Cantora Sara Tavares morre aos 45 anos e deixa familiares nos EUA

 

A cantora e compositora portuguesa Sara Tavares, 45 anos, morreu no passado domingo, 19 de novembro, no Hospital da Luz, em Lisboa, perdendo a luta contra um tumor cerebral que lhe havia sido diagnosticado em 2009.
Sara Alexandre Lima Tavares nasceu em Lisboa a 1 de fevereiro de 1978, filha de cabo-verdianos que imigraram para Portugal, a mãe natural de Santo Antão e o pai de Santiago. O casal separou-se, a mãe foi viver para o Algarve e o pai imigrou para os EUA, onde Sara atuou várias vezes e deixa irmãos, sobrinhos e outros familiares.
Sara foi criada no Pragal, em Almada, por uma ama portuguesa, que considerava como avó e que cuidou dela até falecer, quando Sara contava 18 anos. Foi uma menina que cresceu à pressa e ganhou ideais muito cedo.
Em 1994, aos 16 anos, Sara Tavares apanhou o barco de Cacilhas para atravessar o Tejo em direção ao Terreiro do Paço, em Lisboa. Depois o autocarro para os estúdios da SIC, no Alto de São João, onde ia ser gravada a primeira edição do “Chuva de Estrelas”. Nessa mesma noite, subiu ao palco e cantou o tema “Greatest Love of All”, de Whitney Houston, ganhou o concurso de talentos e conseguiu conquistar o coração de milhares de portugueses com a sua voz doce.
A voz passou de um mero brinquedo para um instrumento fundamental em 1996, quando Sara foi convidada para participar no Festival da Canção por Rosa Lobato Faria interpretando “Chamar a Música”. Sara ganhou, foi representar Portugal no Eurovisão, que se realizou em Dublin e obteve, na altura, a melhor pontuação de sempre, um oitavo lugar.
Depois foram quase 30 anos a cantar, a compor e a construir o seu legado no mundo da música, passando pelas mornas e coladeiras, e assumindo-se como “filha da diáspora cabo-verdiana”.
Em 1996, gravou o primeiro álbum, “Sara Tavares & Shout”, um single gravado com um grupo gospel formado especialmente para acompanhá-la, sob a coordenação de um missionário norte-americano, Dale Lee Chappell. 
Seguiu-se o primeiro álbum a solo, “Mi ma bô” (que em português significa “Eu e tu”), produzido pelo congolês Lokua Kanza. Foi disco de ouro em 2000 e Sara Tavares ganhou um Globo de Ouro como melhor intérprete do ano em Portugal.
Nas duas décadas seguintes, editou vários álbuns que a aproximaram das raízes cabo-verdianas, com destaque para “Balancê” (2005), que lhe valeu um disco de platina e uma nomeação como Artista Revelação aos prémios BBC Radio 3 World Music.
Ao longo da carreira, a cantora realizou colaborações com grandes artistas como Richie Campbell e chegou a gravar um tema com Nelly Furtado, “The most beautiful thing” (2012).
A Disney chegaria a fazer uma menção honrosa à cantora quando esta interpretou o tema “Longe do Mundo”, do filme “O Corcunda de Notre Dame”, considerada a melhor versão internacional.
Em 2011, recebeu o Prémio de Melhor Voz Feminina nos Cabo Verde Music Awards e, no ano seguinte, deu continuidade à digressão internacional “Xinti”, título do álbum editado em 2009, que lhe valeu o Prémio Carreira do África Festival, na Alemanha. Em 2018, esteve nomeada para os Grammy Latino com o quinto álbum, “Fitxadu” (2017).
Ao longo de quase três décadas de carreira, Sara Tavares lançou temas de grande sucesso e tornou-se uma das vozes mais incontornáveis da música portuguesa com participações em grupos como a Rias Big Band de Berlim ou o coro de gospel norte-americano Ministers of God. Ou passando, ainda, pelos duetos gravados com Nuno Guerreiro (“Solta-se o Beijo”, um dos maiores êxitos da Ala dos Namorados) e pela ida a festivais internacionais como o Womex, em Roterdão, além de concertos em inúmeros países.
A partida de Sara Tavares, com apenas 45 anos de idade, marca o fim de uma vida recheada de vitórias e conquistas. A menina do Pragal deixa um legado importante na história de Portugal e de Cabo Verde.