Ainda as altas tarifas da SATA: Imprensa açoriana dá eco e Azores Airlines responde ao artigo publicado no PT

 

Na última edição deste semanário, abordámos uma questão que consideramos importante para a comunidade portuguesa e lusodescendente e para a terra de origem, que é a de manter uma ligação real e física com a terra de origem. Falámos da SATA e das tarifas elevadas praticadas durante a época de verão (julho e agosto). 
Voltamos novamente “à carga”, sobre este assunto, uma vez que as reações a esse artigo publicado no Portuguese Times foram inúmeras, de tal forma que excederam as nossas expetativas e até mesmo a comunicação social dos Açores deu eco às preocupações dos açorianos radicados nesta região da Nova Inglaterra no que se refere aos preços exorbitantes praticados pela SATA na sua operação entre Boston e os Açores. Efetivamente, RTP-Açores e RDP-Açores emitiram peças com entrevistas ao autor destas linhas, o mesmo podendo dizer-se em relação aos jornais Diário dos Açores, de Ponta Delgada (com quem PT mantém uma frutuosa parceria de há quase dez anos) e Diário Insular, de Angra do Heroísmo. E ainda bem que se registou este “feedback”, porque esta questão é transversal aos dois lados do Atlântico.  Muitos açorianos visitam os seus familiares nesta região utilizando a operação para Boston e milhares de açorianos aqui radicados vão matar saudades à terra de origem.
Não vamos aqui repetir o que foi dito na última edição, mas há aspetos que merecem relevância, como por exemplo o facto de a SATA ser uma companhia pública (ainda não privada), cujo maior acionista é o Governo Regional dos Açores, e nessa perspetiva tem certos deveres e responsabilidades para com os cidadãos açorianos de lá e de cá. Ou seja, quando ouvimos e lemos frequentemente dizer que “os açorianos da América do Norte constituem a nossa décima ilha e que muito têm contribuído para o desenvolvimento, a todos os níveis, do nosso arquipélago” num apelo ao reforço dessa ligação e à tão falada mobilidade e incentivando e motivando a nova geração já aqui nascida a visitar a terra de origem é preciso passar das palavras à ação.  Meus amigos, não é com tarifas como aquelas que se praticam atualmente na única companhia que garante essa ligação direta entre Boston e os Açores que se cumpre esse objetivo da tal mobilidade transatlântica. Quem perde? Todos nós: a SATA, os Açores e a diáspora.
Outra questão: ao constatarmos que o preço das tarifas na operação New York (JFK) e os Açores são um terço do custo da operação em Boston, sabendo-se que não há açorianos em New York (ou pelo menos uma comunidade organizada) que mensagem estamos a dar aos açorianos da Nova Inglaterra? Que o apetecível mercado turístico de New York (superior a 15 milhões) é prioritário, em detrimento do mercado da saudade da Nova Inglaterra, sim este que tem sustentado ao longo dos anos a nossa companhia aérea e muito tem contribuído para o desenvolvimento dos Açores?
Descobrimos também que, tomando como exemplo, numa viagem de 14 a 21 de julho, Boston-Terceira, voo das 21h15, com paragem em Ponta Delgada, ida e volta o preço ronda $2.551.75 e no mesmo dia, um outro voo operado pela Azores Airlines mas utilizando um avião Airbus A330, da companhia espanhola Plus Ultra Líneas Aereas, com saída de Boston pelas 14h15, chegada à Terceira às 23h20 e depois no regresso a Boston, saída das Lajes às 10h14 e chegada a Boston pelo meio-dia, tarifa básica, custa $794.65. Estes são os preços registados na passada sexta-feira. Entretanto, para o leitor menos esclarecido, informamos que a tabela de preços em qualquer companhia aérea do mundo muda constantemente, como mudo de camisa. Depende da disponibilidade ou não de lugares. Um exemplo? A tarifa de $2.731 anunciada segunda-feira da semana passada entre Boston e Terceira (12 a 19 de julho) baixou para $2.277 (ainda é muito caro) pelo menos na altura em que elaborávamos este artigo. 
Portuguese Times ouviu depoimentos de vários leitores, quer através da sua edição impressa e on-line e ainda na sua página da rede social Facebook. Foram centenas de reações e partilhas, sem exagero, todas elas em concordância com o seu conteúdo, ou seja, como nota dominante de tratar-se de falta de respeito para com os açorianos desta região”.
Jorge Morais, diretor geral da WJFD, na sua intervenção ao programa “Palavra aos Diretores”, da RTP Internacional, afirmou: “A comunidade está descontente com as tarifas praticadas pela SATA na época de verão. Isto é uma loucura, expliquem-me lá como é que um agregado familiar, de quatro ou mais pessoas  pode pagar 8 mil e mais dólares para ir aos Açores”?
Por sua vez, Humberto Soares, outro açoriano da ilha de São Miguel, radicado em Las Vegas, Nevada, e que visita com frequência os Açores, afirmou: “O melhor talvez é deixarmos de viajar pela SATA e procurar outras alternativas e outros destinos. Isto é uma vergonha!”
Ana Chitas, açoriana natural de São Miguel, proprietária de um restaurante em New Bedford, em total concordância com o artigo publicado no PT, afirmou: “Isto é incrível, é explorar o açoriano que quer matar saudades da sua terra e vê-se impedido de lá ir!”
Tony Soares, outro conhecido empresário de Dartmouth e também ligado à restauração e que se desloca com frequência aos Açores utilizando os serviços da SATA, afirmou: “Com estes elevados preços vou ter que reduzir as minhas visitas e talvez vender tudo o que lá tenho, porque torna-se demasiadamente dispendioso e não quero ser mais um a pagar o buraco”.
Alda Freitas, de New Bedford, natural da ilha de Santa Maria e que viaja em julho para a terra natal, disse: “Falando ainda com outros passageiros, verificamos que ao comprarem, durante o mês de novembro do ano transato, os bilhetes para os Açores, por vezes, com paragens em Lisboa, para a época alta, neste caso julho de 2023, o custo da passagem aérea rondava os $1200.00. Ou seja, metade do preço do que custa presentemente a deslocação de uma pessoa para os Açores, durante os meses de verão”.  
Segundo alguns utilizadores habituais da companhia aérea açoriana, esta é talvez a melhor forma de desencorajar o mercado da saudade, tendo muitos manifestado o seu desagrado e mudado de ideias em relação às próximas férias, conseguindo tarifas mais baratas para outros destinos.”
Dionísio Garcia, conhecido músico da comunidade e locutor radiofónico da WJFD, também mostrou-se indignado com a situação: “Estava a pensar levar a família em agosto/setembro e sinceramente acho que vou cancelar o projeto que tinha em mente porque com metade desse dinheiro vou passar férias noutro aprazível lugar aqui nos EUA ou nas Caraíbas”.
Jaime Silva, natural da ilha do Faial, a residir há largos anos em Massachusetts (Arlington), antigo presidente do Clube Desportivo Faialense, reagiu nas redes sociais ao “post” do PT: “Infelizmente agora não temos voos charters como antigamente e cujos preços eram muito mais em conta”.
As reações vieram de todos os quadrantes, e de Toronto, Canadá, Luís Azevedo, que viaja com frequência para sua terra natal, a ilha Terceira, também se manifestou descontente com as altas tarifas da SATA, tendo afirmado: “Se continuarem a explorar a saudade desta geração aposto que a próxima geração, incluindo os meus filhos, não vão lá ir e optarão por outros destinos”.
De Ponta Delgada, também surgiram reações. Rui Torres, antigo controlador de tráfego aéreo, afirmou: “Numa futura deslocação de governantes ou de dirigentes da SATA aconselho a não comparecerem ou pelo menos manifestem o seu descontentamento”.
José Manuel Furtado, que reparte a residência entre os Açores e Massachusetts, respondeu desta forma ao artigo publicado no PT: “Vamos todos mostrar a nossa indignação perante tamanhos disparates nos preços das tarifas… O Governo Regional dos Açores tem obrigação de fazer chegar ao conselho de administração da SATA o que são verdadeiramente os interesses para a região autónoma dos Açores e consequentemente a grande importância que o mercado da saudade representa para toda a economia açoriana…”
Diniz Borges, professor universitário na Califórnia, e colaborador assíduo da imprensa lusa da diáspora e dos Açores, sublinhou: “O turismo da diáspora é o melhor, porque não é turismo, mas sim romarias de saudade para os imigrantes e viagens de descoberta e redescoberta para os açor-descendentes e a comunicação social da diáspora deve toda ela debruçar-se sobre este problema que afeta todos: os de lá e de cá”.
Marco Fernandes, vice-presidente da Sagres Vacations, de Fall River, refere que “os preços atuais das passagens aéreas de Boston para os Açores são simplesmente ridículos e demonstram um desconhecimento da indústria verificando-se já um impacto negativo nas reservas de viagens para o arquipélago. Na maioria dos casos as tarifas de Boston para os Açores são mais caras do que de Boston para Londres ou Roma, nas mesmas datas. Não me parece que haja uma razão sensata para estes preços extremamente elevados. A decisão de duplicar e nalguns casos de triplicar o preço praticado no mercado de Boston ameaça prejudicar seriamente o trabalho árduo que a Azores Airlines e o Turismo dos Açores têm feito para promover e comercializar o destino Açores nos EUA. Posso testemunhar que as pessoas ligam para viajar, mas a estes preços estão a desistir dos Açores”.
Por fim, referir que, segundo fonte ligada à SATA nesta região, a aquisição dos novos aviões Airbus A321 NEO (a SATA foi a primeira companhia no mundo a estrear este tipo de avião) fez parte de um plano ainda no tempo da anterior administração, com vista a reduzir os custos da operação transatlântica, uma vez que se trata de aviões mais pequenos, com uma tripulação consideravelmente mais reduzida e muito mais económicos no gasto de combustível permitindo assim reduzir os custos das tarifas. Contudo, o que se regista agora é um aumento brutal das tarifas.
Entretanto, o Conselho das Comunidades Portuguesas e o Conselho da Diáspora Açoriana reagiram a esta notícia com notas de repúdio pelas altas tarifas praticadas pela SATA na rota de Boston. 
(Ler notas na página seguinte)
Azores Airlines responde ao PT
Entretanto, era imperativo e dentro das regras da ética um contacto com o Departamento Comercial da SATA, para esclarecimento. Eis a nota recebida:
“Os preços aplicados nas rotas entre os EUA e os Açores, assim como das restantes rotas da Azores Airlines, variam de acordo com a lei da procura e oferta e ocupação média dos voos.
Em períodos de maior procura (como é um bom exemplo, o mês de agosto), os preços tendem a aumentar, comparativamente a outros períodos de menor procura.
No entanto, havendo mais oferta também aumentam as probabilidades de encontrar preços mais competitivos, em determinados dias, mesmo nos meses de verão. Por isso, não podemos tomar como exemplo, o preço mais alto encontrado, num determinado dia de agosto, pois dificilmente representaria a oferta global disponível.
Tendo em conta o modelo tarifário dinâmico, atualmente em vigor, e a disponibilidade à data, os preços poderão oscilar entre os 798USD e os 2 725USD, para viagem de ida e volta, com taxas já incluídas, na brand Basic, ao longo destes dois meses. Com uma breve auscultação ao metasearcher (Google), verificamos que o preço praticado pela Azores Airlines, em agosto, consegue ser inferior ao preço praticado por outros concorrentes com produto menos apelativo para o passageiro (voos com escala). ( Abaixo se envia abaixo um exemplo ilustrativo, para melhor compreensão).
Ao longo do ano, temos desenvolvido diversas campanhas promocionais com vista a permitir que o fluxo de tráfego se reparta de forma menos concentrada, o que é benéfico para o destino e para a companhia aérea e para todos os que preferem descobrir os Açores, fora de época alta.  Podem ser encontrados preços muito interessantes, desde os 586USD, para viagem de ida e volta, com taxas já incluídas, na brand Basic, naturalmente, fora dos picos de procura.  
O mercado da América do Norte continua a ser muito importante para a Azores Airlines. Têm sido feitos diversos investimentos e melhoramentos com vista a prestar um serviço de melhor qualidade em toda a rede. Estamos a colher o reconhecimento deste trabalho e tencionamos continuar a trilhar este caminho de melhoria progressiva. Compreendemos as expetativas dos nossos passageiros, em particular, dos que procuram regressar aos Açores em época de verão.  À companhia aérea cumpre encontrar um ponto de equilíbrio entre a expetativa do cliente, o melhor serviço ao melhor preço possível, sem nunca esquecer a necessidade de garantir a sustentabilidade da operação aérea, cuja regularidade se pretende manter ao longo de todo o ano”.