Está por fazer a verdadeira história dos cafés da velha cidade de Ponta Delgada

by | Nov 12, 2025 | Do outro lado do Atlântico

O efeito da memória é levar-nos aos ausentes, para que estejamos com eles e trazê-los eles a nós, para que estejam connosco”.

Padre António Vieira

 

A CIDADE DE PONTA DELGADA, tem a sua “história”, onde estão instalados os diversos percursos percorridos pelos seus habitantes que se limitavam ao trabalho e às boas normas” estabelecidas pela ….. DITADURA!!! Pobre daquele que “pisasse o risco”.

A famigerada “PIDE E SEUS BUFOS” que controlava “tudo e todos”, obrigando a população, a seguir determinados comportamentos, na sua forma de actuar, de viver e conviver. Perante a “canga imposta” – pobre de quem não a usasse ou ultrapassasse – a ordeira população, limitava-se a passar o tempo, dentro das normas estabelecidas, organizando, formas de viver e queimar tempo, próprias da “época da repressão”.

No limitado viver, por vezes com carências de vária ordem, existiam “dois escapes”. A frequência do Café, e o Futebol ao domingo. Televisão não havia.

A “CLASSE MÉDIA”, servia-se, para desopilar, da frequência do Café – sempre preocupada com a “mesa do lado” – !!! E, entre o café e uma “bebida branca”, e depois de uma engraxadela nos sapatos, lá iam as conversas do costume, entre os habituais frequentadores. O jogo de futebol do passado domingo, o muito serviço no emprego, o tempo chuvoso que se anunciava!!!. “Fechava-se negócios”, “aclarava-se situações”, resolvia-se problemas, “cortava-se na casaca dos ausentes”. De política geral e administração local ….. NADA!!!

O CAFÉ SERVIA DE ABRIGO, aos que não tinham “vida”, e que se serviam do Café para matar o tempo. Também eram utilizados por aqueles que descendo à cidade para tratarem de assuntos pessoais, utilizavam o Café para descansar, comer uma bucha, e aguardar a camioneta que as levariam de regresso às suas residências.

APESAR DA PEQUENEZ DA CIDADE, existiam em Ponta Delgada vários Cafés, a maioria no Largo da Matriz, onde estava a praça de táxis, e paravam os Transportes Públicos.

COM O PASSAR DO TEMPO – que tudo consome – alguns Cafés foram fechando portas.

DURANTE VÁRIOS ANOS do século passado, era frequente e habitual a ida diária ao “velho Café”, – mais que uma vez por dia – por várias razões. Saborear um “café bem tirado”, conviver com amigos, passar tempo, fechar negócios, etc, etc. NA MESA DO CAFÉ, conversava-se, trocava-se ideias, dava-se e conhecia-se notícias, formava-se tertúlias (de intelectuais, homens de negócios ou amantes do futebol).

PODEMOS CONSIDERAR com período áureo dos Cafés, na cidade de Ponta Delgada, o tempo que vai desde a terceira década do século XIX até finais dos anos 80 do século XX. O apogeu deu-se entre as décadas de 40, deste último século, com a aparecimento e ponto alto de Cafés, como a Brasileira em plena Matriz, o Roberto, localizado no antigo Aterro, o Eugénio Pereira, o Royal, a Mascote, o Giesta, o Jade, localizado nos baixos do edifício onde hoje está a Câmara Municipal, (café muito frequentado por “jovens tertúlias intelectuais), o Rex, a Pepe, o Cliper o Café Central em plena Matriz, e o Nacional, aos quais se podem juntar o Figueiredo no Largo 2 de Março, a Tabacaria Açoriana , o Mimo, a Tabacaria Esperança, próxima do Convento da Esperança, o Gil, o Café do João Alves, na Rua do Mercado, a Pérola na Rua João Moreira, o Café Bradford e o LIZ, espaços ainda hoje recordados com enlevo pelas gerações mais velhas, que talvez não sabendo, na altura, eram afinal bem felizes ali. Nos cafés, a Brasileira e no Giesta, jogava-se muitas partidas de “dominó”, por alguns dos taxistas que tinham os seus carros à volta da Igreja Matriz.

COM A “REVOLUÇÃO DOS CRAVOS” e a chegada da Autonomia e, readquiridas as liberdades suspensas, o povo, que conhecia as duas “fases da moeda” deu largas à sua satisfação.

Os “INADAPTADOS”, duvidosos do futuro, ultrapassaram as liberdades conquistadas, com excessos de toda a ordem e de má memória – casas incendiadas, carros vandalizados, energúmenos contratados, pneus furados, automóveis atirados ao mar – roçando, por vezes, a libertinagem que, com o tempo, se foi suavizando, acalmando, modificando adaptando-se às realidades.

OS CAFÉS, FORAM ESTABELECIMENTOS que marcaram a história cultural, da cidade, durante grande parte do século XX. Por isso pensamos que, está por fazer a verdadeira história dos Cafés da cidade de Ponta Delgada.

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