Louis Coleman III era um negro de Providence que se poderia considerar bem sucedido. Era jovem, 32 anos. Tirara um mestrado em ciências na California State University em Long Branch e trabalhava na Raytheon, em Portsmouth, empresa que produz sistemas de defesa militares, governamentais e comerciais, ganhando $70.000 anuais.

Jassy Gelssa Pires Correia tinha 23 anos. Nasceu em 1996 na Praia, Cabo Verde, filha de Salete Vicente Valadeiro, residente atualmente em Lisboa, e de Joaquim Correia, morador em Dorchester, área de Boston, onde se concentra grande comunidade caboverdiana.

Aos três anos, Jassy veio com o pai para Dorchester, foi criada praticamente por uma tia, Euprepia Correia, e tinha uma filha, Gabriela Castro, que tinha dois anos quando perdeu a mãe.

Jassy Correia era rececionista no Restaurante Del Frisco, steakhouse na Northern Avenue, em Boston. Gostava de dançar e decidiu celebrar o 23º aniversário no dia 28 de fevereiro de 2019 e foi com amigas ao Venu nightclub na Warrenton Street.

Eram 2h30 da madrugada, Jassy saiu da discoteca e tentou entrar num Uber, mas como estava embriagada foi impedida e foi nessa altura que Coleman lhe ofereceu boleia dizendo “este não é o teu Uber”, de acordo com o depoimento de uma testemunha.

Coleman acompanhou Jassy Correia até ao seu carro, a certa altura levando-a às costas porque ela estava descalça e tinha nevado.

As imagens de vídeo segurança da zona mostram que o carro de Coleman foi até à Tremont Street e ficou estacionado durante 12 minutos. Durante esse período, segundo os investigadores, Coleman violou sexualmente Correia, que terá oferecido resistência.

Coleman regressou a Providence e, cerca de 90 minutos depois, um vídeo segurança do prédio de apartamentos onde residia, na Chestnut Street, mostrou Coleman a retirar um corpo para fora do carro. A polícia identificou a pessoa caída sobre os ombros de Coleman como sendo Correia e que ela estava nua da cintura para cima.

Coleman levou Correia para o seu apartamento e, mais tarde, a polícia descobriu que ele realizou buscas na internet, perguntando coisas como “uma pessoa cabe numa mala”, “como limpar para embalsamar” e “como extrair um dente que não está mole”.

Coleman saiu de casa para comprar vários artigos, como uma vela perfumada, calcário e bicarbonato de sódio, um fato-macaco, e uma mala grande.

Seis dias depois do encontro entre Coleman e Correia à porta da Venu, imagens de vídeo vigilância do prédio onde Coleman residia, mostraram Coleman a colocar uma mala pesada no porta-bagagens do carro e deixou Providence.

Nessa ocasião, a polícia já investigava o desaparecimento de Correia e alertou sobre a fuga de Coleman.

Coleman foi localizado no Delaware e mandado parar pela polícia e terá dito na ocasião que “havia alguém no porta-bagagens” e “ela está morta”.

A polícia abriu o porta-bagagens, continha uma grande mala e, dentro da mala, estava o corpo de Jassy Correia.

O julgamento, em Boston, prolongou-se por 15 dias em junho de 2022. O júri considerou Coleman culpado de rapto e assassinato, e foi condenado a prisão perpétua.

Coleman não contestou o homicídio e alegou que o sexo com Correia foi consensual. Mas os seus advogados alegaram que ela se tornou subitamente violenta e morreu durante a luta entre os dois.

Coleman está atualmente numa prisão federal de alta segurança no sul da Califórnia, e tentou recentemente a anulação do julgamento com uma infinidade de argumentos jurídicos, mas o 1º Tribunal de Recursos dos Estados Unidos negou o recurso numa decisão de 112 páginas.