Existe o péssimo hábito de distinguir ou homenagear figuras das sociedades, depois destas pessoas deixarem de existir entre nós. As homenagens são, por natureza própria, o reconhecimento de todos nós enquanto sociedade, do contributo dado à comunidade, à sociedade da qual fazemos parte.
Resolvi sair do habitual – ou porque isto deveria ser o habitual – e falar de uma das nossas proeminentes figuras da suprema arte literária.
Há muito que Vamberto Freitas se destaca como um dos melhores críticos literários da Língua Portuguesa. E no que respeita aos Açores, Vamberto Freitas será o melhor d’entre os melhores em crítica literária.
Além do seu perfeito bilinguismo anglo-luso, Vamberto Freitas tem trazido ao conhecimento do público leitor uma gigantesca lista de autores lusos e estrangeiros, que de outra forma ficariam nos recantos da ignorância coletiva. Autores estrangeiros que Vamberto Freitas tem trazido ao nosso conhecimento, cujas raízes estão afincadas nestas Ilhas pelos seus antepassados. E que nos diz este terceirense nascido nas Fontinhas, embarcado nas Califórnias e radicado em São Miguel:
“Não partilho a ideia de que os jornais em papel vão desaparecer, como nenhum outro meio de comunicação desapareceu no processo evolutivo que é o das nossas sociedades globais. Um jornal faz parte da identidade da sua cidade, e Ponta Delgada conta com três grandes diários – não esqueçamos os também históricos Correio dos Açores e Diário dos Açores – que lhe dão voz, corpo e alma. Já escrevi em alguns jornais e revistas continentais, mas nunca, por um minuto, os considerei mais importantes do que este. Os leitores do Açoriano Oriental são tão inteligentes e críticos quanto os de qualquer outra grande ou pequena cidade. É a partir destas páginas que tenho chegado ao mundo, que tenho tentado honrar as nossas tradições culturais e, mais ainda, fazer com que os que estão longe fiquem cada vez mais perto e parte de nós, sejam esses leitores açorianos ou não. A sua longa e digna história, creio, garante que o futuro não o deixará cair no labirinto sociopolítico e cultural em que se torna, todos os dias, a aldeia global. Escrever nas suas páginas tornou-se um dever, tão literário quanto cívico. Enquanto os seus responsáveis acharem que esta e outras presenças valorizam as suas páginas, nunca deixarei de dar o meu contributo a uma das mais eficazes vozes da vida pública açoriana.”
Este é o Vamberto Freitas de que falo. Sejam eles e elas prémios Nobel ou principiantes na arte de rabiscar, Vamberto Freitas acolhe-os e lê, lê até à exaustão.
E depois vem a sua profunda narrativa, numa elegante análise à obra lida. A sua virtualidade consiste na maior das transparências, numa honestidade decorosa mas contundente, delicada mas elucidativa, onde o leitor é cativado e preso pela franqueza e honestidade literária deste distinto insular que vive e conhece o mundo a partir das narrativas das suas infindáveis leituras.
Dizem que “o saber não ocupa lugar”? Pois eu direi:
O Saber ocupa o lugar da ignorância.
E este Vamberto, crítico das Natálias, dos Nemésios e Onésimos, de quem Anthero escolheria como amigo, está obeso de Saber. Tão pesado que suscita inveja à madrasta Ignorância.



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