Tomás Rodrigues da Cunha nasceu em 1598 no lugar de Lisouros, na freguesia de Cunha, que pertence a Paredes de Coura. Provinha de uma família da nobreza. Com 19 anos embarcou para a Índia, onde se notabilizou como soldado e marinheiro, tendo sido premiado pela bravura com o posto de capitão de Meliapor, uma praça portuguesa na costa do atual Tâmile Nadu.
Mais ou menos uma década depois de chegar ao Oriente, sentiu o apelo da religião, depois de conhecer frades carmelitas, uma ordem religiosa fundada no século XIII, durante as Cruzadas, no Monte Carmelo, no atual Israel. O soldado e marinheiro mostrou tal convicção na escolha de uma nova vida como frade, que ganhou a admiração de quem o rodeava. E adotou o nome de Redento da Cruz.
Em1638 foi convidado pelo também antigo marinheiro Dionísio da Natividade (um frei francês nascido na Normandia com o nome de Pierre Berthelot e que serviu militarmente a Coroa Portuguesa) a acompanhá-lo na embaixada liderada por D. Francisco de Sousa de Castro ao reino de Achém, na ilha de Samatra, hoje parte da Indonésia.
Portugal partilhava então com os espanhóis o mesmo rei, e especialmente os holandeses tinham-se tornado grandes inimigos, procurando dominar o comércio das especiarias. A comitiva portuguesa ao chegar a Acém foi denunciada pelos holandeses como sendo espiões e seguiu-se a prisão. Os portugueses, recusando converter-se ao islão, foram torturados e finalmente executados. Tomás da Cunha, ou Redento da Cruz, foi alvejado com flechas e decapitado. Também Dionísio da Natividade foi martirizado. O único sobrevivente português foi o embaixador, libertado após três anos de cativeiro graças ao resgate que a família pagou ao sultão de Achém
Mortos em 1638, a coragem de Redento da Cruz e de Dionísio da Natividade foi depressa conhecida. E ao longo dos séculos contada e recontada como história de mártires. Em 1900, o papal Leão XIII beatificou o minhoto e o normando.
Leonídio Paulo Ferreira, Jornalista do DN. É doutorado em História e autor do livro ‘Encontros e Encontrões de Portugal no mundo’.



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