Não se tratou de nenhuma romagem, nem se limitaram a mero passeio, as recentes férias que gozei com o meu clã familiar no aconchego do berço abraçando as raízes. Foi, sim, o cumprimento da promessa que havia feito a mim mesmo de honrar a memória dos meus pais e avós no torrão onde nasceram, nos criaram e agora repousam em eterna tranquilidade. A ideia primordial era juntar os rebentos todos, à uma, em saborosos convívios, e confesso que o plano funcionou em pleno, apenas com o senão de ter sabido a pouco esse limitado tempo de gostosa confraternização. Quando assim acontece, ficarmos com o bico meio desconsolado e desejoso de nos reencontrarmos em estadia mais prolongada, até é bom sinal. Aviva-nos a vontade de voltarmos, quanto antes, para nos reabraçarmos.
Isto de andarmos separados pela imensidade do Atlântico adicionada à vastidão dos quarenta e tantos estados americanos, com o andar da idade, faz-nos repensar até que ponto ainda nos resta estamina suficiente para aguentarmos nove longas horas viajando pelos ares. O receio começa logo por se ir desfazendo, no aeroporto, mal nos juntamos às quase três centenas de almas inquietas, como a nossa, para aterrarmos no mesmo ansiado destino. A TAP ajudou-nos imenso, este ano, a fazermos essa demorada travessia aérea sem grandes sobressaltos e com apreciável conforto. A Ilha, desta vez, para nossa agradável surpresa, esperava-nos com clima ameno e sem humidade por aí além, achega deveras decisiva que prontamente agradecemos, todos radiantes da vida.
A Terceira – não é por eu ser de lá – está um encanto. Percebo que há muita maneira de visitá-la e cada par de olhos, dando prioridade ao que mais gosta de ver, torna-se testemunha emocionada duma série de sensações difíceis de descrever ao pormenor. Toda ela bem povoada ao longo do seu arredondado litoral, a divertida Ilha Lilás, com especiais atrativos nos meses de verão, sabe acolher os seus visitantes brindando-os com o cordial abraço das suas gentes sempre muito amigas de a promoverem à imagem do tal apelidado “parque de diversões” tipicamente animadas para os mais diversos gostos. É uma terra alegre, sem dúvida nem receio algum de se identificar como tal. Mas, a quem não agrada demasiado todo aquele fervor festeiro, não faltam os aprazíveis espaços de lazer, tanto no sossego do mato como à beirinha do mar. E é aí que os meus pitorescos Biscoitos aparecem irresistíveis no roteiro turístico da formosa Ilha Dos Meus Amores.
Nunca vou lá com olhos de turista, porém desta vez tratei de abri-los mais críticos nessa perspetiva e confesso ter ficado sensibilizado com algumas apreciáveis diferenças, do antes para o agora, expressas no esforço de impressionar bem e receber ainda melhor. Claro que é uma perspetiva pessoal, mas como já lá não ia há uns bons anos, apraz-me elogiar a liderança de quem zela pela boa imagem do meu cantinho natal. Tive oportunidade de presenciar na descontração do meio rural, a seguir às tardes de toiros e noites de concertos, bem como no zelo das zonas balneares, diligentes equipas de limpeza a mostrarem a evolução cívica dos responsáveis locais. É pormenor que prende logo o olho a quem ali não mora. E cai sempre bem porque, naqueles dias de prolongada folia, não falta quem venha de fora com a sua língua afiada e atrevida, prontinha a falar mal – coisa que não custa mesmo nada e que eu, se quisesse, podia também explorar aqui e agora.
Para quê? Não vale a pena ir por aí. Prefiro antes focar-me no lado bom das coisas que me deixaram agradado, a mim e aos meus, tanto no asseio dos lugares como na simpatia das pessoas. Fomos bastante bem tratados por quem se cruzou connosco. Quando assim acontece, regressarmos sem claras razões de queixa, apraz-nos juntar à esmagadora maioria dos muitos milhares de visitantes que se desfazem em esmerados elogios dirigidos à mui apreciada arte do bem acolher lá nossas ilhas de berço. Prezamo-nos de ser um povo criado e educado nas melhores regras desse salutar convívio que – nunca é demais relembrar – na minha festeira Ilha Lilás, prima como coisa quase sagrada e deveras contagiosa. Desta vez (pegado pelo quinto toiro), deixei-me mesmo contagiar e confesso que isso só me abriu ainda mais o apetite à vontade de voltar. Regressar às raízes é um prazer formidável e, neste meu caso aqui, sem adjetivos suficientes para o descreverem nem crónicas bastantes para o contarem. Fi-lo na anterior e, se me apetecer, hei de voltar a fazê-lo na próxima. Isto, até me fartar ou alguém me vir dizer – este homem está tornado num “doente” pela sua terra – só abre os olhos ao que vê de bom e fecha-os ao que está mal.
Pois é – não é, pessoal? Que esta “doença” não mude, enquanto me fizer bem à saúde.



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