A cidade da Horta, na ilha do Faial, foi um PONTO DE PASSAGEM, no século XIX, com a presença de comunidades alemães, inglesas e americanas para a colocação das estações cabo-telegráficas submarinas; com a instalação de uma base naval aliada durante as duas grandes guerras mundiais; ou com o ciclo dos clippers da Pan America e a presença dos rebocadores holandeses.
Mas é também um ponto de passagem, no século XX, com a abertura do Peter Café Sport em 1918, especialmente vocacionado para os iatistas internacionais, que a revista Newsweek, de Nova Iorque, viria a considerar como “um dos melhores bares do mundo”; ou com a construção do primeiro porto de recreio dos Açores, em 1986, que abriga milhares de iates na travessia do Atlântico Norte como prolongamento moderno de um porto estratégico de importância secular.
A Horta foi, também, um PONTO DE VIAGEM, no século XVII, quando a erupção do vulcão do Cabeço do Fogo, a 24 de abril de 1672, arrasa a mais pequena freguesia da Praia do Norte e atira centenas de faialenses para o Maranhão e Grão-Pará, no Nordeste do Brasil.
A Horta é também um ponto de viagem, no século XVIII, quando os faialenses, com outros açorianos, vão povoar o Sul do Brasil, primeiro para Santa Catarina, depois para o Rio Grande do Sul.
Aqui, foi um faialense, João Garcia Dutra, que iniciou o povoamento da Aldeia de Nossa Senhora dos Anjos, atual cidade de Gravataí, em 1772, quando recebeu Carta de Sesmaria em terra comprada pela Coroa Portuguesa. Duzentos e cinquenta anos depois, esta cidade brasileira, fundada por um faialense, já conta com 285.000 habitantes, bastante mais do que todas as nove ilhas dos Açores.
Mas é também um ponto de viagem, no século XX, quando a erupção do Vulcão dos Capelinhos, a 27 de setembro de 1957, desencadeia treze meses de desassossego populacional na costa norte e na ilha em geral.
A Horta já era, desde 1790, a primeira localidade da Europa a ter uma representação consular norte-americana, mas esta foi a primeira e única vez, na longa história das relações bilaterais entre Portugal e os Estados Unidos, que o Congresso de Washington aprovou legislação excecional, expressamente, para acolher emigração açoriana.
Milhares de sinistrados faialenses receberam assim o devido conforto no outro lado do Atlântico, abrindo caminho à emigração massiva de tantos açorianos de todas as ilhas. Entre 1959 e 1980, cerca de 100.000 açorianos deram entrada nos Estados Unidos. A emigração açoriana para a América do Norte começara no final do século XVIII, exatamente com os homens do Faial e do Pico a bordo das baleeiras americanas que faziam escala no porto da Horta, mas o Vulcão dos Capelinhos veio fazer toda a diferença.
Segundo o último recenseamento de 2021, residem hoje na América do Norte 1,8 milhões de portugueses, maioritariamente provenientes dos Açores ou descendentes de açorianos. Milhares deles oriundos desta ilha do Faial. Isso mesmo fica patente no movimento associativo da diáspora açoriana.
Por exemplo, a Fundação Faialense, criada em 1969 na cidade de East Providence, em Rhode Island, que já atribuiu mais de 400.000 dólares em bolsas de estudo para alunos de origem faialense nos dois lados do Atlântico;
Por exemplo, o Faialense Sport Clube, fundado em 1972 na cidade de Cambridge, em Massachusetts, que resultou da iniciativa de jovens futebolistas faialenses emigrados anteriormente ligados ao Angústias Atlético Clube e ao Fayal Sport Clube;
Por exemplo, o Clube Amor da Pátria Community Centre, fundado em 1976 na cidade de Toronto, no Ontário, que nasceu da comissão encarregue de representar o distrito da Horta na comemoração local do Dia de Portugal, chegando a reunir mais de 300 sócios, maioritariamente oriundos do Faial e do Pico.
Mas isso fica patente também no movimento autárquico de geminações municipais. Basta lembrar que a Horta é cidade-irmã de Freemont, na Califórnia; de New Bedford, em Massachusetts; e de Porto Alegre e Gravataí, no Rio Grande do Sul, manifestando assim a sua histórica vocação transatlântica.
A Horta foi, ainda, um PONTO DE VARAGEM, a partir do século XV, com a vinda de flamengos que nos trazem apelidos hoje tão supostamente faialenses como Brum, Bulcão, Decq, Dutra, Goulart, Rosa, Silveira e Terra ou com o contributo mais recente da família Dabney que aqui fixa residência e logo faz a diferença a nível económico, social e cultural. Mas é também um ponto de varagem, no século XXI, com um número crescente de cidadãos estrangeiros em residência permanente. A população estrangeira já representa 5,8% da população residente na ilha, o que faz da Horta o segundo concelho açoriano com maior percentagem de estrangeiros, depois de Lajes das Flores (8,6%). Proporcionalmente, o Faial é a ilha mais multicultural dos Açores.




0 Comments