-realizadores ao lado de Santos.
Segundo uma notícia da revista Variety de 30 de janeiro, a omissão do português é consequência de uma “regra arbitrária” da Academia que permite que apenas equipas de quatro nomeados possam ser reconhecidos na categoria.
As regras são as seguintes: “O(s) nomeado(s) para o prémio será(ão) designado(s) pelos responsáveis pela produção do filme. O(s) nomeado(s) designado(s) deve(m) ser o(s) indivíduo(s) criativo(s) mais claramente responsável(eis) pela produção em geral. Há um máximo de QUATRO nomeados designados, um dos quais deve ser o realizador creditado que exerceu o controlo da realização, e o(s) outro(s) deve(m) ter crédito de realizador ou produtor. Ao determinar o número de produtores elegíveis para nomeação, uma equipa genuína de não mais de duas pessoas será considerada um único “produtor” se os dois indivíduos tiverem uma parceria de produção estabelecida, conforme determinado pelo painel de Parceria de Produção do Sindicato dos Produtores”.
Na altura de preencher o formulário oficial para apresentar a candidatura do filme à Academia, o estúdio Sony Pictures e a equipa de cineastas tentaram sem sucesso obter uma exceção junto do ramo de animação para incluir os três realizadores ou apresentá-los como uma “equipa”, o que deixou nas mãos dos cineastas decidir quem ficava de fora.
Talvez Santos tenha ele próprio decidido ficar de fora, em atenção para com Kemp Powers, que já tinha sido nomeado para os Oscars pelo argumento em “One Night in Miami” (2020) e que tinha co-realizado “Soul” (2020). 
Quanto a Justin K. Thompson, tinha trabalhado como designer no primeiro filme do Homem Aranha.
Fosse como fosse, acabou sendo feita justiça: embora “Spider-Man: Across the Spider-Verse” fosse o grande favorito, o Oscar de melhor longa-metragem de animação foi atribuído a “The Boy and the Heron” (O Menino e a Garça), do mestre japonês Hayao Miyazaki, que já tinha ganho nos Globos de Ouro.

Cravos do 25 de Abril 
estão a murchar

Portugal teve dia 10 de março eleições legislativas e os resultados oficiais dão 79 mandatos à coligação Aliança Democrática (PSD e CDS), 77 ao Partido Socialista (PS), 48 ao Chega, 8 à Iniciativa Liberal, 5 ao Bloco de Esquerda, 4 à CDU (Partido Comunista e os Verdes), 4 ao Livre e 1 ao PAN.
Resta saber quais serão as contas dos círculos eleitorais fora do país (Europa e Fora da Europa), em que estão em causa quatro lugares na Assembleia da República. É pouco provável que o PS venha a conseguir os quatro deputados por ali eleitos – nunca aconteceu –, tal como é pouco provável que venha a conseguir três dos quatro como aconteceu em 2022. 
Se assim fosse, e assumindo que o outro deputado ia para a Aliança Democrática, PS e AD ficariam empatados com 80 deputados cada um.
Mas na verdade existe uma perspetiva de o Chega vir a eleger no círculo Fora da Europa, nomeadamente pela contabilização de votos de eleitores que vivem nos Estados Unidos ou no Brasil e que se aproximaram de políticas como as de Donald Trump e Jair Bolsonaro.
De qualquer forma, o grande derrotado é o Partido Socialista, que perdeu deputados na maioria dos distritos. Em Lisboa, o PS continuou a ser o partido mais votado com 15 deputados, mas em 2022 elegeu 21.

Nos Açores, o PS desceu o número de mandatos de três para dois, enquanto a AD manteve dois deputados. O Chega conseguiu um mandato.
Na Madeira, o PS também desceu (de três para dois), com o PPD/PSD/CDS-PP a liderar (três mandatos) e o Chega a garantir um deputado.
Um partido que subiu consideravelmente foi a ADN (Alternativa Democrática Nacional), que passou de 10 mil votos para 100 mil de uma eleição para outra sendo de presumir que muitos eleitores confundiram a sigla ADN com a sigla da Aliança Democrática e assim a ADN esteve quase a entrar no parlamento.
Mas os totais eleitorais mostram que o grande vencedor destas eleições foi o Chega, partido populista de extrema direita que mais do que duplicou o número dos votos e tornou-se, por exemplo, o primeiro partido nos distritos de Setúbal e Faro e isso é motivo de preocupação.

É que no cinquentenário do 25 de Abril, a extrema-direita está a caminho de se tornar governo em Portugal.