Kamala Harris candidata à Casa Branca

 

Num gesto de grandeza num momento crítico, o presidente Joe Biden anunciou dia 21 de julho a desistência da candidatura a segundo mandato na Casa Branca, na qual enfrentava o republicano e ex-presidente Donald Trump. Nos últimos 75 anos, apenas dois presidentes decidiram não se recandidatar, Harry S. Truman e Lyndon B. Johnson.
Numa mensagem aos norte-americanos, na rede social X, Biden diz que apesar de ser sua “intenção alcançar a reeleição” é do “melhor interesse do meu partido e do país que eu saia e me concentre apenas nos meus deveres presidenciais até ao fim do mandato”.
Numa segunda mensagem na mesma rede social, minutos depois, Biden disse que apoia a sua vice-presidente, Kamala Harris, para ser a candidata democrata às próximas eleições presidenciais de 5 de novembro.
“Uma das minhas primeiras decisões em 2020 como candidato foi a de escolher Kamala Harris como vice-presidente. Foi a melhor escolha que fiz. Hoje quero oferecer o meu total apoio a Kamala Harris para ser a nomeada do nosso partido este ano”, disse Biden, deixando um repto: “Democratas é tempo de estarmos unidos e derrotar Trump. Vamos a isso”.
A decisão de Biden era esperada. Várias ações de angariação de fundos dos democratas foram suspensas devido à incerteza sobre a sua continuação depois do debate televisivo no final de junho e no qual saiu com a imagem bastante abalada, correndo rumores de que sofreria de Parkinson.
Os rumores sobre a suposta doença de Joe Biden voltaram a aparecer esta semana, quando foi divulgado pela mídia norte-americana que o neurologista Kevin Cannard se tinha reunido com o médico titular da Casa Branca, Kevin O’Connor.
Em fevereiro, Biden foi descrito pelo dr. Kevin O’Connor como um “homem saudável” e que “continua apto para executar com sucesso os deveres da Presidência”. Contudo, registos oficiais de visitantes da Casa Branca mostraram que um especialista em Parkinson do Centro Médico Militar Nacional Walter Reed, o neurologista Kevin Cannard, visitou a Casa Branca oito vezes em oito meses, incluindo pelo menos uma vez para uma reunião com o médico de Biden.
Desde então, a suspeita de que Biden possa sofrer de Parkinson começou a ser especulada, mas a Casa Branca nega que o presidente esteja em tratamento da doença. Contudo, a semana passada o Comité de Supervisão da Câmara dos Representantes convocou três acessores da Casa Branca com vista a obter informações sobre o real estado de saúde do presidente Biden.
Biden tem estado em isolamento na sua casa de praia em Rehoboth Beach, no Delaware, depois de ter testado positivo de covid-19, mas também está cada vez mais isolado politicamente pois os apelos dos seus aliados para que desista da corrida à Casa Branca subiram de tom.
Segundo fontes próximas, Biden sente-se “zangado e traído” pelo facto de figuras importantes do Partido Democrático, como Nancy Pelosi, Barack Obama e Hillary e Bill Clinton, não terem vindo a público defendê-lo de forma clara.
Obama, segundo o Washington Post, terá mesmo dito de forma privada a vários aliados que Biden “precisa seriamente considerar a viabilidade da sua candidatura”.
Os principais democratas no Congresso terão estado reunidos com Biden nos últimos dias para alertar que a sua candidatura ameaça as perspetivas do partido nas eleições de 5 de novembro. Só na sexta-feira, mais de uma dezena de congressistas e senadores democratas apelaram publicamente ao presidente para desistir das presidenciais. Um deles foi o congressista Seth Moulton, que apelou à desistência de Biden dizendo que o presidente não o reconheceu num evento recente.
A mesma razão de queixa terá o secretário da Defesa, general Lloyd Austin, que é negro. Biden esqueceu o nome dele numa recente entrevista e chamou-lhe “black man”.
Na mensagem divulgada domingo, Joe Biden acrescenta que mais tarde irá falar ao país sobre esta decisão de abandonar a corrida presidencial depois da pressão se ter reforçado com várias figuras importantes do Partido Democrático a pedirem publicamente a retirada da sua candidatura.
Nas últimas semanas, o presidente vinha repetindo em várias situações que apesar das críticas em relação à sua idade (81 anos) e ao seu estado de saúde continuaria a ser o candidato, mas acabou por ceder às pressões públicas e privadas para que abandonasse a corrida.
Fica agora a dúvida se será Kamala Harris a tomar o lugar de Biden como candidata democrata para enfrentar Trump em novembro, ou se a escolha será outra na convenção dos 4.600 delegados democratas que se realizará de 19 a 22 de agosto em Chicago.
Mas Kamala é a opção mais lógica e o NY Times noticiou que o Partido Republicano já está a preparar uma grande campanha de propaganda para atacar a vice-presidente com anúncios focados no seu historial enquanto procuradora-geral da Califórnia, quando foi a primeira mulher e a primeira pessoa negra a tornar-se procuradora-geral.
Por tal motivo, a desistência de Biden é histórica e abre caminho para que a vice-presidente Kamala Harris, nascida a 20 de outubro de 1961 (59 anos), em Oakland, CA, filha de pai jamaicano e mãe indiana, e portanto uma pessoa de ascendência negra e asiática, se candidate à presidência dos Estados Unidos.
Quem é afro-americano? Após a abolição da escravatura, com o advento das leis discriminatórias, foi necessário definir quem era negro nos Estados Unidos e começou a ser aplicada a “one-drop rule” (regra da gota única), que dizia que qualquer pessoa com qualquer tipo de ascendência africana, mesmo que muito pequena, era considerada negra.
A “one-drop rule” esteve na origem das leis de segregação racial e começou por ser aplicada no Tennessee seguindo-se Louisiana em 1910, Texas e Arkansas em 1911, Mississippi em 1917, Alabama e Georgia em 1921, Carolina do Norte em 1923, Virginia em 1924 e Oklahoma em 1931. Essas leis só mudaram em 1965 devido à aprovação do “Voting Rights Act”, a lei que proibiu a supressão de voto dos negros.
As leis da segregação racial podem ter acabado, mas o racismo continua. Em Angola, por exemplo, Kamala Harris seria considerada mulata, mestiça ou cabrita (filha de branco e de negra, ou o contrário), mas nos Estados Unidos é considerada negra, tal como Barack Obama, embora o ex-presidente seja 50% branco, uma vez que a sua mãe era branca.
Portanto, mesmo entre democratas nem todos verão com bons olhos as origens raciais de Kamala, mas a 103 dias das eleições não parece que apareçam outros candidatos democratas.
Uma sondagem realizada este mês pelo Washington Post-ABC News-Ipsos revelou que 44% dos americanos disseram que ficariam “satisfeitos” se Biden se afastasse e Harris se tornasse a candidata democrata.
Por outro lado, Kamala é uma democrata pura que chegou à Casa Branca como número dois de Biden depois de o ter desafiado nas primárias. Tem a experiência do Senado (2017-2021) e, durante seis anos, a experiência de procuradora geral da Califórnia (2011-2017) e, anteriormente, promotor público em San Francisco (2004-2011) e promotor público assistente em Oakland (1990-98).
Feminista confessa (o seu gesto de vestir branco na noite da celebração da vitória democrata em Wilmington lembrou o papel das sufragistas), vem há meses fazendo campanha (mais de 60 viagens) e discursando sobre o direito do aborto, a guerra na Faixa de Gaza e as questões raciais, fazendo a sua própria campanha como se estivesse a prever o que veio a acontecer.
Alguns democratas estão confiantes de que, agora que Biden renunciou à candidatura e com Harris protagonista central da campanha democrata, ela consiga manter pelo menos os eleitorados latino, feminino e afro-americano, que foram decisivos para a vitória de Biden em 2020 e que hoje se dizem muito desencantados com ele.
As atenções concentram-se em quem ela chamará para candidato a vice-presidente e o nome mais falado é Josh Shapiro, 51 anos, governador da Pensilvânia, o maior swing state, ou “estado pêndulo” – aquele que pode inclinar-se para um partido ou outro, dependendo dos candidatos. Antes de assumir o cargo, em 2022, derrotando um rival da extrema-direita apoiado por Donald Trump, Joe Shapiro foi eleito duas vezes procurador-geral da Pensilvânia e denunciou as agressões sexuais cometidas por padres católicos contra milhares de crianças.
Nos bastidores do Partido Democrático circulam também os nomes dos governadores do Illinois, J.B. Pritzker; da Carolina do Norte, Roy Cooper; do Maryland, Wes Moore, e Andy Beshear, do Kentucky, mas com possibilidades mais limitadas. Também são apontados os nomes das senadoras Elizabeth Warren e Amy Klobuchar, e do secretário dos Transportes, Pete Buttigieg, ex-candidatos presidenciais em 2020.
Entretanto, a liderança do Partido Democrático já está a trabalhar na campanha e o principal argumento é que Trump não é um bom candidato, a única eleição que o ex-presidente venceu foi em 2016 e, depois disso, nada. Liderados por Trump, os republicanos perderam a Câmara dos Representantes nas eleições legislativas de 2018; perderam a Casa Branca em 2020 e, em 2022, perderam o Senado e mal conseguiram manter a Câmara. Por outro lado, o Partido Democrata espera um terceiro fenómeno proveniente da Europa. Os democratas apostam que Trump se apoia na extrema-direita e que isso poderá assustar uma parte dos eleitores independentes e dar origem a uma reação anti-extrema-direita nos Estados Unidos semelhante à que impediu semanas atrás o partido de Marine Le Pen de chegar ao poder em França.
Estes fenómenos e Kamala Harris permitem aos democratas aumentar as esperanças de uma nova surpresa, talvez a maior de todas neste momento: manter a Casa Branca.

Festa do Espírito Santo em Martha’s Vineyard
Desde 1930, há quase um século, que a Holy Ghost Association of Martha’s Vineyard organiza a sua festa do Espírito Santo e voltou a acontecer dias 20 e 21 de julho no Portuguese American Club de Oak Bluffs.
A primeira celebração teve lugar em 1928 na DeBettencourt Farm e ao longo das décadas a tradição manteve-se na comunidade, disse a presidente do Portuguese American Club, Gina deBettencourt, cuja família colabora na organização da festa há gerações.
“O meu avô foi um dos fundadores do clube. A minha tia dirigiu a festa durante anos. Fui presidente do clube durante anos. É tudo uma questão de património”, disse Gina, que começou a liderar a festa na década de 1990.
O PA Club angaria fundos para bolsas de estudo, famílias necessitadas e outras causas comunitárias.
O desfile da coroação percorre Oak Bluffs pela Circuit Avenue com carros decorados com bandeiras portuguesas, bem como uma banda filarmónica e um grupo folclórico, que costumam ser a Portuguese Independent Band e o Grupo Folclórico do Santíssimo Sacramento, ambos de New Bedford.
Veículos dos bombeiros e da polícia de Oak Bluffs e outras localidades também participam no desfile, que há muitos anos passa pelo Cemitério do Sagrado Coração para colocação de coroas de flores em homenagem aos membros do clube luso-americano falecidos.
O desfile termina no Portuguese American Club em Oak Bluffs, onde são saboreadas as tradicionais sopas e malassadas fritas na ocasião.
Quem teve casa em Martha’s Vineyard e costumava aparecer no clube português a saborear as sopas do Espírito Santo era a atriz Meg Ryan. Mas em 2019, Meg vendeu a casa por 9 milhões de dólares e mudou de ares.