Colóquio Internacional “Portuguese Migration and Mill Work in New England: Past, Present, and Future of Portuguese American Studies”

by | Oct 29, 2025 | Cultura outros

A Universidade de Massachusetts Dartmouth acolheu na passada sexta-feira e sábado, 24 e 25 de outubro, um colóquio internacional intitulado “Migração Portuguesa e Trabalho em Fábricas Têxteis na Nova Inglaterra: Passado, Presente e Futuro dos Estudos Luso-Americanos” (“Portuguese Migration and Mill Work in New England: Past, Present, and Future of Portuguese American Studies”), com textos de diversos autores, tendo por palco a Grande Sala de Leitura da Biblioteca Claire T. Carney.

O evento avaliou os contributos do volume recentemente publicado Migração, Trabalho em Fábricas Têxteis e Comunidades Portuguesas na Nova Inglaterra, editado por Cristiana Bastos, Bela Feldman-Bianco e Miguel Moniz (Tagus Press, 2024), ao mesmo tempo que explorou as futuras direções da investigação em estudos luso-americanos.

Um século após a publicação do polémico livro de Donald R. Taft, “Two Portuguese Communities in New England” (Columbia University Press, 1923), os participantes apresentaram e discutiram as lutas, os encontros e as conquistas de portugueses e luso-americanos sob as pressões da mobilidade ascendente, das tensões racializadas, das políticas de assimilação e multiculturalismo, e dos movimentos trabalhistas e de renascimento étnico.

Promovido pelos Arquivos Luso-Americanos Ferreira-Mendes e pelo Centro de Estudos e Cultura Portuguesa/Tagus Press, o evento destacou a liderança contínua da UMass Dartmouth no avanço da erudição e do património cultural luso-americano.

O programa teve início na sexta-feira, 24 de outubro, com um pequeno-almoço pelas 9h00, ao que se seguiram discursos de abertura e duas sessões matinais: “Setting the Context”, com Cristiana Bastos, e “Portuguese Spaces in Urban New England”, com Rose Rodrigues, Graça Índias Cordeiro, Paula Celeste Gomes Noversa e Gray Fitzsimons.

As sessões da tarde incluiram “Narrating Portuguese Lives”, moderado por Antonio Ladeira, com apresentações de Carmen Ramos Villar, Silvia Oliveira e Frank Sousa, e um painel sobre a Política das Comunidades Luso-Americanas, com Miguel Moniz, Daniela Melo e Camilo Viveiros.

No sábado, 25 de outubro, o colóquio abriu com as intervenções de Cristiana Bastos, Caroline Brettell e Bela Feldman-Bianco, seguida de exibição e discussão do premiado documentário etnográfico Saudade (Documentary Educational Resources, 1991, 57’) — um dos resultados do Projeto de História Oral Portuguesa, fundado por Feldman-Bianco quando era professora universitária de Estudos Portugueses na Southeastern Massachusetts University (atual UMass Dartmouth). Uma mesa redonda e um almoço encerraram o evento.

Uma das autoras desta antologia Cristiana Bastos, investigadora, antropóloga, presidente da Associação Portuguesa de Antropologia (APA), desde 1990, pesquisadora coordenadora no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.

Os seus interesses de investigação combinam disciplinas como a Antropologia, História, Estudos sociais sobre a ciência, tecnologia e medicina. A sua pesquisa tem-se centrado em temáticas como as dinâmicas populacionais, mobilidades transnacionais, biopolítica colonial, medicina e império, história social da saúde e do bem-estar, processos de racialização em sociedades de plantação, plantas e plantações.

Bastos tem coordenado vários projetos sobre medicina e colonialismo, mobilidade transnacional, ambiente, risco, práticas terapêuticas e usos sociais da água e tem uma atividade letiva diversificada, com participação integral no programa de pós-graduação do ICS e como convidada no ISCTE, Saúde Pública, Enfermagem, Medicina, bem como em universidades dos EUA e Brasil.

Em entrevista concedida a Irene Amaral, no programa “Contraponto”, da WJFD, em abril deste ano, a escritora Cristiana Bastos refere sobre esta antologia:

“Este livro é efetivamente uma antologia, um livro com uma coerência interna e que foi projetado em conjunto, embora alguns dos textos já existissem mas ganharam outra vida, um projeto que tomou forma de livro”, começou por dizer Cristiana Bastos, que adianta sobre a origem do projeto:

“A introdução conta a história como este livro chegou a ser criado e da minha parte foi através de um contacto com o então diretor do Centro de Estudos e Cultura Portuguesa da UMass Dartmouth, desafiou-me a reler um livro publicado sobre as comunidades portuguesas nos anos 20 e a verdade é que não conhecia o livro e então consegui uma cópia e comecei a investigar muito mais sobre o assunto, até sobre o próprio livro, sobre o autor e sobre as comunidades que o autor estudou e tudo isto foi feito em 2013 quando dava aulas na UMass Dartmouth, e nesse tempo fiz pesquisa envolvendo alguns artigos locais e na biblioteca da Universidade de Columbia onde o livro foi originalmente feito e defendido como uma tese de doutoramento e aí pude ver o contexto em que o livro nasceu, sendo muito mais do que apenas aquele conjunto de páginas, frases, o contexto em que nasceu, o propósito para que foi feito”, sublinha a escritora, adiantando: “Tive a sorte de ter acesso a um conjunto de documentação guardada pelo New Bedford Whaling Museum e de repente aquilo tudo me ajuda a perceber muita coisa que de outra maneira não seria compreensível: está lá toda a correspondência das associações portuguesas de New Bedford, dos cônsules de toda a Nova Inglaterra, ativistas, de professores, etc… e tudo isso tornou tão apetecível para um estudo e investigação muito mais aprofundado”, conclui a escritora portuguesa.

Dulce Maria Soares-Scott, professora e presidente do Departamento de Serviço Social e Justiça Criminal da Anderson University, em Indiana, no seu testemunho sobre este importante registo, refere que “o livro entrelaça diversos aspetos da migração portuguesa, dos movimentos laborais, da racialização e das vidas de indivíduos que moldaram, resistiram e prosperaram na Nova Inglaterra industrial. Através de uma mistura de ensaios académicos, testemunhos pessoais, escrita criativa e fotografias, os autores oferecem uma exploração histórica da experiência portuguesa, desafiando estereótipos e proporcionando uma compreensão profunda das intersecções multifacetadas de identidade étnica/racial, trabalho e sociedade na Nova Inglaterra”.

Por sua vez, Caroline B. Brettell, professora emérita de Antropologia da Southern Methodist University, Texas, afirma:

“Comparativamente a outras populações imigrantes que se estabeleceram nos EUA durante a terceira e agora quarta vagas de imigração, os que têm origem em Portugal e nos seus diversos territórios ultramarinos são menos conhecidos. Este livro, que se debruça sabiamente sobre a economia política do trabalho na indústria têxtil, bem como sobre as questões de raça, classe e género, contribui para aprofundar o nosso conhecimento sobre a experiência portuguesa”.

 

Fotogaleria de ptUSAimages:

 

 

0 Comments

Related Articles