Ser romeiro nos Açores de mil ilhas

 

Era uma vez, numas ilhas quase perdidas no meio de um oceano e banhadas pelas naus e caravelas portuguesas, onde vulcões e terramotos davam as boas vindas, desafiando os novos habitantes a ter maior resistência que a rocha com o bater das ondas atlânticas. Nestas ilhas, mulheres e homens lutaram pela sobrevivência com uma força maior, a força da Fé Católica, uma dedicação sagrada entre os humanos destas ilhas. Desta fé nasceria uma tradição que atravessaria os séculos até aos dias de amanhã - chamam-lhes as romarias.

As romarias surgiram, desenvolveram e mantiveram-se na ilha de São Miguel. É uma fé que está entranhada no ser micaelense como lapa na rocha e teve o seu grande desafio e prova de fé, para milhares de açorianos, com a emigração para o novo mundo das américas e tantos outros países. O ser açoriano tem, na fé católica, um dos seus mais fortes hábitos e caminho para a esperança e, neste sentido, não será com muito espanto que podemos assistir às romarias em território americano e canadiano.
O Homem tem a necessidade de se ligar à terra e às tradições, em especial quando dela parte à procura de nova vida. A Romaria, como ato de fé indispensável para muitos micaelenses, tornou-se numa necessidade pelos açorianos da nossa Diáspora e, desta carência, viram-se impelidos a, uma vez por ano, ter a possibilidade de se juntar em fé e percorrer os caminhos da América do Norte em romaria. Poderíamos pensar que as romarias tornar-se-iam internacionais, percorrendo caminhos nunca antes caminhados, mas afinal continuam, nas suas diferenças, as mesmas, com a fé do Homem açoriano a mostrar aos novos mundos americanos que ser açoriano não é uma questão geográfica mas, neste caso, uma questão de fé e tradição, pois se a promessa inicia, muita vezes, uma romaria na ilha maior dos Açores, também nas Mil Ilhas açorianas das nossas comunidades, estas promessas existem, são cumpridas e renovadas.
As romarias estão em território da nossa Diáspora e já embarcam em outros voos. A par das diferenças formais entre as romarias praticadas na ilha de São Miguel e das nossas comunidades, já vemos os filhos e netos, nascidos na Diáspora, a caminhar ao lado de seu pai e avó. A fé está assegurada pelos emigrantes, pelos filhos e netos, mas também por homens e mulheres de outros países, fruto das alianças entre os açorianos com pessoas de outras paragens deste mundo católico.
Um abraço aos nossos romeiros dos Açores de Mil Ilhas, estejam eles na costa leste dos EUA ou no imenso território canadiano, mas também aos da Bermuda que partem de ilha para ilha para continuar esta fé, esta tradição, esta maneira de ser açoriano.

 

• Rui Faria