Miguel Ávila (Portuguese Tribune, Califórnia), Ilda Januário (Toronto, Canadá), José de Mello (Grandes Festas do Espírito Santo em Ponta Delgada, S. Miguel), cónego Helder Fonseca Mendes (festas do Espírito Santo em Portugal), Lélia Nunes (festas do Divino no Brasil) e Roseli Pereira (Grande Festa do Ciclo do Divino de Santa Catarina) foram os restantes conferencistas numa jornada de salutar convívio entre todos os participantes e presentes, de profundo sentimento de espiritualidade e de açorianidade.
Depois de uma viagem algo atribulada, mal recuperado de uma constipação e com adiamento de voo entre Miami e Rio de Janeiro para o dia seguinte, mas com a American Airlines a providenciar-nos com hotel e refeições lá chegámos a Florianópolis pelas 11:00 da noite do dia seguinte e alojamento no Hotel Faial, mesmo no centro da cidade e a cerca de 12 quilómetros do aeroporto Hercílio Luz. Na manhã do dia seguinte, pelas 9h30, começaram os trabalhos tendo por palco a Casa José Boiteux, atual sede da Academia Catarinense de Letras, um prédio com 26 salas construído na década de 1920. José Boiteux, refira-se, foi um distinto jornalista, historiador, advogado e político falecido em 1934.
A reportagem da última edição abordou em pormenor o evento em si. Desta vez pretendemos partilhar com os nossos leitores impressões e traços históricos de Florianópolis, estado de Santa Catarina e o que vivemos e experienciámos em apenas dois dias. Sim, dois dias.
A primeira vez
Claro que já tínhamos ouvido falar de Florianópolis e do estado de Santa Catarina, das suas gentes, dos açordescendentes, do culto ao Divino Espírito Santo e dos primeiros açorianos que ali chegaram em meados do século XVIII, sobretudo através da amiga Lélia Nunes, colaboradora do Portuguese Times, que, à nossa chegada àquela “Ilha da Magia”, retorquiu: “Querido Francisco, como é tão bom este encontro aqui na minha terra. Finalmente vais conhecer Florianópolis e vais gostar”. E sinceramente gostámos. Foi maravilhoso, inesquecível. Floripa ficará para sempre na memória. A verdade é que dias antes da partida os amigos Onésimo T. Almeida e Francisco Viveiros, que já tinham visitado aquela bonita cidade toda ela virada para o turismo e para a cultura, avisaram: “vais gostar de Florianópolis!”
As emoções e o orgulho da ascendência açoriana
A comitiva vinda dos Açores, EUA e Canadá foi muito bem recebida, de tal forma que marcou e ficará para sempre na memória de todos, não apenas pela simpatia, amabilidade e hospitalidade dessa gente linda que jamais esqueceremos, mas sobretudo por aquilo que constatámos: o orgulho da ascendência açoriana e essa fé e entrega total ao culto do Divino Espírito Santo. O que vivemos no Teatro Álvaro Carvalho e posteriormente na Catedral Metropolitana de Florianópolis foi verdadeiramente impressionante, contagiados nessa empatia emocional de profunda fé e devoção ao Divino Espírito Santo, que ultrapassa as barreiras geracionais e até mesmo étnicas. Para nós uma autêntica experiência espiritual ao ver netos, filhos, pais, avós, todos irmanados no culto ao Divino. Tenho conhecido comunidades açorianas em várias latitudes e geografias, mas nunca vi uma comunidade tão orgulhosa das suas raízes açóricas e devota ao Divino Espírito Santo como a Florianópolis, Santa Catarina.
No seu discurso, no âmbito da festa de encerramento do Ciclo do Espírito Santo, Sérgio Luiz Ferreira, presidente da Casa dos Açores de Santa Catarina, referiu: “O coração da décima ilha açoriana é aqui em Santa Catarina”. Talvez seja. Pela história da imigração açoriana, com as primeiras ondas migratórias do arquipélago a terem por destino o sul do Brasil, pela forma como preservam e cultivam as suas raízes e ainda pelo impacto, a todos os níveis, que as gerações vindouras tiveram no estado e no país. Os sinais da presença açoriana ali em terras do sul do Brasil manifestam-se não apenas pela tradição mais identitária das nove ilhas – culto ao Divino Espírito Santo – mas também nas próprias pessoas, que se afirmam e manifestam o seu orgulho da sua ascendência das ilhas do Atlântico Norte, preservando e cultivando essa identidade através das costumes, das instituições que criaram ao longo dos anos e de entidades que se destacam nos vários quadrantes da vida política, social e económica do estado de Santa Catarina.
Um pouco de história
A cidade de Florianópolis, capital do estado de Santa Catarina e localizada na Região Sul do Brasil, é conhecida como “Ilha da Magia” e Floripa. Em 1823 a vila foi elevada a cidade com o nome de Desterro e fundada como povoado de Nossa Senhora do Desterro, e posteriormente, em 1894, durante a Revolução Federalista, teve o seu nome alterado em homenagem ao marechal Floriano Peixoto.
É um destino turístico popular com praias paradisíacas, um centro histórico e influências da cultura açoriana. Efetivamente o turismo tem crescido significativamente nos últimos anos, com um número crescente de visitantes vindos de outras grandes cidades do Brasil, como Porto Alegre, Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro. Do exterior, provêm da Europa e dos EUA.
Com uma população a rondar os 540 mil habitantes, é o segundo município mais populoso do estado, após Joinville. De referir ainda que Florianópolis é uma das três capitais do Brasil situadas em ilhas (as outras duas são Vitória e São Luís), sendo a quarta capital mais fria do país, atrás apenas de Curitiba, Porto Alegre e São Paulo. Com um clima subtropical, que se caracteriza por estações do ano bem definidas, com verões quentes e invernos frios e um regime de chuvas abundante e bem distribuído ao longo do ano, Florianópolis tem a sua economia alicerçada no sector de tecnologia da informação e comunicação oferecendo atrações históricas, incluindo os locais dos colonos açorianos originais, a Lagoa da Conceição e Santo António de Lisboa.
Imigração açoriana para Santa Catarina
A maioria dos açorianos que se fixaram em Santa Catarina, e consequentemente em Florianópolis, entre os anos de 1748 e 1756, foram enviados para colonizar a ilha, que até então era um território pouco ocupado. Esta colonização, incentivada por Portugal com o objetivo de fortalecer a colonização e a defesa dos territórios do sul do Brasil, trouxe uma vasta riqueza cultural, costumes e tradições que influenciaram a culinária, a arquitetura e a forma de vida catarinense. Calcula-se que no início de 1748, há precisamente 277 anos, chegaram 460 açorianos à ilha de Santa Catarina. Entre 1748 e 1756 calcula-se que mais de 4.500 açorianos fixaram residência no estado de Santa Catarina e aproximadamente 1.500 migraram para o Rio Grande do Sul.
Segundo ainda reza a história, os primeiros açorianos chegaram ao Uruguai em 1763, quando 140 famílias foram feitas prisioneiras pelo governador espanhol Don Pedro de Cevallos durante uma ação militar no Rio Grande do Sul e transferidas para o território uruguaio, onde fundaram a cidade de San Carlos.
De referir ainda que muitos açorianos radicados no Brasil imigraram para os EUA e Canadá sobretudo a partir de meados do século XX.
A ascendência açoriana de Hercílio Pedro Luz
Hercílio Luz, que dá nome à famosa ponte de Florianópolis, que liga a ilha ao continente, ao aeroporto internacional, ao estádio, na cidade de Itajaí, ao clube profissional de futebol de Tubarão, ao Memorial no interior do Museu Casa de Campo em Rancho Queimado, a avenidas e artérias e praças de municípios catarinenses, não esquecendo o palacete na Avenida Mauro Ramos em Florianópolis, tem origem açoriana. Hercílio Pedro Luz nasceu de uma família de posses com apetência para a política. Filho de Joaquina Anania Neves da Luz, descendente de bandeirantes, e de Jacinto José da Luz, comerciante de origem açoriana, sabe-se que o avô materno, Joaquim Xavier Neves, foi deputado na Assembleia Legislativa Provincial de Santa Catarina por sete vezes.
Hercílio foi o primeiro governador eleito pelo voto direto, e dias depois da sua posse mudou o nome de Desterro para Florianópolis. Nasceu em 1860 tendo falecido em 1924 tendo sido engenheiro político e três vezes governador do Estado de Santa Catarina, para além de ter sido senador e deputado federal.
(Dados históricos extraídos da Wikipedia)
Açores ali tão perto e a mensagem de Lélia Nunes: “Afinal, és da casa!”
Valeu a pena viajar tão longe para conhecer outra realidade de vivência e experiência açoriana que nos fez sentir tão próximos do arquipélago pela forma como esses sinais da presença açoriana são vividos, celebrados e perpetuados. A verdade é que em Florianópolis sentimo-nos como em casa, mais orgulhosos e mais conscientes de que a diáspora açoriana é vasta. Há quem diga que, pela sua posição estratégica e geográfica, os Açores não estão no centro do mundo. Paranós, os Açores estão nos quatro cantos do mundo onde há açorianos e descendentes que se afirmam orgulhosos das suas tradições e que as mantêm bem vivas: desde a Escandinávia ao Hawaii, do Rio Grande do Sul a Kitimat, British Columbia, Canadá, da Nova Inglaterra à Califórnia abrangendo certamente outras zonas do globo com pequenos núcleos de açorianos e seus descendentes.
Já em terras do Tio Sam, recebemos esta nota, por email, da nossa querida colaboradora Lélia Nunes, que muito tem contribuído para o reforço da açorianidade na sua dimensão transatlântica:
“Querido amigo Francisco Resendes! Com imenso carinho te escrevo para dizer da minha alegria por tua presença em Florianópolis, na “Ilha de Cá” como gosto de dizer, durante o nosso Fórum Global do Espírito Santo na sua III Etapa. Como presidente da Academia Catarinense de Letras constituiu um privilégio ver a nossa Casa José Boiteux engalanada para receber os amigos dos Açores, de New Bedford, de San José e de Toronto, sob as bênçãos do Espírito Santo.
Parabéns, pela reportagem na edição do PTIMES… Um grande abraço com a estima da amizade e aqui estamos à tua espera. Afinal, és da casa! Lélia!”
Agradecimentos
Resta-nos agradecer à Secretaria Regional dos Assuntos Parlamentares e Comunidades e à Direção Regional das Comunidades do Governo dos Açores o convite para participar em tão digna e louvável iniciativa e que me permitiu enriquecer e aprofundar este conceito de açorianidade e pela experiência espiritual vivida em Florianópolis. Inesquecível e marcante!
Agradecimentos extensivos a todas as entidades em Florianópolis, Santa Catarina, pela forma como nos receberam e que contribuiram para essa memorável experiência. Valeu, minha gente!




0 Comments