Na próxima sexta-feira, 31 de outubro, é dia de Halloween, data muito tradicional nos Estados Unidos comemorada com festas às quais as pessoas vão fantasiadas de monstros, personagens macabros ou apenas inusitados.
A principal prática do Halloween é as crianças irem de porta em porta pedindo doces às pessoas cantando “Doçura ou travessura” (Trick or Treat) e, segundo o Farmer’s Almanac, todos os anos cerca de 35 milhões de crianças batem à porta dos vizinhos a pedir guloseimas.
O que muitos americanos talvez não saibam é que o Halloween tem origens europeias e na Igreja católica.
A palavra Halloween é inglesa e significa Véspera de Todos os Santos e vem de uma tradição contraída do dia 1 de novembro, o Dia de Todos os Santos, dia do ano católico dedicado à recordação dos mortos, mas cujas origens são pagãs.
No século V DC, na Irlanda Céltica, o verão terminava oficialmente a 31 de outubro, era o Ano Novo Céltico celebrado com o festival Samhain e algumas teorias sustentam que muitas tradições de Halloween foram influenciadas por este festival.
Algumas teorias vão mais longe e sugerem mesmo que o Samhain pode ter sido cristianizado pela Igreja Católica como Dia de Todos os Santos. Seja como for, o Halloween foi celebrado durante séculos na Irlanda e na Escócia, e trazido pelos imigrantes irlandeses e escoceses para os Estados Unidos, onde se tornou uma celebração do horror associada ao macabro e ao sobrenatural.
Vários costumes do Halloween americano espalharam-se por outros países e já chegaram a Portugal. Em Lisboa, Porto e outras cidades, a noite de Halloween é celebrada com grande entusiasmo, vários bares e clubes da capital organizam festas temáticas, onde não faltam decorações aterrorizantes e concursos de fantasias. Há também quem passe a noite de 31 de outubro no Convento de Mafra, onde, dizem alguns, aparecem os espíritos dos trabalhadores que perderam a vida na construção do convento e de um capitão sem cabeça.
Outros acreditam que a alma de Inês de Castro assombra a Quinta das Lágrimas, em Coimbra e diz-se que o seu fantasma é ouvido a chorar nos jardins da quinta onde foi assassinada por ordem de D. Afonso IV, pai de D. Pedro e, diz a lenda, as suas lágrimas deram origem à Fonte das Lágrimas.
A versão histórica mais aceite indica que Inês de Castro foi morta a 1 de janeiro de 1355 no Paço de Santa Clara-a-Velha, mas apesar disso, o misticismo e o imaginário popular consolidaram a lenda da sua alma na Quinta das Lágrimas.
O mais curioso é que as modernas celebrações portuguesas do Halloween se misturam com algumas velhas tradições que resistem.
Em Bragança, mais precisamente na aldeia de Cidões, realiza-se a tradição mais antiga de Portugal. Há várias centenas de anos, os Celtas que habitavam a região realizavam o ritual ao qual chamavam de Festa do Bode e do Demónio, que continua a ser realizada pelos habitantes da aldeia.
Neste ritual é acesa uma enorme fogueira na noite do dia 31 de outubro, onde os habitantes queimam o diabo, a sua esposa e cozinham a cabra, que no fim é servida ao jantar, acompanhado com danças Celtas e música medieval.
Montalegre também tem uma das celebrações de Halloween mais tradicionais de Portugal. A Noite das Bruxas em Montalegre atrai visitantes de todo o país e o evento principal é a chamada Queimada das Bruxas num grande caldeirão em praça pública para afugentar os espíritos malignos.
Em Coimbra, as crianças e os adolescentes vestem-se com fatos assustadores e vão de porta em porta a pedir Bolinhos e Bolinhóis, que são pequenos bolos tradicionais oferecidos durante esta época e a tradição é muito semelhante ao Trick or Treat americano.
O Pão por Deus, que ocorre em todo o país no dia 1 de novembro, é talvez uma das tradições que mais marcam a história do Halloween em Portugal. A tradição tem origem no século XV e foi reforçada pelo grande terramoto de 1 de novembro de 1755, que provocou fome e miséria, e muitas pessoas desfavorecidas passaram a pedir esmolas às portas, clamando por “Pão, por Deus”. A tradição fortaleceu-se nos anos seguintes como um ato de solidariedade e gratidão pelos sobreviventes e chegou aos nossos dias mantida viva através da participação ativa das famílias e escolas.




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