Revisitar o Memorandum anexo

 

1 - amores & tremores democráticos
Muitas das vulnerabilidades individuais podem ser consideradas debilidades breves, transitórias, como por exemplo a ignorância humana, quase sempre equiparada ao misterioso ‘pecado-original’. Não é novidade lembrar que o luto étnico imposto pela ditadura da pobreza, separa vontades, neutraliza inteligências, acicata desconfianças; todavia, muitas comunidades imigrantes continuam orvalhadas pelo suor-frio da vigília duma espera em melhores dias… Viva a Esperança! 
Para minimizar o efeito das beliscaduras alusivas ao desafio do pão-nosso de cada dia, seria bom considerar o cultivo das Ideias ao Desafio, a começar pela reconciliação inteligente das nossas diferenças étnicas, na justificada ânsia de fomentar a união na diversidade…
Servidos pela ferramenta da palavra escrita, vamos sugerir o aplauso sereno face ao rol dos empreendimentos democráticos realizados, desde meados de 1976, pela militância açoreana envolvida no progresso cívico, educacional, empresarial …  Todavia, o dever corajoso de discordar das discutíveis prioridades assumidas pelos campeões da  mediocridade regional, acarreta enorme validade democrática.   
Seria uma tarefa bem-vinda, contrariar a demorada fragilidade psico-democrática insular (muito afeita à teatralidade político-veneradora do novo-riquismo consumista).  Dotados com valiosas especificidades ambientais, os Açores são ilhas naturalmente vocacionadas para oferecer o tipo de serenidade rústica, (tipo de património cada vez mais raro e dificil de encontrar na superfície do atribulado “terceiro” planeta do sistema solar) ... Não… não vamos aceitar cumplicidade no delírio de assoprar farelo chinês no miolo da açorianidade.  Historicamente, os Açores já foram usados como entreposto logístico para os famosos empreendimentos das caravelas de antanho; depois, foram usados  como galeria prisional para gente considerada subversiva pela vigilância salazarista; mais tarde, surgiram ‘bases’ aéreas para protecção ocidental do Atlântico-Norte. Agora, vamos apenas lembrar o seguinte:  até finais de 1980, as ilhas açoreanas eram consideradas o armazém-atlântico gerador de emigrantes ofendidos pelo tradicional  indiferentismo psico-lusitano… 
Perante o delírio de profanar a rusticidade paroquial duma terra outrora pacata, não vale a pena rogar pragas! Não seria novidade descortinar as varandas da desgraça internacional: nos últimos 40 anos, a virgindade açórica tem sofrido as consequências do tráfico ilegal droguista e dos gemidos do bailado da libertinagem sexual…   
Finalizo, já! Até mais ver, continuamos a (sobre)viver sob núvens negras duma temporalidade furiosa: aliás, creio já ter dito o seguinte: o 25 de Abril nem sempre foi capaz de resistir ao atrevimento revolucionário! 
Ora, em vez de continuarmos a ‘abrir a boca’ de espanto face ao conhecido bailado das ‘sapateias-financeiras’, seria preferível ver o ilhéu açoreano (sobretudo o micaelense) optar pelo adequado treino intelectual para enrijecer a própria autonomia psicológica sem se petrificar na veterana glorificação étnica do opus dei . Vejamos: acabámos de mencionar opus-dei , sem arriscar balbuciar a paralela expressão “opus-gay”… (Esta conversa fica adiada sine die).
Curiosamente, não é novidade lembrar que a pobreza moderna não pede esmola, porque prefere viver à sombra da chamada ‘fartura envergonhada’ dos novos-ricos que procuram endeusar o capitalismo, como fonte do turismo droguista, que sabe bem viver sob o pálio da mediocridade simpática, aquela que promove e eterniza os amores & tremores democráticos. Basta! 
 

(*) texto escrito `a revelia do recente acordo ortografico.