Sombras de regresso à ilha Terceira

 

Único espetáculo a 15 de julho no Green Café, Angra do Heroísmo


“Não é possível recordar nem 
compreender a Praia da Vitória dos anos 60 e 70 sem falar dos Sombras”

(- Livro Sombras - Antologia Musical
de Eduardo Ferraz da Rosa, 2007)

 

Os Sombras, esse famoso grupo dos anos 60 e 70 nos Açores, e que ainda atua esporadicamente pelas comunidades da diáspora, está de volta à ilha Terceira, seis anos depois da última atuação na ilha Lilás (Abril de 2017 no Clube Musical Angrense por ocasião de uma festa da Marcha dos Veteranos), para uma atuação a 15 de julho no Green Café, em Angra do Heroísmo, num concerto que está a ser aguardado com alguma expetativa em especial por aqueles que acompanharam o percurso desta banda de rock e que tanto sucesso fez pela ilha Terceira e pelos Açores em geral, numa altura em que proliferavam outras bandas como Os Bárbaros, Flama Combo, Académicos, Asas do Ritmo e muitos outros.
Tudo começou em 1966 e citando um artigo de Teresa Ribeiro, com o título de “Nem por sombras acabados...”, a autora refere que “em 1966 não havia walkmen, nem video, nem, obviamente, video-clips, nem sequer TV... Por cá (Terceira), a lua, orgulhosamente de si, quando surgia trazia a noite. E projetava sombras...”
No livro de Eduardo Ferra da Rosa, pode ler-se como tudo começou em 1965-66: “As primeiras atuações tiveram lugar na envolvência de atividades associativas e artísticas de juventude, nomeadamente no Agrupamento 111 do CNE e na proximidade com os trabalhos dos grupos “Aerojazz” e “Os Corvos”, que habitualmente ensaiavam no cinema “Azória” e junto dos quais Ilídio Gomes, Carlos Madureira e José Elmiro tiveram as suas iniciais e iniciáticas experimentações instrumentais e de atuação em conjunto... Ora todo este situado movimento, que muito atraía e influenciava aqueles jovens, ocorria num ambiente marcado desde há duas décadas atrás, pela forte presença norte-americana”, pode ler-se no referido livro Sombras - Antologia Musical.
Mais tarde juntaram-se ao grupo os irmãos Jorge e Kiko Figueiredo, e Os Sombras, durante vários anos tiveram esta formação: Roberto Bettencourt (guitarra e voz), Carlos Madureira (bateria e voz), Ilídio Gomes (guitarra), Kiko Figueiredo (baixo e voz) e Jorge Figueiredo (teclados).
O repertório dos Sombras mantém praticamente igual ao daquelas épocas: Beatles, Bee Gees, Credence Clearwater Revival, Rolling Stones, Procol Harum e outros famosos grupos de pop-rock daquela época.
Ainda no referido artigo de Teresa Ribeiro pode ler-se o seguinte:
“A Praia da Vitória e Angra do Heroísmo e todas as fregueias de premeio, renderam-se aos encantos de “Os Sombras”. A própria Base Americana das Lajes começou a convidá-los para atuarem nos seus clubes militares. E eles lá iam. Mesmo quando as dificuldades, por vezes, eram imensas... No começo tocavam com os microfones e todos os instrumentos ligados a um só amplificador que o sr. Ezequiel, pai de Roberto, mandara vir, de propósito, da América. A Teresa e o Luís, dois dos oito irmãozinhos de Roberto -, o Jorge e outros miúdos da vizinhança, engraçaram com o sucesso dos mais velhos. De tal modo que começaram, também, a “arranhar” qualquer coisinha. E, assim, de um dia para o outro, surgiram mesmo os “Mini-Sombras”. Se se portavam bem, os grandes deixavam-nos abrir os espetáculos... E o público, de todas as idades, acorria, quase sempre, em grande número”, pode ler-se no artigo para Ribeiro acrescentar:
“Os Sombras tiveram, infelizmente, vida curta. Em 1969 e 1970, foram, um a um, chamados para a tropa. Ilídio viu os companheiros seguirem um rumo que de certo só tinha o facto de os afastar da música e do sonho que tão bem tinha começado a concretizar... Um a um percorreram o caminho de muitos conterrâneos, emigrando para terras da América e do Canadá. Mantiveram, todavia, o contacto, percebendo, muito a sério, que a amizade, que um dia começara por brincadeira, jamais terminaria”.
O regresso aos Açores e à ilha Terceira em particular aconteceu por diversas vezes, a última das quais em 2017, no âmbito de uma festa da Marcha dos Veteranos e que teve por palco o Clube Musical Angrense, em Angra do Heroísmo.
Em 2016 a tragédia atingiu o grupo. Morre o teclista Jorge Figueiredo deixando de luto não apenas a família, em especial o irmão Kiko, a residir atualmente no Canadá, como obviamente todo o grupo e muitos amigos e fãs de Os Sombras.
Mas nem por isso a banda deixou de atuar. Pouco tempo depois, Francisco Resendes, ex-teclista da extinta banda Lovestreet, de New Bedford, MA (e atual diretor do semanário Portuguese Times) adere ao grupo e daí para cá Os Sombras têm atuado em Mississauga, Canadá (duas digressões), San José, Califórnia (3 digressões), Lowell, Dartmouth e New Bedford, Massachusetts, sempre com assinalável sucesso.
Muito haveria a dizer sobre o percurso bem sucedido dos Sombras, um grupo que deixou bem vincada a sua passagem nos Açores. De referir que receberam homenagens da Junta de Freguesia de Santa Cruz e da Câmara Municipal da Praia da Vitória, que atribuiu o nome do Passeio dos Sombras a um trilho junto à praia.
Sobre o futuro, o baterista Carlos Madureira afirma: 
“Queremos continuar a atuar, até que a voz nos doa e a saúde o permitir”. Estão recetivos a convites para atuações na diáspora e nos Açores. Aliás esta atuação a 15 de julho no Green Café, despertou o interesse de outras localidades na ilha e ainda nas ilhas Pico e Faial. Contudo, por afazeres profissionais, não poderão satisfazer os pedidos. 
Fica para uma próxima digressão.


- F.R.