O adeus a Joseph Silva

 

Joseph Silva faleceu aos 72 anos na passada segunda-feira, 15 de julho, no hospital de São Lucas em New Bedford.
Nasceu em Rabo de Peixe, São Miguel, Açores e foi casado com Laurinda (Lopes) Silva natural de Mangualde, Beira Alta, por 54 anos.
Joseph Silva veio para os EUA em 1967 tendo-se radicado em Fall River, mudando-se mais tarde para Dartmouth. Trabalhou como canalizador sempre direcionado a trabalhos federais e fundou a Silva Construction Co. Inc. até à reforma.
A sua reconhecida dedicação à herança portuguesa levou-o a pertencer às mais diversas organizações, entre as quais e baseada na sua origem, foi presidente dos Amigos de Rabo de Peixe. Fundador e presidente da Irmandade do Senhor Bom Jesus da Vila de Rabo de Peixe. Associado, presidente da Assembleia Geral, vice-presidente e presidente da Banda de Santo António em Fall River. Vice-presidente e presidente das Grandes Festas do Espírito Santo da Nova Inglaterra. Mordomo das típicas festas do Espírito Santo do Campo do Tio Mateus em Rehoboth. 
Associado das mais diversas organizações. 
Devoto, católico praticante, sempre acompanhado pela sua esposa, recebeu por várias vezes as insígnias do Espírito Santo na sua residencia.
Nos tempos livres dos afazeres profissionais,
Joe Silva gostava de participar nas atividades comunitárias. Ouvir música.Passar tempo com a família. Gostava de dançar com a esposa. Jogar às cartas com os netos. Ouvir o seu neto a tocar saxofone.
Deixa, além de sua esposa, Laurinda (Lopes) Silva, a filha Brigitte em Dartmouth, o filho Joseph Silva, Jr. em Taunton, o neto Christopher Coelho em Dartmouth. Tal como Joe Silva, costumava dizer, perdi a minha filha (falecimento) Karen Coelho e a minha esposa, tal a dor da perda.
Deixa ainda os irmãos Donatilcia Faria em Somersett, Bruno Silva em Swansea, Carina Silva em Swansea e Fátima Mota em Somersett. Varios sobrinhos e sobrinhas.
As cerimónias fúnebres estiveram à responsabilidade da Silva-Faria Funeral Home em Fall River.

 

Imortalizando os nossos heróis 

A última procissão de Joseph Silva coordenador das Grandes Festas do Divino Espírito Santo da Nova Inglaterra 

Era o dia 14 de julho de 2024 pelas 1:00 hora da tarde. Domingo, quente e húmido.
Após a missa de coração na igreja de Santo António das festas do Espírito Santo da centenária banda de Santo António de Fall River a mais antiga nos EUA começava a procissão de regresso à sede daque agrupamento musical. 
A frente, como sempre, altivo e impecável, Joseph Silva, presidente da assembleia geral da banda nos seus reluzentes 120 anos de existência a que já tinha presidido e que levou em históricas digressões.

E quando nada o fazia crer falamos com Joseph Silva antes do início da procissão. Perfeita articulação das palavras. Ideias explícitas e corretas. Falamos das Grandes Festas. Passos certos na caminhada à frente da banda. Quando fotografamos. 

E num mundo incerto e suscetível das mais trágicas ocorrências, estava traçado que esta seria a última procissão de Joseph Silva.  
Já por volta das 9:00 da noite, tentámos o contacto telefónico. Não obtivemos resposta, que em nada nos estranhou, dado as fortes temperaturas que se fizeram sentir.
Respondeu-nos na manhã seguinte, dia 15 de junho, passava das 9:00 da manhã. E diz-nos: “Vou a Fall River falar com o bispo para acertar o local da santa missa de coroação das Grandes Festas, dado que a catedral vai entrar em obras. Sobre a lista dos convidados oficiais para as Grandes Festas, já publicada no Portuguese Times, serão fornecidos novamente pela vice-presidente Márcia Sousa, que sabe mais do que eu nas políticas de posições”. 
E lá seguiu Joseph Silva para Fall River.
Pelo que depreendemos, a reunião deve ter sido breve.

Contactámos Márcia Sousa a pedir a lista oficial dos convidados e posições hierárquicas e recebemos uma resposta inesperada.  “Cala-te”.

E a resposta cai como uma bomba: “O Joe Silva morreu. Foram encontrá-lo morto em casa”. Ao que replicámos:

“Estive há pouco tempo, a falar com ele. Direi por volta das 9:00 da manhã. Disse-me que ia para Fall River falar com o bispo”.

E diz a Márcia: “Ofereci-me para ir com ele e disse-me que não era necessário. E recebi um telefonema do filho entre o meio dia e a uma hora a informar que o tinham encontrado morto”.
Perdeu-se um grande pilar de sustento das Grandes Festas.

Depois da montagem do arco de identificação à entrada para o Kennedy Park. Depois da montagem da coroa bela e relevante. Depois da montagem do Império. O homem respirava de alívio.

Por sua vez os pavilhões, dado o seu tamanho, era trabalho de companhia. 

E agora dizia-nos ele respirando alegria: “Vamos trazer a coroa e em frente ao Império rezar o Terço. Depois vamos servir as Sopas do Espírito Santo aos milhares presentes.
Passando pela noite da juventude. Vamos fazer a bênção e distribuir 350 esmolas. Sábado. Ai o sábado. Esse grande sábado do cortejo etnográfico do bodo de leite. São milhares a ver e milhares a desfilar.
O domingo. Grande no seu conteúdo. Missa de Coroação. Procissão de coroação com as irmandades. Presença do bispo convidado e demais entidades religiosas e civis. E a concluir o Jantar de encerramento”.

Era assim que Joe Silva falava anualmente para o Portuguese Times e temos a certeza, esperançado que alguém lhe siga as pisadas, não diremos uma só pessoa, mas as tarefas que ele acumulava divididas por várias. 

 


O que eles disseram sob Joseph Silva

Podiamos descrever, com poucas probabilidades de erro, o que foi a vida associativa de Joseph Silva.
Tal foi a imensidade de vezes que sobre ele esrevemos no Portuguese Times que voltamos a sublinhar ter sido esta a finalidade da sua fundação. Projetar e imortalizar os feitos comunitários. São páginas e páginas semalmente dentro deste teor, que vêm à luz dia e em que Joseph Silva foi protagonista dado o seu forte relacionamento com o êxito comunitário. 
Partiu. Mas deixou-nos um legado que devemos preservar e projetar. 
Banda de Santo António de Fall River a mais antiga nos EUA com 120 anos de existência,
Grandes Festas do Divíno Espírito Santo da Nova Inglaterra prestes a completar 40 anos movimentando mais de 200 mil pessoas anualmente. 
E Irmandade do Bom Jesus da Vila de Rabo de Peixe, fundada em 2008, num tributo à terra de origem.
Mas vamos ver o que dizem os que lidaram de perto com o já saudoso Joseph Silva. Sabemos de antemão que vai ser um tributo único. Como aliás são todas as reportagens semanais.

 

“Palavras são incapazes de descrever a tristeza que sinto pela sua perda”
- Márcia Sousa
vice-presidente das Grandes Festas, conselheira das Comunidades Portuguesas e Diáspora Açoriana

“Perder um amigo como o Joe faz-me sentir orfã novamente. Como sabem o Joe era natural de Rabo de Peixe e por isto sempre partilhamos esta relação especial de proximidade, de amizade e quase paternal pois dava conselhos e orientações assim que podia.
Desde sempre o vi envolvido em atividades e ligado a organizações e bandas de música, sempre com um sentido de responsabilidade e de entrega à causa pública.
Para quem teve oportunidade de conviver com ele pode testemunhar o seu Elevado sentido de responsabilidade e trabalho. 
Tinha uma personalidade forte e de um líder natural, mas tinha um coração grande. Só por ser grande e forte é que conseguiu levar a cabo os projetos onde estava implicado. 
Quem assume responsabilidades públicas, ou se envolve e assume cargos de responsabilidade tem de agir de determinada forma e tomar decisões, por vezes não agradando a muitos e criando alguns sentimentos menos bons, mas é preciso ter coragem e ser resiliente para seguir firme. Não é porque o Joe partiu que agora é uma pessoa importante, o Joe é um homem especial. 
Marcou a vida de cada um de nós. 
Com a sua partida a nossa comunidade ficou mais pobre, eu fiquei mais pobre!
Neste momento de luto e de dor para a sua familia e amigos estendo minha mão para oferecer o meu apoio e compaixão. Que a sua memória seja uma fonte de força e inspiração. Meus mais sentidos pêsames”.
Até sempre meu irmão rabopeixense.

 

“Conheci Joe Silva na presidência da Banda de Santo António em Fall River”
- Clemente Anastácio, então coordenador do Cortejo Etnográfico do Bodo de Leite das Grandes Festas

“Era um rapaz muito devoto do Espírito Santo. A sua passagem pelas Grandes Festas do Divino Espírito Santo da Nova Inglaterra é histórica. Vai perdurar para sempre no historial desta manifestação sócio-cultural.
Mas eu conheci Joe Silva antes da sua ligação às Grandes Festas. Precisamente na presidência da centenária Banda de Santo António de Fall River. Tinha imenso orgulho de que a sua banda estivesse na abertura das Grandes Festas atuando à sombra da Coroa e do Império no Kennedy Park na cerimónia durante a bênção das pensões, quase sempre presidida pelo bispo visitante. 
Mas para completar a presença da banda de Santo António nas Grandes Festas. Esta devia ser uma das a interpretar um dos hinos no final do Cortejo Etnográfico do Bodo de Leite e no final da Procissão de Coroação.
Nas Grande Festas é difícil explicar o seu contributo ao êxito das mesmas. 
Curiosamente eu e o Joe fomos visitar o senhor Heitor Sousa, que já estava um pouco “atrapalhado”. E o senhor Heitor Sousa ao reconhecer as qualidades de Joe Silva diz-lhe: “Tens um grande projeto sob a tua responsabilidade. Não vai ser fácil. Mas sei que vais conseguir. E conseguiu”, sublinha Clemente Anastácio ao PT que continua: “Sabia e gostava de fazer. E para não me alongar muito direi que ficam no seu historial da passagem pelas Grandes Festas o serviço pela primeira vez das Sopas do Espírito Santo no Kennedy Park e o arco de identificação das Grandes Festas à entrada do Kennedy Park. Que mais posso dizer – Paz à sua Alma”.

 

Joseph Silva era uma pessoa diferente, de um tratamento impecável, essencialmente positivo”
- Ramiro Mendes, secretário das Grandes Festas

“Dava gosto trabalhar com Joe Silva. Era o que se pode chamar de uma pessoa diferente. Uma pessoa impecável no tratamento. Podia-se falar com ele. Sabia ouvir e sabia concretizar ao que se propunha. Exigente consigo mesmo. Muito sabedor dos meandros das Grandes Festas. Não havia nada que não estivesse ao seu alcance. Vai ser uma grande falta. Ou melhor já está a ser. Havia pormenores dos programos de que já tinhamos falado. Mas que ele já tinha a conclusão. Agora já temos de procurar através dos intervenientes. Era um homem de experiência feito. Que trouxe para as Grandes Festas. Que ele coordenava desde o minuto em que se concluia uma edição até  ao Segundo em que se iniciava a seguinte. 
Vivia as Grandes Festas. Vai ser uma falta que se vai repercutir no desenrolar das Grandes Festas. Vai ser uma grande falta” concluiu Ramiro Mendes, secretário das Grandes Festas do Espírito Santo da Nova Inglaterra”.

 

“Convidou-me para presidente das Grandes Festas, passava de uma mordomia dos Amigos da Terceira para à frente das mordomias da Nova Inglaterra, a maior procissão e o maior cortejo etnográfico”
- Herberto Silva, presidente das Grandes Festas do Espírito Santo da Nova Inglaterra

“Joseph Silva, na qualidade de coordenador geral tinha entre outras responsabilidades a escolha do presidente para dar continuidade a grandeza destas festas.
Tive conhecimento que tirou informações àcerca do meu desempenho nas funções junto dos Amigos da Terceira.
Era um homem frontal. Não fugia às responsabilidades. Tentava colocar as pessoas certas nos lugares certos. Só acreditava no sucesso. Podemos acrescentar ter conseguido as suas iniciativas.

 

“Sendo difícil encontrar uma explicação para o sucedido, o falecimento de Joseph Silva é uma grande perda para a família, para a comunidade e para as Grandes Festas em Fall River”
- Francisco Fernandes, coordenador do cortejo etnográfico do bodo de leite das Grandes Festas

Francisco Fernandes, elemento ativo junto da mais antiga, ativa, igreja portuguesa nos EUA, Nossa Senhora do Rosário em Providence, sucedeu a Clemente Anastácio na complicada tarefa da coordenação do cortejo etnográfico do bodo de leite. Tem dado muito boa conta do recado. Tem pela frente uma grandiosa manifestação sócio cultural das Grande Festas.
“Torna-se difícil acreditar o que aconteceu. Era um homem sempre disposto a ajudar. Foi para mim um grande apoio nestas funções de que me responsabilizei junto das Grandes Festas.  Sabiamos que tinhamos ali uma pessoa capaz de uma informação oportuna. Recordarei para sempre a forma correta de ele trabalhar comigo e aliás com toda a gente. Não vai ser fácil, mas temos de continuar com as Grandes Festas em homenagem ao que ele fez por esta grande iniciativa. Estava a par de tudo. Tinha sempre uma resposta oportuna. Tal como comecei custa a acreditar o que aconteceu. Mas em homenagem a Joe Silva
ao seu trabalho temos de continuar”. 

 

 

Constituiram um sentido e profundo movimento de pesar as cerimónias fúnebres de Joe Silva
As palavras de Joe Silva Jr. retrataram os sentimentos dos presentes

 

Era sábado, 20 de julho de 2024. As instalções da Silva Faria Funeral Home em Fall River recebiam todos os que apresentavam um último adeus a Joe Silva.
Eram muitos. Diremos mesmo muitos. As ruas onde passava o funeral apresentavam uma longa fila de carros, da casa mortuária para a igreja do Espírito Santo em Fall River, cuja data de fundação é de 19 julho de 1904. As cerimónias estiveram a cargo do padre James Ferry coadjuvado pelo padre Jack Oliveira, cuja ação foi notória no apoio na parte religiosa das Grandes Festas, até à sua reforma, razão pelo qual a sua aproximação a Joe Silva. O coro esteve entregue à voz melodiosa de Catarina Avelar. A talentosa jovem que acompanhou a banda de Santo António de Fall River na histórica digressão às festas do Senhor Santo Cristo em Ponta Delgada em 2017, quando Joseph Silva era presidente.
Tudo isto está relacionado. Desde a preferência dada à igreja do Espírito Santo pela profunda devoção de Joe Silva à Terceira Pessoa da Santíssima Trindade. A presença de Catarina Avelar, jovem que Joe Silva sempre admirou e que levou a dar concerto de Natal com a banda de Santo António e que numa execução primorosa fez ouvir Avé Maria na parte final das cerimónias religiosas perante uma igreja cheia que delirou ao ouvir o hino do Espírito Santo na igreja do Espírito Santo. Que melhor despedida se podia dar a Joseph Silva.

“Era um homem que sabia o que queria e fazia por o conseguir. Só acreditava na perfeição. Nunca acreditava que “menos é mais”. Trabalhava afincadamente para concluir o trabalho.Era determinado em tudo, aprendendo por si própio”, disse Joe Silva Jr. no decorrer das cerimónias fúnebres na igreja do Espírito Santo.
Joseph Silva Jr. teve a difícil tarefa de falar sobre a vida do pai, várias vezes atraiçoado pelas lágrimas, o mesmo sucedendo à maioria dos presentes que se retratavam nos sentimentos expressos.
“Através dos anos o meu pai ouviu críticas por uma razão ou outra. Contudo tem sido reconfortante ver e ouvir as demonstrações de amor e admiração de muitos de vós pelo homem que orgulhosamente, cujo nome posso repartir com vocês”.

E Joe Silva Jr prossegue:

Tenho de admitir e muitos de vós que com ele lidaram sabem que não era um homem muito paciente. Era um homem que sabia o que queria e fazia por o conseguir. Só acreditava na perfeição. Nunca acreditava que “menos é mais”. Trabalhava afincadamente para concluir o trabalho.Era determinado em tudo, aprendendo por si próprio. Recordo certa vez querer fazer algo no computador. Não conseguiu. Pediu-nos ajuda. Dissemos que aparentemente não podia ser feito. Não desistiu e conseguiu o que “college kids” não conseguiram. Foram estes atributos e determinação que o levaram a conseguir muito na sua vida”.
E joseph Silva Jr. prossegue num clima de gente atenta no silêncio absoluto da igreja onde as lágrimas atraiçoavam os presentes:
“Veio para os EUA trabalhando por uma melhor qualidade de vida. Optou pela cidadania americana. Aprender inglês. Ultrapassou as barreiras que se lhes depararam. Foi mecânico de canalização. Após várias ocupações profissionais optou por abrir com sucesso a companhia com a minha mãe que manteve durante 20 anos com êxito absoluto. A certa altura despertou no meu pai o gosto pelo associativismo, tendo presidido a algumas das organizações que conheceram o seu êxito”.
E sob o teto da centenária igreja do Espírito Santo que recolhe anualmente a maior romaria quaresmal congregando mais de 300 romeiros prestava-se homenagem de corpo presente a Joseph Silva. Um homem generoso. Sempre pronto ajudar um amigo. Um elemento familiar. Um estranho necessitado.
“Não apenas construiu a casa para a sua família. Mas uma casa repleta de segurança, amor e compreensão. Nunca se ia para a cama zangados. Sentia a educação como um bem primordial. Todos recebemos educação. E nesta forma de pensar surgiram os filhos que eram tudo para ele: “Karen, Brigitte, Cristopher, o único neto e o seu orgulhoso músico”, concluiu Joseph Silva Jr, o seu ajudante, o seu amigo. O seu júnior. “O amor que tinha por todos nós era repartido pela minha mãe”.
E numa última homenagem, onde as palavras por mais explícitas que sejam dificilmente traduzem os sentimentos do autor, Joseph Silva Jr. refere:

“Os meus pais passaram por sustos financeiros, perda de familiares, a perda dos próprios pais, a própria filha Karen. Atravessaram estes tempos juntos. Assente no amor que sempre os uniu”.