Esperança antiga, sempre remoçada

 

1 – Desabafa, esbraceja – sera` que o tempo tem "ouvidos"?
Valerá a pena ignorar a pergunta que se impõe? Ou seja:  a progressiva integração e o exercício da cidadania são ou conquistas auferidas à custa da eventual perda da original identidade étnica do emigrante?
Ao longo dos anos, temos procurado domar o fastio pela leitura dos “tratados a retalho” da sapiência política que, por vezes, tentam surpreender o leitor desprevenido ou menos exigente. Claro que não vamos agora calar o berro dos tradicionais cultores da ventriloquia opinante, ou seja os patuscos narradores dos “acidentes em busca da ambulância”.
Para o pacato leitor atacado pela anorexia política da moda, que significado poderão ter as entrevistas (ou visitas oficiais) em que a plasticidade das perguntas nem sequer disfarça o ensaio prévio das respostas? Haja tino!
Felizmente, entre nós ainda há gente que gostaria de um dia observar o seguinte: legionários académicos, turmas de educadores, conselheiros diplomáticos, empresários – todos congregados na proteccão da dignidade humana.  Entretanto, deveríamos optar pela crítica inteligente à teatralidade social vigente: resistir à tentacão de dormitar sob a pele dos agentes da perpetuidade do status-quo.
Creio não interessa vir a terreiro (re)visitar o quanto do bom (ou do menos bom) tem sido feito no habitual recreio “circuito-fechado” da comunidade açor-americana. Está pois, na hora de arrumar as comendas no prateleiro narcisista do Passado, e agarrar o Presente com os gadanhos do Futuro…

2 – viagem-relâmpago à realidade atlântica
Aparentemente, estamos conversados: Em ambos os arquipélados da Atlante lusitana, o percurso democrático apresenta-se muito cioso do respectivo bordado político artesanal. O que se adivinha é que os actuais mordomos do império regional jamais terão a saudável ousadia de imitar Franklin Roosevelt – sim, o inconfundível líder ocidental que teve a humildade inteligente de aproximar alguns ideais do pragmatismo socialista para ultrapassar a demorada enfermidade capitalista da época…
Afinal, quem anda por aí esquecido das Lutas & Lutos do sonho açoriano...? 
Embarcar! Partir! Partir!... Será que os Açores só são amados à distância?  Isto para lembrar que precisamos de repensar os termos e a metodologia adequados para implementar uma “política de reconciliação inteligente” na convivência da diaspora açoriana… 
 Estamos a tentar dialogar com gente não enamorada pelo eco da voz dos respectivos donos; gente cuja credibilidade não depende do aplauso circunstancial oferecido pela mediocridade dos que adoram marchar em “passo-trocado-de-ganso”…
Não deixa de ser aconselhável caminhar atento aos sinais dum desejado parentesco espiritual na gênese da família humana. Oxalá possamos navegar na “roda mental” que nos leva ao divino princípio de que a Vida é muito mais do que o mistério da higiene biológica. Isto ajuda a supor que a Vida talvez seja uma teimosia para testar os preceitos da prudência - madastra que nos coibe de exercitar a desobediência… na responsabilidade.           
Continuo a imaginar o dia em que a natureza humana consiga libertar-se da tirania das coisas inanimadas. Talvez aconteça o dia em que serei desafiado a escrever uma peça teatral alusiva aos “falares” da trilogia religiosa dos últimos 6,000 anos(?), colocando o Judaísmo espremido entre o Cristianismo e o Islamismo. Oremos, civicamente!
Prezad@s Leitor@s, vamos continuar a navegar rumo à Esperança antiga (aprender com todos, pensar sozinho), sempre remoçada: resolvi não avolumar comentários  alusivos ao recente fenómeno marcelista acontecido nas duas margens do “rio atlântico”. O presidente Marcelo é deveras um compatriota muito conhecedor do percurso psico-político da grei lusitana. Ele certamente já descobriu (tal como o modesto signatário) que o socialismo democrático é um fenómeno que será – uma Esperança antiga mas sempre remoçada… e' pena que os  lideres da comunidade luso-americana nao sintam saudades do Futuro...

 

(*) o autor do texto permanece fiel à antiga grafia.
Rancho Mirage, California