Realizou-se dia 5 de janeiro, no Beverly Hilton em Los Angeles, a atribuição dos Globos de Ouro 2025 e a brasileira Fernanda Torres fez história ao tornar-se a primeira lusófona a conquistar o Globo de Ouro de Melhor Atriz na categoria mais cobiçada, a de filme dramático, pelo seu trabalho em “Ainda estou aqui”, ultrapassando nomes como Angelina Jolie em “Maria”, Kate Winslet em “Lee”, Pamela Anderson em “The Last Showgirl”, Tilda Swinton em “The Room Next Door” e Nicole Kidman em “Babygirl.”
Fernanda Torres recebeu o prémio das mãos de Viola Davis e dedicou a vitória à mãe, Fernanda Montenegro, que foi a primeira brasileira nomeada, por “Central do Brasil”, em 1999, mas não ganhou.
“Isto é a prova de que a arte pode perdurar pela vida, mesmo em momentos difíceis como este da incrível Eunice Paiva que eu interpreto”, afirmou Fernanda Torres. “A mesma coisa está a acontecer agora no mundo, com tanto medo, e este é um filme que nos ajuda a pensar como sobreviver em tempos difíceis como este”, acrescentou.
“Ainda Estou Aqui”, filme realizado por Walter Salles, baseia-se na história verídica de Eunice Paiva, que durante 40 anos lutou para descobrir o que aconteceu ao seu marido Rubens Paiva, um ex-deputado que foi levado pela polícia durante a ditadura militar no Brasil. O relato foi contado pelo filho Marcelo Rubens Paiva, num livro com título homónimo publicado em 2015 e que Walter Salles adaptou ao cinema.
O filme também estava nomeado para o Globo de Ouro de Melhor Filme de língua não inglesa, mas essa estatueta foi entregue a “Emilia Pérez”, filme do francês Jacques Audiard, um musical sobretudo falado em espanhol protagonizado pela atriz transgénero Karla Sofía Gascón, Zoe Saldaña e Selena Gomez, e que levou para casa quatro globos de ouro: Melhor Filme Musical ou Comédia, Melhor Filme em Língua Estrangeira, Melhor Atriz Secundária em filme para Zoe Saldaña e Melhor Canção Original, “El Mal”.
Na estatueta final, Jacques Godiard deu o palco a Karla Sofía Gáscon, que aproveitou o momento para deixar uma mensagem ao mundo sobre a comunidade transgénero:
“A luz ganha sempre à escuridão. Podem prender-nos, bater-nos, mas nunca podem roubar a nossa alma, a nossa existência, a nossa identidade. Levantem as vossas vozes e digam: sou o que sou, não o que tu queres”.
Gascón estava nomeada na categoria de Melhor Atriz em filme musical ou comédia, mas perdeu para Demi Moore, 62 anos, que fez um dos discursos mais longos e emotivos da noite lembrando que em 45 anos de carreira foi premiada pela primeira vez interpretando Elisabeth Sparkle em “A Substância”.
“O Brutalista”, vencedor do Festival de Veneza, foi o Melhor Filme Dramático do ano e também deu a Brady Corbet o globo de Melhor Realização e a Adrien Brody o globo de Melhor Ator na categoria de drama.
Brody interpreta o arquiteto húngaro László Tóth na sua fuga para os Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial e ficou emocionado pela vitória, uma vez que é filho de uma húngara que fugiu da Europa pós-guerra.
A série japonesa “Shogun”, que inclui personagens portuguesas, conquistou os globos de ouro na categoria de drama e levou quatro estatuetas para casa: Melhor Série, Melhor Atriz para Anna Sawai, Melhor Ator para Hiroyuki Sanada e Melhor Ator Secundário para Tadanobu Asano.
Retrato ficcional sobre o Japão do século XVI, “Shogun” tem no elenco o português Joaquim de Almeida e o luso-canadiano Louis Ferreira, e já tinha triunfado nos Emmys em setembro.
Jodie Foster levou para casa o galardão de Melhor Atriz em televisão pela interpretação da detetive Liz Denvers em “True Detective: Night Country”, série já na quarta temporada e de cujo elenco faz também parte a cabo-verdiana Kali Reis.
Jodie Foster é uma das atrizes mais premiadas da sua geração e ganhou o Oscar e o Globo de Ouro com “The Accused” (1988), filme sobre o famigerado Caso Big Dan, caso de violação em grupo ocorrido em 1983 num bar de New Bedford e envolvendo quatro portugueses de New Bedford.
No filme, Jodie interpreta Sarah Tobias, a alegada vítima de violação cuja verdadeira identidade era Cheryl Ann Araujo e cuja sorte era pouca.
Depois do julgamento, Cheryl mudou-se para Miami, na Flórida, com as duas filhas de 6 e 4 anos, e o pai das crianças, e procurou refazer a vida tirando o curso de secretariado. Mas no dia 4 de dezembro de 1986, às 4h46 pm, quando regressava a casa de uma festa de Natal com as filhas, embateu com o carro num muro e morreu.
Tinha 25 anos e foi sepultada no Cemitério Pine Grove em New Bedford.
