A viagem de Juno, de Pedro Almeida Maia: dos Açores para o mundo…

 

Foi o Rodrigo que me emprestou dois livros do Pedro Almeida Maia (PAM), que muito gentilmente lhos oferecera com dedicatória. Um desses livros é A viagem de Juno, que se lê num ápice, dada a leveza da escrita, mas sobretudo graças ao entusiasmo narrativo.
 A viagem de Juno é um livro de um autor açoriano que nos faz esquecer que é um livro de um autor açoriano. De facto, Pedro Almeida Maia conta uma história que não limita os Açores à geografia, que não se fecha nas brumas seculares, que não evoca a fatalidade da emigração, ou seja, Pedro Almeida Maia atualiza o Arquipélago, torna-o uma possibilidade global e futurista. 
Já Miguel Real, numa recensão crítica dirigida ao mais recente romance deste escritor, Ilha-América, confessa o valor da escrita de PAM, descolada do estereótipo da suposta literatura açoriana: “Nos Açores, nos anos recentes, PAM tem sido o autor que mais longe tem levado esta capacidade de contar (de um modo original) uma história singular, emprestando-lhe uma fluência sintática, uma imaginação semântica e uma impressionante maleabilidade conectiva entre as ideias, servidas por palavras encadeadas por uma portentosa liquidez, sempre avançando na ação para sempre retornar ao ponto de partida, reinterrogando de outro modo o que aparentemente já  fora solucionado, desenhando, assim, um verdadeiro labirinto de conceções ideológicas a partir da caracterização das personagens e dos ambientes físicos no interior de um estilo realista.” (in Jornal de Letras, N.º 1309)
A viagem de Juno apresenta-nos uma ação policial em ficção científica que decorre circa 2050 em vários locais do planeta, mas em que os Açores são génese e terminus de viagem; o centro, vá! A narrativa transporta o leitor para um futuro próximo já fustigado por repentinas alterações climáticas que obrigaram o ser humano a readaptar-se e, nesse sentido, a evoluir ainda mais a nível tecnológico e social. Os Açores usufruem, também eles, dessas inovações, em que, por exemplo, são possíveis viagens ultrassónicas em comboios que levitam no interior de um sistema progressista de túneis instalados no seio dos oceanos. 
É neste cenário de recriação da realidade futura que seguimos as aventuras do jovem Juno e de seu avô, envolvidos numa trama de conspiração internacional em que se reflete sobre os valores humanos e em que se procura a solução que, espera-se, possa vir a reverter as mudanças do clima. Em descrições muito bem conseguidas pelo realismo imaginado e em diálogos de certa forma filosóficos (muitas vezes tratando questões éticas) sobre o “atual” estado da Europa e do mundo e dos desafios com que a Humanidade se defronta, Pedro Almeida Maia oferece-nos um thriller de inspiração cinematográfica que nos prende do início ao fim da estória. 
A viagem de Juno é um livro de excelência não apenas para jovens leitores, mas também para graúdos, pois, para além de entretenimento, próprio deste género textual, quebra as suas próprias barreiras ao encerrar uma mensagem de cidadania muito evidente, alertando-nos para vários desfechos possíveis num futuro que está aí ao virar da esquina e contra que, como tal, devemos, hoje, precaver-nos, escapando ao trilhar de caminhos que poderão não ser de todo favoráveis à vida na Terra. 
Mais: A viagem de Juno poderá ser um abre-olhos ao papel internacional dos Açores. Uma região pacífica como o nosso arquipélago, que se destaca como destino turístico pela Natureza (quase) intacta, poderá servir de exemplo de sustentabilidade a quem nos visita, poderá ser inspiração de progresso para as nações de todo o mundo. Talvez assim se evitem cataclismos naturais mais desastrosos do que aqueles que já se encontram em curso. É que a Natureza sabe o que faz…

 

 

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