Amanhã, 11 de setembro de 2025, os EUA assinalam o 24º aniversário dos atentados de 11 de setembro de 2001, dia que mudou o mundo e a forma de entender o terrorismo.
Tradicionalmente, o terrorismo era associado a causas nacionalistas como eram o caso da ETA no País Basco ou do IRA na Irlanda do Norte, mas com o 9/11 voltámos às cruzadas, as guerras santas levadas a cabo durante 200 anos pela Europa católica contra os muçulmanos para conquista da Terra Santa e agora são uns quantos radicais islâmicos que travam a sua cruzada (jihad) em nome da religião muçulmana.
Em 2001, além do trabalho no Portuguese Times, eu era redator e apresentador do telejornal do Portuguese Channel, o canal de televisão português de New Bedford e entrava habitualmente cedo para entrevistas ou reportagens, se fosse caso disso.
No dia 11 de setembro de 2001, terça-feira, cheguei pouco antes das 9h00 e, mal entrei, o Hildeberto Cancela, que fazia parte da equipa do telejornal, apareceu dizendo que um avião acabara de embater numa das Twin Towers do complexo empresarial World Trade Center (WTC) na cidade de New York.
Tratava-se do Voo 11 da American Airlines: um Boeing 767 que deixou o Aeroporto de Boston às 07h59 com rota para Los Angeles e uma tripulação de 11 membros e 81 passageiros, dos quais cinco eram terroristas que sequestraram o avião e fizeram-no embater às 08h46 entre os andares 93 e 99 da Torre Norte do WTC.
Comecei a ver, na TV, a Torre Norte coberta de fumaça longe de imaginar o que se estava a passar e lembrei que, em 28 de julho de 1945, um bombardeiro da Força Aérea dos EUA que procurava aterrar no aeroporto LaGuardia embatera no Empire State Building provocando 14 mortos, três no avião e 11 no edifício.
Conjeturava que o acidente do WTC talvez tivesse sido também azelhice trágica do piloto, quando a televisão mostrou a terrível imagem de um segundo avião a embater na Torre Sul do WTC. Trata-se do Voo 175 da American Airlines, um Boeing que partira às 8h14 de Boston com destino a Los Angeles, com nove tripulantes e 56 passageiros, dos quais cinco eram terroristas que às 9h03 fizeram explodir a aeronave entre os andares 77 e 85 da Torre Sul.
Tornou-se evidente que os Estados Unidos estavam a ser atacados por indivíduos suicidas que usavam aviões comerciais como armas.
O voo 77 da American Airlines deixou o Aeroporto Dulles, em Washington, às 08h20 em rota para Los Angeles com uma tripulação de seis elementos e 58 passageiros, incluindo cinco sequestradores que fizeram colidir o avião contra o Pentágono, sede do Departamento da Defesa dos EUA, às 09h37.
Um quarto avião, o Voo 93 da United Airlines, partira do Aeroporto de Newark, New Jersey, com uma tripulação de sete membros e 37 passageiros, incluindo quatro sequestradores, acabou por cair às 10h03 numa área rural de Shanksville, Pennsylvania. Acredita-se que a meta dos sequestradores seria o Capitólio (sede do Congresso dos Estados Unidos) ou a Casa Branca, mas a reação dos passageiros e tripulantes alterou-lhes o plano.
Telefonemas feitos por tripulantes e passageiros dos aviões indicaram que os sequestradores começaram por usar sprays químicos contra a tripulação e usaram facas para matar os pilotos, assumindo eles o controlo das aeronaves.
No voo 93, que já inspirou dois filmes, um passageiro, Daniel Lewin, ex-comando israelita, terá sido esfaqueado no início do ataque e depois os sequestradores levaram os passageiros para a parte de trás do avião e foi quando alguns passageiros, incluindo um campeão de judo de New Jersey, Jeremy Glick, enfrentaram os terroristas tentando assumir o controlo do avião, que acabou por se despenhar.
À hora em que passageiros e tripulantes do Boeing da United Airlines enfrentavam os terroristas, os olhos de todo o mundo fixavam-se atónitos no colapso das torres gémeas de 110 andares do WTC.
A Torre Sul colapsou primeiro às 9h59, aproximadamente 56 minutos após ter sido atingida e embora tenha sido a segunda a ser atingida, colapsou antes da Torre Norte devido ao impacto ter ocorrido num piso inferior, em ângulo e descentrado, o que causou mais danos estruturais e colocou um maior peso de pisos acima da zona de impacto.
A Torre Norte ruiu às 10h28 após uma hora e 42 minutos de incêndio. Além das torres, ruiram outros 23 prédios nas proximidades.
Ataques e desmoronamentos mataram 2.996 pessoas: 2.606 pessoas na cidade de New York e 125 no Pentágono, das quais 55 eram militares, 265 pessoas que seguiam nos quatro aviões, incluindo os 19 terroristas. Dos mortos, 1.653 já foram identificados e os restantes permanecem por identificar, mas as autoridades forenses novaiorquinas continuam fazendo testes de DNA nos restos mortais retirados dos escombros e a semana passada anunciaram ter identificado Barbara Keating, 72 anos, de Palm Spring, Calif., que estivera de visita a familiares em Massachusetts e regressava a casa; Ryan Fitzgerald, 26 anos, de Floral Park, NY, que trabalhava para uma firma do WTC, e uma mulher cuja identidade a família não quis divulgar.
Apurou-se entretanto que 80% das vítimas eram homens oriundos de mais de 90 países e pelo menos nove eram portugueses ou lusodescendentes, três nascidos em Portugal, um em Moçambique, cinco luso-americanos e três são considerados heróis do 9/11.
João Alberto da Fonseca Aguiar Jr., 30 anos, nascido a 13 de fevereiro de 1971 em Red Bank, New Jersey, mas criado em Carcavelos, Portugal (os pais, João e Diane Aguiar, residem presentemente em Sintra). João Aguiar regressou aos EUA já adulto e trabalhava desde 1999 na empresa de corretagem Keefe, Bruyette & Woods, no 86º andar da Torre Sul.
Quando se deu o primeiro embate, João telefonou à namorada e ele e os colegas desceram de elevador até ao 78º andar, onde tinham que apanhar outros elevadores para o lobby de saída da torre. O grupo de Aguiar conseguiu entrar neste segundo elevador e sair do edifício, mas ele decidiu parar no 60º andar para ajudar o pessoal do Fuji Bank, onde já tinha trabalhado e foi nessa altura que o segundo avião embateu na Torre Sul.
João Aguiar, cujo corpo nunca foi encontrado, é um dos heróis do 9/11 que figuram no livro ‘The Hidden Brain’, de Shankar Vedantam, sobre os atos de heroísmo verificados durante os ataques.
Carlos S. da Costa, 41 anos, natural de Canas de Senhorim, distrito de Viseu, tinha dez anos quando veio com os pais, Silvério e Ilda Costa, e a irmã, Celeste Matias, para Elizabeth, New Jersey. Era engenheiro eletrónico e assistente do diretor-geral dos Building Services for the Port Authority of New York and New Jersey, e o seu escritório era no 88º andar da Torre Norte, para onde de vez em quando levava pastéis de nata comprados nas pastelarias portuguesas de Newark ou Elizabeth, onde residia.
Carlos da Costa e os colegas estavam a beber café quando o avião embateu na Torre Norte às 8h46. Apesar de ter tido a oportunidade de sair em segurança, Costa e três colegas (Frank De Martini, Pablo Ortiz e Peter Negron) ajudaram a desentulhar a entrada para uma das escadarias e depois subiram ao 89º andar e mandaram abaixo uma parede para libertar 50 pessoas que estavam presas. O grupo foi visto a descer as escadas e tentar ajudar pessoas retidas dentro dos elevadores parados, mas acabaram por morrer todos quando a Torre Norte ruiu.
Carlos S. da Costa é lembrado no primeiro episódio da mini-série documental do canal de televisão National Geographic “9/11: Um Dia na América”, que mostra os inúmeros atos de bravura que aconteceram e a resiliência dos que sobreviveram, muitos graças ao sacrifício de outros.
António José Carrusca Rodrigues, 36 anos, natural de Moçambique, veio adolescente para os EUA. Formou-se em engenharia aeronáutica, mas preferiu ser polícia da Port Authority of New York and New Jersey, onde era conhecido pela alcunha de Shorty por causa do seu metro e 90 de altura.
Naquela manhã, Rodrigues estava de serviço no terminal de autocarros da Port Authority na Rua 42, mas ele e 13 colegas receberam ordens para irem ajudar na evacuação da Torre Sul. Rodrigues tinha acabado de chegar, disseram-lhe para ir às caves buscar máscaras e garrafas de oxigénio e, quando desceu, a torre desmoronou.
Apenas dois agentes da Port Authority foram retirados vivos dos escombros e o filme ‘World Trade Center’ (2006), de Oliver Stone, narra o salvamento desses homens: o sargento John McLoughlin (Nicolas Cage) e o guarda Will Jimeno (Michael Pena). António Rodrigues também é personagem do filme, interpretada por Armando Riesco.
O corpo de Rodrigues foi encontrado entre os escombros um mês depois e foi sepultado no Cemitério Knolls, perto da sua casa em Port Washington, NY. Além da esposa, Cristina Rodrigues, deixou uma filha e um filho, Sara e Adam, que tinham sete e quatro anos quando o pai morreu.
Outros portugueses e lusodescendentes que tiveram o azar de estar no WTC foram:
Dennis James Gomes, 40 anos, vivia em Queens e era executivo da Fiduciary Trust. Tinha casado um ano antes e acabara de ser pai, mas não veria crescer a filha.
Mark Steven Jardim, 39 anos, trabalhava na Zurich Sendder Investments e deixou viúva Jennifer Jardim. Foi criado em Cheshire, New Jersey, fez parte da equipa de corta-mato do high school e há mais de dez anos que os seus amigos organizam uma corrida anual de cinco quilómetros em memória de Mark Jardim no Parque Cheshire e que este ano terá lugar dia 9 de outubro.
Raymond James Rocha nasceu e foi criado em Melrose, Massachusetts, e tinha 29 anos. Formou-se na Universidade Brown em 1995, trabalhara na Dean Witter, empresa de investimentos de Boston e mudara-se apenas há um mês para New York e começara a trabalhar na Cantor Fitzgerald, com escritórios nos andares 101, 102, 103, 104 e 105 da Torre Norte, onde trabalhavam 960 pessoas e das quais morreram 658.
António Augusto Rocha, 34 anos, nasceu em Seia, Portugal, e mudou-se em 1970 para New York, com os pais, Augusto Nunes e Rosa Correia Rocha, e um irmão, Jason. Vivia em East Hanover, New Jersey, era casado com Marilyn, tinha uma filha de três anos, Alyssa Marie, e um filho de seis meses, Ethan Agustus. Trabalhara como corretor de títulos na Garban Securities, no 55º andar da Torre Norte e tinha começado a trabalhar em junho na Cantor Fitzgerald Securities, no 105º andar. Naquela manhã, às 8h49, António Rocha acordou a mulher com um telefonema, disse que havia muito fumo e que ia tentar sair dali, mas nessa altura Marylin Rocha deixou de o ouvir.
Manuel João da Mota, 43 anos, natural de Vila Nova de Gaia, cresceu em Angola e quando tinha 21 anos imigrou para New York. Não trabalhava no WTC, mas era capataz da empresa de construção Bronx Builders e tinha acabado de chegar ao famoso restaurante Windows of the World, nos 106º e 107º andares da Torre Norte, que pretendia fazer obras, quando o primeiro avião embateu oito andares abaixo. Mota deixou um filho, Christopher, de 10 anos, e a esposa, Bárbara, grávida de quatro meses de um menino que viria a chamar-se Manuel da Mota Jr.
Christopher Douglas Mello, 25 anos, de Boston, viajava no avião da American Airlines que embateu na Torre Norte. Nasceu a 22 de junho de 1976 em Greenwich, Connecticut, filho de Douglas e Ellen Mello. Era analista financeiro na Alta Communications, trabalhando para várias estações de rádio e televisão da área de Boston. Mas Christopher era também poeta e cartoonista, gostava de fazer desenhos animados e a sua viagem a Los Angeles poderia ser o início da sua carreira cinematográfica.
Mais de 3.000 pessoas compareceram no funeral de Christopher Mello, que tem sido alvo de várias homenagens. Um prémio com o nome de Mello é atribuído anualmente a membros da equipa de futebol americano da Rye High School de que ele fez parte, e o banquete anual Golden Dozen de Westchester criou uma bolsa de estudo em nome de Mello. O ginásio do Rye YMCA recebeu o nome de Christopher D. Mello Fitness Center e organiza anualmente o Christopher D. Mello Memorial Annual Golf Outing que angaria fundos para crianças carenciadas de pais solteiros.



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