No âmbito dos 40 anos da FLAD, Praia da Vitória acolheu Conferência Internacional “Açores, do Oceano ao Espaço”

by | Sep 24, 2025 | Notícias de Portugal

O papel geopolítico e geoeconómico dos Açores esteve em debate dias 18 e 19 de setembro, na Praia da Vitória, na Conferência Internacional “Açores, do Oceano ao Espaço”, promovida pela Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD), no âmbito da celebração do 40º aniversário da fundação.

Para a Presidente da Câmara Municipal da Praia da Vitória, o evento internacional representou uma oportunidade para refletir sobre as possibilidades e oportunidades para a Região enquanto plataforma atlântica de ciência, inovação, sustentabilidade e segurança.

“Os Açores, por via da presença militar norte-americana na Base das lajes, ganharam, ao longo de décadas, exposição internacional enquanto espaço geoestratégico atlântico. Hoje, fruto das alterações mundiais, a sua vocação enquanto pilar militar no Atlântico espelha novas dimensões e oportunidades, quer geopolíticas quer geoeconómicas, com evidentes benefícios locais, regionais e nacionais. Estas questões estarão em debate neste fórum, que vai decorrer na Academia de Juventude e das Artes da Ilha Terceira”, sublinhou Vânia Ferreira.

A conferência ocorreu integrada nas celebrações do 40º aniversário da FLAD, mas assinala também os 30 anos do Acordo de Cooperação e Defesa entre Portugal e os Estados Unidos da América e os 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial.

Os trabalhos tiveram início dia 18, com a sessão de abertura presidida pelo presidente do Governo dos Açores, José Manuel Bolieiro. A sessão contou ainda com as intervenções da Presidente da Câmara Municipal da Praia da Vitória, Vânia Ferreira, e do Presidente da FLAD, Nuno Morais Sarmento.

A primeira palestra (11h00) da conferência foi protagonizada por Paulo Portas, antigo vice-primeiro ministro de Portugal e antigo ministro dos Negócios Estrangeiros e da Defesa Nacional, que versou sobre “Três Décadas de Diálogo Transatlântico”.

Seguiu-se uma mesa-redonda sobre os “30 anos de Cooperação Luso-Americana”, com Paulo Portas, Rita Rico (cônsul dos EUA em Ponta Delgada) e Jack Martins (senador estadual de New York).

Foi ainda inaugurada a exposição “80 Anos da Base das Lajes”, patente no Foyer do Auditório do Ramo Grande, organizada pela Câmara Municipal da Praia da Vitória, com o apoio do Museu de Angra do Heroísmo, da Biblioteca Pública e Arquivo Regional Luís da Silva Ribeiro e diversos privados, que cederam peças para o espólio expositivo.

De referir também o debate sobre “Diáspora e Literatura: lançamento da coleção Coast to Coast”, com Deolinda Adão (University of California, Berkeley) e a escritora Katherine Vas, e moderação da jornalista Ana Daniela Soares.

O primeiro dia de trabalhos encerrou com a comunicação de Paulo Vizeu Pinheiro, representante permanente de Portugal na NATO, subordinada ao tema “NATO: uma história de sucesso nas relações transatlânticas – um testemunho”.

Na sexta-feira, dia 19, o encontro iniciou-se com as boas-vindas por Michael Baum, Administrador da FLAD, seguindo-se a intervenção de Fernando Alexandre, ministro da Educação, Ciência e Inovação, ao que se seguiu o debate “Atlântico – um Oceano de Conhecimento e Inovação”, com a participação de Ana Martins (Universidade dos Açores), Renato Mendes (CoLAB+Atlantic, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto) e Catarina Garcia (4Oceans, Universidade Nova de Lisboa).

A sessão de encerramento teve intervenções de Nuno Morais Sarmento (Presidente da FLAD), Marcos Perestrello (vice-presidente da Assembleia da República) e José Manuel Bolieiro (presidente do Governo dos Açores).

No mesmo dia, no Auditório do Ramo Grande, aconteceu o concerto “Sinatra na Terceira”, protagonizado pela Orquestra AngraJazz.

Paulo Portas defende que “relação atlântica” dá influência internacional a Portugal

O antigo vice-primeiro ministro Paulo Portas defendeu que é a “relação atlântica” que dá influência internacional a Portugal e evidenciou que “a história e a geografia” não se alteraram, comentando a relação com os Estados Unidos.

“É a relação atlântica e a nossa capacidade de gerar na América Latina, em África e na Ásia relações muito especiais ligadas à nossa língua e à nossa presença histórica que nos dá mais ‘soft power’ na Europa. Sem a categorização dessas relações éramos apenas o PIB [Produto Interno Bruto], a população e a dívida”, afirmou.

Paulo Portas considerou o “mar” como o “elo de ligação do conceito estratégico” de Portugal e recordou a importância histórica da Base das Lajes, na ilha Terceira.

Sobre as relações entre Portugal e os Estados Unidos, Paulo Portas afirmou que as “relações são entre Estados e não entre personalidades”, sinalizando que as “pessoas passam, mas os interesses ficam”.

“Quando tudo muda à nossa volta, e muitas coisas estão a mudar ao mesmo tempo, há duas coisas que não mudam. Uma porque já aconteceu, a outra porque é difícil de remover. Não muda a história, não muda a geografia. E a história e geografia são pilares essenciais da relação entre Portugal e os Estados Unidos e da relevância dos Açores nessa relação”, reforçou.

Na conferência, a nova cônsul dos Estados Unidos em Ponta Delgada salientou a “amizade açor-americana” e a “ligação diária” entre o arquipélago e os EUA, lembrando que militares portugueses e norte-americanos “trabalham lado a lado” na Base das Lajes.

“Estou particularmente entusiasmada com o que o centro espacial em Santa Maria pode trazer para futuras colaborações. São apenas de algumas oportunidades futuras que podemos explorar juntos”, afirmou Rita Rico, que iniciou funções há um mês.

Já o republicano Jack Martins, senador estadual do estado de New York, considerou existir espaço para aprofundar as relações entre os dois países.

“Haverá oportunidades de juntar os dois países cada vez mais. É esse o desafio. Não vejo que haja grandes ameaças”, afirmou o lusodescendente.

Antes, o presidente do Governo dos Açores, José Manuel Bolieiro, defendeu o “aperfeiçoamento” do Acordo de Cooperação e Defesa entre Portugal e os Estados Unidos e alertou o Estado que é “impossível criar condições” de segurança sem respeitar a região.

Por sua vez, Pedro Catarino, representante da República para os Açores, sublinhou a importância estratégica dos Açores nas relações transatlânticas Portugal-EUA.

“Os Açores são um elo importante entre Portugal e os EUA, talvez o mais importante, dado o papel que a região desempenhou historicamente e a sua contribuição para a defesa dos interesses comuns de ambos os países. A isto junta-se a importante diáspora açoriana nos EUA e o seu papel altamente relevante.

Com a sua posição estratégica no meio do Atlântico Norte, a meio caminho entre os EUA e a Europa, a Base das Lajes permitiu uma ação eficaz na Segunda Guerra Mundial na guerra antissubmarino, que neutralizou os ataques altamente destrutivos à navegação transatlântica e contribuiu decisivamente para a vitória dos Aliados.

Foram os Açores, juntamente com Portugal Continental e a Madeira, e o seu posicionamento recíproco num triângulo estratégico na porta de entrada para a Europa e o Mediterrâneo, dominando uma extensa área do Atlântico Norte, que justificaram a adesão fundadora de Portugal à Aliança Atlântica. Considerado um país indispensável para garantir a ligação e a segurança das vias de comunicação marítima e aérea e, posteriormente, das comunicações digitais asseguradas por cabos submarinos entre a América do Norte e a Europa, os Açores constituíram também um valioso ponto de apoio logístico.

Foram os Açores e o valor que a Base Aérea das Lajes representa para os interesses dos EUA que estiveram no cerne da criação da FLAD, cuja ideia nasceu durante as negociações de 1985 para a renovação da concessão existente”, referiu Pedro Catarino.

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