Francisco Barreto – militar português no Peru

by | Nov 5, 2025 | À Descoberta

O algarvio Francisco Barreto é um dos muitos portugueses que no tempo da União Ibérica (1580-1640) se destacaram na América de língua espanhola, no seu caso como Capitão da Armada de El Callao,

porto no vice-reino do Peru. Quem estudou a fundo a sua vida foi a historiadora Maria da Graça A. Mateus Ventura, que o descreve como alcaide-mor de Faro, filho de um antigo alcaide-mor também de Faro e senhor de Quarteira, sendo neto por via materna de um Capitão de Tânger, praça portuguesa em Marrocos. A pertença à nobreza explica a ligação familiar a Francisco de Borja y Aragón, seu primo espanhol, que quando vai para o Peru em 1614 como vice-rei o leva no seu séquito, já com intenção de lhe atribuir altas funções.

No Peru, Francisco Barreto foi designado Capitão da Armada de El Callao, importante porto de onde eram enviados os tesouros do país, incluindo prata e ouro, destinados a Espanha. Mesmo sendo a Dinastia Filipina senhora de Portugal e de Espanha, os portugueses eram considerados estrangeiros nas colónias espanholas e o protagonismo do algarvio atraiu inimizades. Francisco Barreto, além de defender El Callao dos piratas ingleses e franceses, também se envolveu em negócios, que incluíam tráfico de escravos, de breu, de madeiras e até de cereais, como investigou Maria da Graça A. Mateus Ventura, autora do livro ‘Por este mar adentro – êxitos e fracassos de mareantes e emigrantes algarvios na América hispânica’, vencedor do prémio “História da Presença de Portugal no Mundo”, da Fundação Gulbenkian.

Por causa dos negócios privados e das queixas que originaram, Francisco Barreto acabou por ser destituído pelo vice-rei. Terá regressado à Europa em 1621 com a comitiva do primo, possivelmente a Madrid e depois a Lisboa. Foi sepultado no Algarve, a crer no que escreveu o seu famoso filho Francisco Barreto Menezes, nascido em Lima, no Peru, e que ao serviço de D. João IV, portanto já depois da Restauração da Independência, foi um dos vencedores da Batalha de Guararapes, que em 1649 afastou os holandeses do Nordeste do Brasil.

 

 

* Jornalista do DN. É doutorado em História e autor do livro ‘Encontros e Encontrões de Portugal no mundo’.

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