Dia 10 de maio de 2005, Shirley May Souza Reine, 51 anos, foi encontrada morta com dois tiros – um na cabeça e outro no peito – dentro do seu carro na garagem da sua casa em 657 East Falmouth Road, em Falmouth, no turístico Cape Cod, Massachusetts.
Shirley foi baleada na noite anterior, ao regressar a casa após jantar com a irmã e a sua morte ocorreu 10 dias antes de enfrentar os dois enteados em tribunal pelo controlo da lucrativa empresa de recolha de lixo de dois milhões de dólares pertença do marido.
Melvin Reine era camionista e tinha fama de violento, sendo alcunhado a Raposa de Falmouth. Em 1968, foi condenado por fogo posto a oito anos na Penitenciária de Walpole, mas 18 meses depois era um homem livre.
Antes da sua passagem pela prisão, Melvin casou com Wanda Medeiros, natural de Falmouth, que deu à luz os seus dois filhos, Melvin Reine Jr. e Todd Reine. Em 12 de março de 1971, aos 25 anos, Wanda desapareceu e nunca mais foi vista. Melvin disse que a foi levar à estação dos autocarros para ir visitar um primo em Wareham, mas ela nunca visitou o primo.
A polícia investigou várias pistas, inclusivamente realizou escavações nas fundações de uma casa construída por Reine, mas não foi encontrado nenhum corpo.
Em 1971, quando Wanda desapareceu, Shirley Souza, 18 anos, a segunda das três filhas de um casal português vizinho dos Reine, começou a tomar conta dos filhos de Melvin e, em 1972, foi viver com ele e acabaram por casar em 1999 após décadas de vida em comum.
Melvin Reine Sr. esperava que os filhos assumissem um dia o seu negócio, a Five Star Enterprise, mas na década de 1990 a relação entre eles deteriorou-se, Melvin Reine Jr. e Todd Reine foram trabalhar para outra empresa de recolha de lixo e cortaram relações com o pai. Em outubro de 2001, Melvin reviu o seu testamento, deserdou os filhos e transferiu o controlo do negócio e bens para Shirley, que era quem efetivamente geria o negócio.
Em junho de 2002, a relação entre Shirley Reine e os enteados atingiu o ponto mais baixo de sempre, quando Melvin Jr. e Todd procuraram a polícia com informações que levaram a uma busca à casa da madrasta. A polícia descobriu duas carrinhas que suspeitavam terem sido roubadas, Shirley foi detida, mas as acusações foram posteriormente retiradas. Contudo, o verdadeiro problema estava apenas a começar.
Três meses depois, a casa de Shirley foi assaltada e um cofre contendo documentos financeiros e vídeos de sexo foi roubado. Em março de 2003, os filhos de Melvin intentaram uma ação judicial contra a madrasta, alegando que o pai não era mentalmente competente quando reescreveu o testamento e os documentos financeiros que tinham desaparecido da casa de Shirley foram incluídos como prova. Pensavam também que os vídeos comprometiam a madrasta com vários amantes, pois nessa altura Melvin já estava no hospital.
A queixa dos enteados contra a madrasta estava previsto ir a julgamento a 19 de maio de 2005, mas dez dias antes Shirley foi morta.
Ponto assente, Melvin Reine Sr. não foi autor dos disparos que mataram a mulher. Em 2001, embateu no carro de uma turista e ameaçou matar a mulher, revelando problemas psiquiátricos. Foi-lhe diagnosticada Doença de Pick, uma forma de demência, e deu entrada no Hospital Estadual de Taunton, manicómio onde são internados doentes mentais acusados de crimes.
Melvin passou os últimos 12 anos da sua vida no hospital de Taunton, faleceu em 2013, aos 74 anos, talvez levando consigo os segredos da morte das duas mulheres e outros crimes que continuam um mistério.
O temperamental Melvin exaltava-se quando Shirley recebia atenções de outros homens, especialmente do seu último namorado, Charlie Jeffrey Flanagan, 17 anos. Em 1972, Shirley e Jeffrey foram ao cinema, Melvin Reine Jr. viu Shirley com Jeffrey e disse ao pai. No dia seguinte Jeffrey foi encontrado morto com um tiro na cara num campo de cranberry perto da casa de Melvin. Apesar das suspeitas, a polícia nunca conseguiu ligar Melvin Sr. à morte de Jeffrey.
Em 1978, outro adolescente, Paul Alwardt, convocado para testemunhar contra Melvin Sr. num caso de fogo posto, desapareceu misteriosamente durante uma viagem no ferry boat da ilha de Martha’s Vineyard para Falmouth.
Em agosto de 1979, o jovem polícia John Busby deteve dois membros da família Reine o que quase lhe custou a vida. Na noite de 31 de agosto, um veículo parou a seu lado, alguém abriu fogo com uma caçadeira e doze zagalotes atingiram Busby no rosto. Busby sobreviveu e acusou Melvin Sr., mas a polícia não investigou essa suspeita.
Em 2002, depois do crime ter prescrito, Melvin Jr. e Todd disseram à polícia que o pai disparara sobre Busby da janela traseira de uma viatura conduzida por Melvin Jr. e que Shirley também estava no carro, mas a denúncia não foi investigada e a polícia nessa altura já estava concentrada em John Rams Jr., de Wareham.
Rams declarou-se culpado de ter assaltado a casa de Shirley a pedido de Todd Reine, juntamente com dois cúmplices, para roubar os documentos financeiros usados pelos enteados no processo contra ela.
Todd Reine foi condenado a quatro anos de prisão e perdeu o recurso da condenação. Foi libertado em 2011.
De acordo com Rams, após o assalto, Todd pediu-lhe outro favor, que matasse Shirley. Disse que recusou e foi à polícia federal para os avisar de que Shirley estava em perigo. No entanto, as autoridades negam que Rams tenha fornecido esta informação.
Rams viria a ser julgado também pela morte de Shirley, mas devido à falta de provas foi absolvido em 2 de abril de 2014.
O assassinato de Shirley Souza Reine permanece por esclarecer há 20 anos e talvez nunca venha a ser esclarecido.



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