Têm lugar hoje, 11 de setembro de 2024, em todo o país, cerimónias assinalando o 23º aniversário do dia mais sombrio dos Estados Unidos, os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, quando os Estados Unidos sofreram o maior ataque ao seu território desde o bombardeio japonês à base de Pearl Harbor, no Hawaii, em 1941.
Os ataques do 9/11 foram levados a cabo pela Al-Qaeda, organização fundamentalista islâmica fundada pelo milionário saudita Osama Bin Laden em 1979, por altura da invasão soviética do Afeganistão, com apoio dos Estados Unidos e do Paquistão.
Osama foi apoiado pelos Estados Unidos na luta contra os comunistas, mas incompatibilizou-se com a Guerra do Golfo em 1990 e declarou guerra aos Estados Unidos numa caverna em Tora Bora, no Afeganistão, mas a CIA não avaliou o perigo que aquele tipo de túnica e barba até ao peito representava.
Mas em 1993, a Al-Qaeda fez detonar um carro com 700 quilos de explosivos na garagem da torre norte do WTC matando seis pessoas e foi ainda responsável pelos atentados contra as embaixados dos Estados Unidos em Nairobi e Dar es Salam em 1998 e contra o navio americano USS Cole no Iémen, em 2000.
No dia 11 de setembro de 2001, 19 terroristas sequestraram quatro aviões comerciais de passageiros. Dois aviões que tinham decolado de Boston com destino a Los Angeles, foram desviados e colidiram contra as Torres Gémeas do complexo empresarial do World Trade Center (WTC) na cidade de New York, matando todos a bordo e muitas das pessoas que trabalhavam nos edifícios.
O terceiro avião, que decolou do aeroporto de Washington com destino a Los Angeles, foi embater no Pentágono, a sede do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, no condado de Arlington, Virginia, arredores de Washington.
O quarto avião saiu do aeroporto de Newark, New Jersey, com destino a San Francisco, e foi cair em campo aberto próximo de Shanksville, na Pennsylvania, depois de alguns passageiros e tripulantes terem tentado retomar o controlo da aeronave. Segundo algumas teorias, o alvo do avião seria a Casa Branca ou o Capitólio.
Durante quase 30 anos apresentei o telejornal do Portuguese Channel e naquele dia – uma terça-feira – acabara de chegar ao estúdio do canal de televisão português de New Bedford quando a NBC começou a transmitir imagens da torre norte WTC coberta de fumaça e onde embatera às 8h46 um Boeing da American Airlines que saira de Boston com destino a Los Angeles e tinha sido desviado para New York.
Nesta minha modesta lida de operário de jornais já vivi algumas situações, nomeadamente nos anos 60-70, quando trabalhei no Rádio Clube do Uige, na então cidade de Carmona, em Angola e onde tínhamos a guerra à porta de casa. Mas nada se comparou ao 9/11.
A princípio ainda admiti tratar-se de acidente, mas as dúvidas dissiparam-se às 9h05, quando o segundo avião, um Boeing da United Airlines com 65 ocupantes e que partira também de Boston com destino a Los Angeles explodiu na torre sul do WTC.
Os Estados Unidos estavam a ser atacados por aviões comerciais americanos desviados por kamikazes que se faziam explodir contra prédios símbolo do poderio económico e militar americano, numa nova forma de terrorismo.
O 11 de Setembro é considerado o ataque com o maior número de mortos da história e além disso mudou em vários aspetos os rumos do mundo. Voltámos às guerras santas, as cruzadas levadas a cabo durante 200 anos pela Europa latina contra os muçulmanos para estabelecer o controlo cristão da Terra Santa, só que agora são uns quantos radicais islâmicos que travam a sua cruzada (jihad), que já destruiu milhares de vidas em todo o mundo e não se sabe quando terá fim.
As perdas humanas do 9/11 foram elevadas: 2.977 mortos, incluindo 344 bombeiros e 72 polícias, 265 que iam nos aviões e 125 que estavam no Pentágono.
Após os ataques, 2.753 pessoas foram oficialmente dadas como desaparecidas. No total, 1.653 já foram identificadas, faltando ainda outras 1.100 e as autoridades forenses de New York continuam fazendo testes de DNA com mais de 6 mil amostras retiradas dos escombros.
O mais preocupante é que o 9/11 continua a matar. De acordo com as autoridades sanitárias de New York, mais de 71.000 indivíduos foram diagnosticados com problemas de saúde provocados pela exposição à poeira do Ground Zero (Marco Zero).
Em agosto de 2013, as autoridades médicas concluíram que 1.140 pessoas que se encontravam na Baixa de Manhattan no momento do ataque tinham sido diagnosticadas com cancro devido à “exposição a toxinas”.
O corpo de bombeiros da cidade de New York (FDNY) já perdeu dezenas de membros por doenças relacionadas com o 9/11. No dia dos atentados morreram 344 bombeiros novaiorquinos, mas depois disso, de acordo com o FDNY, já morreram mais 363 bombeiros de doenças relacionadas com o trabalho tóxico de escavar os escombros em busca de sobreviventes ou para recuperar os falecidos.
Das vítimas, 2.605 eram cidadãos americanos e 372 não eram, sendo oriundos de mais de 90 países, incluindo Reino Unido (67 mortes), República Dominicana (47 mortes), Índia (41 mortes), Grécia (39 mortes), Coreia do Sul (28 mortes), Canadá (24 mortes), Japão (24 mortes), Colômbia (18 mortes), Rússia (18 mortes), Filipinas (16 mortes) e México(15 mortes).
Pelo menos sete eram portugueses ou descendentes: quatro deles bancários que trabalhavam nas torres, dois funcionários da Port Authority (autoridade marítima) de New York chamados a socorrer os sinistrados e um gerente de uma empresa de construção que se deslocara à torre norte a fim de apalavrar um trabalho.
Manuel da Mota, natural de Vila Nova de Gaia, 43 anos, trabalhava na Bronx Builders e tinha encontro marcado com os donos do famoso restaurante Windows of the World, no 107º andar da torre norte, que planeavam fazer obras. Chegou minutos antes do primeiro avião embater entre os andares 94 e 98.
João Alberto da Fonseca Aguiar Jr., 30 anos, nasceu em New Jersey, mas foi criado em Portugal (Carcavelos) e regressou aos EUA já adulto. Trabalhava na empresa de corretagem Keefe, Bruyette & Woods, que ocupava o 87º andar da torre sul. Quando se deu o embate na torre norte, o pessoal da torre sul deixou de imediato o edifício, mas enquanto os colegas continuaram descendo as escadas, João parou no andar 60º a falar com o pessoal do Banco Fuji, onde já tinha trabalhado e foi nessa altura que o segundo avião embateu na torre sul.
João Aguiar é um dos heróis do 11 de Setembro que figuram no livro ‘The Hidden Brain’, de Shankar Vedantam, sobre atos de heroísmo no dia dos ataques.
António Augusto Tomé Rocha, 34 anos, trabalhava na gestora financeira Cantor Fitzgerald Securities, no 101º andar da torre norte. O seu último telefonema foi para tranquilizar a mulher, Marilyn: “Um avião bateu contra o WTC, há fogo, muito fumo, mas não te assustes...”
Raymond J. Rocha, 29 anos, também trabalhava na Cantor Fitzgerald, que perdeu 700 funcionários na derrocada. Era natural de Melrose, Massachusetts.
Christopher D. Mello, 25 anos, de Boston, era analista da Alta Communications, poeta e sonhava fazer filmes de animação. Viajava num dos aviões de Boston que embaterem nas Torres Gémeas.
Carlos da Costa, 41 anos, natural de Viseu, era engenheiro eletrónico na Port Authority e desapareceu na derrocada da torre sul. Foi visto pela última vez com dois colegas, a socorrer pessoas presas num elevador.
António José Carrusca Rodrigues, 36 anos, natural de Moçambique, casado, com dois filhos, era polícia na Port Authority, onde era conhecido pela alcunha de Shorty por causa do seu metro e 90 de altura. Estava a ajudar na evacuação da torre sul e tinha descido à cave para ir buscar máscaras e garrafas de oxigénio quando a torre desmoronou.
Rodrigues foi um dos 37 agentes da Port Authority mortos na derrocada. Apenas dois agentes foram retirados vivos dos escombros e o filme World Trade Center, de Oliver Stone, narra o salvamento desses homens: o sargento John McLoughlin e o guarda Will Jimeno, interpretados respetivamente por Nicolas Cage e Michael Pena. Rodrigues também é personagem do filme, interpretada por Armando Riesco.
As cerimónias evocativas das vítimas que se realizam no dia 11 de setembro têm lugar por todo o país, nomeadamente no estado de Massachusetts, onde residiam 206 vítimas.
Mas as principais cerimónias têm lugar no Ground Zero em New York, no local onde se erguiam as duas torres gémeas e onde já existe um novo WTC, inaugurado em 2014 e com uma altura simbólica de 1776 pés (541m), a data da independência dos Estados Unidos, e o 9/11 Memorial Museum, contando toda a história dos atentados, mas sobre os quais há ainda muito que contar.
Recorde-se que coube ao arquiteto português (natural de Lisboa) Luís Mendes, que era comissário assistente de projetos especiais no departamento de Design e Construção da cidade de New York, o pior e o mais gratificante da catástrofe, coordenar a remoção dos escombros e presidir à equipa que desenhou e ali construiu o 9/11 Memorial & Museum, o monumento que é a maior homenagem às vítimas.
O fracasso da CIA em identificar os sinais de alerta dos ataques de 11 de Setembro tornou-se um dos assuntos mais controversos na história dos serviços de inteligência dos Estados Unidos. Houve comissões, análises, investigações internas e a conclusão é que a agência de inteligência norte-americana não se apercebeu do perigo que a Al-Qaeda representava.
Como foi possível que os 19 sequestradores dos aviões armados com estiletes e gás de pimenta não tivessem tido dificuldades em comprar os bilhetes de avião usando os nomes verdadeiros, até mesmo um que figurava na lista dos mais procurados pelo FBI, e ludibriassem os sofisticados sistemas de segurança da nação mais poderosa do mundo?
Como foi possível a maior potência militar, que gasta anualmente 30 biliões de dólares em 26 agências de inteligência e segurança, deixar que os quatro aviões desviados passassem por todos os instrumentos de defesa?
As ordens da defesa aérea já eram na altura intercetar qualquer avião saído de rota num prazo máximo de dez minutos, mas o avião que atingiu o Pentágono andou fora de rota durante uma hora e não foi intercetado pelo NORAD (Comando e Defesa Aérea), que alegou não ter recebido nenhum aviso da FAA (Força Aérea).
Para cúmulo, a própria vigilância aérea do Pentágono foi inoperante. Cinco sofisticadas baterias antiaéreas instaladas em redor do Pentágono e que atiram automaticamente em tudo o que não tenha identificação no radar, tinham sido desativadas naquele dia.
Muitos americanos também gostariam de saber mais pormenores do relacionamento das famílias Bush e Bin Laden.
É certo que Osama era a ovelha ronhosa da família, mas os Bin Laden são a família mais rica da Arábia Saudita depois da família real. O Saudi Binladin Group tem lucros anuais de cinco biliões de dólares e grandes interesses nos Estados Unidos, onde é ou foi acionista da Microsoft e da Boeing, além de ter propriedades em vários estados, nomeadamente Texas, Florida e Massachusetts.
Um irmão de Osama Bin Laden, Salem Bin Laden, foi sócio do presidente George W. Bush numa empresa petrolífera do Texas, a Arbusto Oil Company, tal como o pai, Muammed Bin Laden, já tivera ligações empresariais com o também presidente George Bush pai.
Bush deve também explicações ao facto de ter mandado recolher os membros das influentes famílias sauditas residentes nos EUA, os Saud, a família real e os Bin Laden.
Uma vez que 15 dos 19 sequestradores dos aviões eram sauditas e foram identificados mal sequestraram o primeiro avião, era natural sauditas residentes no país terem sido ouvidos, mas as ordens da Casa Branca ao FBI foram recolher todos os Saud e os 24 Bin Laden residentes no país e juntá-los em Boston, de onde partiram em dois aviões para a Arábia Saudita no dia 19 de setembro, apesar de na altura os EUA terem fechado o seu espaço aéreo.
Dan Rather, então apresentador do principal telejornal da CBS News, também apurou que Osama Bin Laden dera entrada num hospital militar paquistanês em Rawalpindi na véspera dos atentados e poderia ter sido preso na altura, mas só foi abatido durante o mandato de Barack Obama, decorridos dez anos, em 2011, por um comando americano de 20 homens helitransportado numa operação que demorou apenas 40 minutos.
Osama vivia há sete anos em Abbottabad, cidade a 50 km de Islamadad, paredes meias com a principal base militar do Paquistão, sendo praticamente impossível o governo paquistanês não saber da sua presença na cidade.
O New York Times noticiou na altura que o presidente George W. Bush teria sido informado de que a Al-Qaeda preparava o desvio de aviões e ataques durante uma reunião secreta no seu rancho em 6 de agosto de 2001, mas não deu ouvidos.
O ataque favoreceu Bush Jr. politicamente, os americanos deram-lhe mais um mandato para ele acabar com o terrorismo, mas só piorou. Segundo a CIA, quando Bush entrou na Casa Branca havia 43 organizações tidas como terroristas e quando se foi embora eram 80.